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Carnavalize


 
O jornalista e escritor, João Gustavo Melo lança seu novo livro “Carnaval e Boi-bumbá: entrecruzamentos alegóricos”, publicado pelo Selo Carnavalize. Com imagens do fotógrafo carioca Wigder Frota, o livro mostra como ao longo das últimas décadas o trânsito entre os profissionais do Festival Folclórico de Parintins nos barracões das escolas de samba tornou-se cada vez mais notável.
 
Em seis capítulos, o livro aborda a participação de artistas oriundos da cidade de Parintins nos desfiles cariocas, marcando uma série de transformações estéticas nas escolas de samba e registrando um movimento de fluxo e refluxo de influências nessas duas formas de festejo: carnaval e boi-bumbá. Embora distantes geograficamente, Rio de Janeiro e Parintins (carnaval e boi-bumbá) apresentam pontos de contato fundamentais na utilização das alegorias como recursos narrativos, visuais e estéticos de suas apresentações.

“A presença de alegorias cada vez mais suntuosas no carnaval carioca, especialmente nos últimos anos, tornou-se um caminho sem retorno no processo de espetacularização dos desfiles. Não por acaso, as escolas de samba foram incorporando, em sua multiplicidade de referências artísticas, os carros alegóricos como potentes formas expressivas”, diz o pesquisador João Gustavo Melo.

Os anos de 1990 marcam um período de intensa divulgação e espetacularização dos bumbás. Em um dos capítulos, o livro aborda um dos marcos entre Carnaval e Boi-bumbá: o desfile dos Acadêmicos Salgueiro no Carnaval de 1998, com o enredo “Parintins, a Ilha do Boi-Bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido”. 

O autor acompanhou o processo de construção de duas alegorias: uma da Unidos de Vila Isabel, para o carnaval de 2019, e a do ritual indígena do boi-bumbá Caprichoso, em 2019, intitulada “Favorável Sentença”. “Ao estar pela primeira vez em Parintins, percebi finalmente que os veículos de massa e de mediação não dão conta da experiência do espetáculo in loco dos bumbás. Estar lá me fez enxergar o sentido da vida para os parintinenses: esperar junho chegar”, diz João Gustavo Melo. 
 
O livro “Carnaval e Boi-bumbá: entrecruzamentos alegóricos” é a 11ª publicação do Selo Carnavalize, que vem se dedicando a produzir uma bibliografia sobre o carnaval e escolas de sambas.  O lançamento é fruto de uma campanha de financiamento coletivo com vários pacotes de recompensa, a partir de 10 reais.

Adquira o seu na nossa lojinha.


 

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Introdução e Justificativa


Historicamente, o Império da Tijuca apresenta relevantes enredos que buscaram inspiração na cultura afro-brasileira. Como forma de afirmação dos saberes negros, contra o racismo e a intolerância religiosa, sempre se faz necessário afirmar os conhecimentos e as artes que envolvem as religiões de matrizes africanas. 

Para 2023, unimos essa poderosa narrativa ao olhar precioso de quem soube reconhecer e se inspirar em um elemento tão potente e enriquecedor, imbuído da força primordial, transformadora e criativa: o Axé. 

Para a tradição nagô-iorubá, o Axé é a energia vital que está presente no universo desde sua criação. Rodeia, portanto, a humanidade, seus divinos e as substâncias naturais da Terra. Abarca desde a pequena folha de uma grama até a pele do atabaque a rufar. 

Também é força do encontro. O Axé se porta como o ritmo que embala a ginga do corpo e preenche o significado da vida. Magia contagiante. É fé, presente nos candomblés e umbandas, dos xirês até os mais singelos amuletos. 

De tão vigoroso e presente na nossa cultura, o Axé não passaria despercebido aos olhos curiosos e atentos de quem sabe se encantar com a beleza e a poesia da vida. Foi assim que Héctor Julio Páride Bernabó, originalmente argentino, logo se tornou baiano, deslumbrado pela energia criadora e a potência afro-brasileira. 

O Axé, que já era arte, ganhou nova visão através deste grande pensador da imagem. Seu fascínio com as cores, os cheiros e os temperos da Bahia se derramaram em telas, aquarelas, painéis e gravuras. Imagens que eternizaram o jeito que só essa terra tem. Ao lado de Amado, Verger e Caymmi, foi um dos principais responsáveis pela construção da “baianidade” e por registrar o Axé em sublimes manifestações.

Com maestria, pintou e esculpiu o cotidiano do nosso povo. Dentre ritos e celebrações do terreiro, festas e aglomerações das ruas, vários momentos repletos de energia ganharam contorno nas obras do artista. Traçou o Axé das vestimentas, dos animais e dos instrumentos dos orixás, além de seus itans e lendas. Tornou-se ogã e Obá, cabeça feita no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá pela babalorixá Mãe Senhora.  

Munido da mais plena energia, nosso enredo se manifesta através das obras de Carybé: filho de Oxóssi, Obá de Xangô e cronista do povo.

Sinopse


Tela em branco na imensidão de Olodumarê, tal qual o mundo a ser criado. O primeiro risco do artista é caminho aberto de Axé, onde linhas se encontram feito uma encruzilhada entre a tinta e o papel. O movimento comanda o pincel como energia criadora, que traça os rumos da vida ao preenchê-la de cor. 

Do universo funfum, a nossa aquarela. Dos vários matizes, a energia vital. Eis o Axé.

A princípio, ele desponta em forma de natureza, ocupando as lacunas e se ramificando em galhos frondosos. Afinal, sem folha não há orixá. 

Na beleza do mundo, feito mata verdejante de Oxóssi, o Axé se alastra. Flutua no vento alaranjado guiado por Iansã, ilumina o céu como o fogo do trovão de Xangô. Escorre no papel em dourado doce, repousando sereno nas águas de Oxum. Deita-se salgado na imensidão azul de Yemanjá. 

Os orixás, em seus tons, matizes, animais e instrumentos, ganham forma no rabisco de um Obá, reconhecedor do Axé que pulsa nas cenas de sua arte.

Transcendendo a natureza talhada em madeira, a energia percorre outros cenários. Com traços fortes, o pintor risca o chão do terreiro. Lugar de troca e assentamento. 

Ogãs tocam na textura de couro dos atabaques, enquanto fundamentos são evocados para a entrega de oferendas. Reúnem-se em roda, convocam a força essencial, plantam Axé. Fazem dele o ímpeto e a vitalidade para os barracões que resistem.

O batuque dos terreiros se expande derramado pelas ladeiras e o padê abre os caminhos. Nas ruas, pingos de tinta e de gente desenham a paisagem das celebrações que ornamentam a Bahia das obras do Obá. 

Festas que não existem sem fé. Axé que desconhece a vida sem festa. As celebrações populares têm suas heranças ancestrais.

Seja num xirê, no Olubajé, na lavagem do Bonfim ou em Dois de Fevereiro. Toca o alujá, dança o São João. Saem correndo no Pelourinho os Erês brincalhões. Estão todos ali nas gravuras, pintando a vida com nuances de farra. 

O Axé, constante e circular, prolifera. Em aquarela, registra a alegria e o cotidiano da brasilidade. 

Está no cheiro da feira, no sabor forjado na panela, no aconchego da pele com cada fio de conta, na ginga da capoeira, no tabuleiro da baiana e em seus balangandãs. 

É muita gente que chega, batendo na palma da mão e apostando nos encontros como forças transformadoras.

Arte e cenários se misturam. No quadro, o chão da quadra: ambiente colorido onde o ritmista batuca, o mestre-sala risca o chão, a bailarina gira feito majestade e a folia faz o chão tremer. 

Os brincantes compartilham da mesma concha de feijão fervido pela velha baiana, unem-se pela proteção de um pavilhão, desfilam em cortejo. 

A cada embalo da bandeira desfraldada, ecoa pelo vento o Axé da ancestralidade do samba. Na avenida, vivemos kizombas, banquetes e batuques. Vibrações máximas, contagiantes, que nos preenchem de energia. 

Outrora vazia, a folha agora é painel de encontros tingidos de alegria pulsante.

Através de traços diversos, significados sinuosos de festa e devoção passam pelo olhar do artista e brincam de criar o mundo fundando Axé na quina de uma tela. 

Lá no canto do papel, é possível ver a assinatura daquele que o Império da Tijuca anuncia: 
Carybé. Obá das Cores do Axé.

Carnavalescos: Júnior Pernambucano e Ricardo Hessez

Texto: Felipe Tinoco, Juliana Joannou e Leonardo Antan

 

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 A Profecia das Águas


Presságio... Diante do espelho ondulante das águas, a menina courana sentiu a vida passar diante de si. Uma gota se transformou em oceano, fazendo o real transbordar em vertigem. 
Em transe, percebeu-se tragada por um assombroso redemoinho em meio a um dilúvio brutal. Então defrontou-se com o reflexo de uma mulher misteriosa, de manto reluzente e coroa luminosa, como que a protegendo da própria sina. E, de súbito, viu-se emergir em uma arca resplandecente sobre a qual flutuaria plácida a cortar a fúria das ondas.

A menina chorou frente àquela revelação. Dali em diante, tudo se desfez em mar revolto, apagando as memórias dos seus primeiros anos. Foi rebatizada em águas cariocas, no outro lado do Atlântico. E desse bárbaro ritual de esquecimento, brotou uma nova Rosa, preta e cálida: a Rosa mística do Brasil.
🌹 Auri Sacra Fames – A Fome de Ouro
Ainda jovem, seguiu em romaria vigiada, por léguas e léguas mata adentro. Vendida às Minas Gerais, foi obrigada a peregrinar com os cativos pela Serra da Mantiqueira, longo percurso que a assombrava com visões de paraísos e infernos. Entre bruma e poeira, cortava as alterosas cravejadas de sonho e temor.
Nas freguesias mineiras, a sociedade devota do ouro e dos diamantes era sustentada pela depravada escravização na colônia. Cortejos de penitentes saíam pelas vielas do arraial entoando ladainhas. Pediam perdão por muitos pecados, menos o de submeter outros seres humanos a condições degradantes em nome da adoração às pedras e aos metais preciosos. Pacto social que envolvia todo um sistema forjado no privilégio, na degeneração moral e violação da dignidade dos corpos pretos. 
Mas havia as frestas sociais. Enquanto servia de oferenda àquela civilização de escândalos e perversões, Rosa acumulou um tanto de joias para se enfeitar e sedas para se cobrir. Os parcos ganhos eram ostentados nos batuques do Acotundá. Na magia da noite escura, encandeada de luar e fogueira, a preta girava saia, saudava as almas e soprava aos ares a fumaça do cachimbo, religando-se à ancestralidade que brotava no terreirão da Fazenda Cata Preta, onde era cativa. 
Até que o corpo deu sinais de desgaste. E Rosa se desfez de tudo. Distribuiu aos seus o pouco que havia recolhido, como fez Maria do Egito, a santa meretriz que foi alçada ao altar celestial após doar aos desvalidos toda a riqueza de uma vida. Mais tarde, deixaria de ser a Courana para ser Rosa Egipcíaca, transitando entre a devoção e o misticismo.
🌹 Ventanias, Visões e Possessões 
Feitiçaria ou teatro? A freguesia alvoroçada se dividia em opiniões ao testemunhar as possessões da mulher, ocorridas entre rezas e sessões de exorcismo comandadas pelo padre português Francisco Gonçalves Lopes, o “Xota-Diabos”. 
Visagens chegavam a Rosa em ventanias ruidosas que apoquentavam sua mente dividida entre os solfejos dos anjos e os gritos dos malignos. Em êxtase espiritual, ela era saliva e fogo, arrepio e suor, lágrima e vulcão. Sentia, atordoada, a presença de sete demônios pairando sobre si em vertiginosas espirais, possuída tal qual Maria Madalena. 
Mas, assim como a personagem bíblica, a africana tinha também a alma acalentada pelo amor Divino. E os ventos agora lhe sopravam de volta ao litoral. 
🌹 A Flor do Rio 
Vivendo a debulhar as contas do Rosário, retornou ao Rio de Janeiro por onde desfilava como dileta serva de Deus. Sob o pálio da devoção a Santana, avó de Cristo, a negra cruzava a fé dos brancos com os cultos ancestrais aos mais velhos, herança da sua origem na costa africana. Rosa impressionava o universo religioso da cidade com seus dons premonitórios, jejuns e flagelações, tornando-se foco de curiosidade e admiração. Um passo para ser cultuada como Santa.
Levada pelo dever de perpetuar os pensamentos devocionais, alfabetizou-se nas letras divinas e passou a escrever compulsivamente. Foi assim que colocou no papel aquele que é considerado o primeiro livro a ser escrito por uma mulher negra no Brasil. Desta forma, derramava pelas suas mãos o bendizer da palavra revelada nos pergaminhos mais sublimes. 
Sentia na pele e no coração as dores das mulheres afastadas do convívio familiar. Assim, a visionária ergueu o Recolhimento, mosteiro com que ela havia sonhado como arca protetora a abrigar almas cujos corpos femininos eram negados pela sociedade. 
O poder da vidência não cessava e Rosa sonhou com a imagem de cinco corações radiosos e brilhantes. Cada vez mais santa no altar popular, foi se tornando mais mística, mais etérea e mais misteriosa. Elo entre Deus e a humanidade, a beata com dons paranormais seria desposada em um grandioso devaneio apocalíptico.
🌹 A Derradeira Profecia
Revelação. Rosa fechou os olhos e pressentiu um dilúvio de força descomunal que lavaria os pecados da humanidade. Estava novamente frente à imagem que tanto a impressionou na infância: a mesma mulher misteriosa de manto reluzente, protetora do seu destino. Debaixo do majestoso véu das virtudes, revelou-se a face verdadeira: era o próprio rosto de Rosa. 
Águas em turbilhão sairiam como veios da terra. E daquele reino sobrenatural emergiria não uma, mas duas arcas, flutuando entre a história e o delírio. Em uma, estava ela, no esplendor do seu último desvario; na outra, o rei Dom Sebastião, desaparecido em épica batalha em nome de Cristo. 
O enlace com o Rei dos Encantados consumaria a união mística para fundar o grande Império Brasileiro. Rosa, enfim, seria o rastro de salvação dos eleitos no triunfante evento do fim dos tempos, inundando as almas de esperança. Assim, cumpriu o enredo de uma vida e agora estava liberta para se tornar a própria Santa na qual se refletia. 
🌹 Uma Santa Negra no Céu
E lá no firmamento, aonde as águas do dilúvio a arrebataram, um concerto de marimbas e candombes a aclamou em sua saga de fé. Guardas da Santa Coroa, empunhando fitas e bandeiras, uniram-se em batuques para louvar à Santíssima africana que um dia viveu cercada de mistérios e virtudes em uma terra tão plena de vícios quanto de credos. 
Folguedos desfilaram em louvor à mulher que virou divindade, em sagrado cortejo de canonização popular. Nos jardins do Palácio Celeste, ela se enxergou em cada rosa que desafia a sorte, insiste em rachar o chão e brota da aridez. 
E no altar do Divino, todo enfeitado de flor, a mais bela Rosa orna a coroa do Senhor. 
Não é uma rosa qualquer. É a Rosa que o povo aclamou! 

 Autor do Enredo e Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Inspirado no livro “Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil”, de Luiz Mott 
Texto: João Gustavo

 Referências: 


ARARIPE JÚNIOR, Tristão de Alencar. O Reino Encantado: crônicasebastianista. Editor do Organizador, 2017.
ANTAN, Leonardo.  Laroyê, Xica da Silva: narrativas encruzilhadasde uma incorporação no carnaval carioca. Nova Iguaçu: Carnavalize,2021. 
MARANHÃO, Heloísa.  Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz. Rio deJaneiro: Rosa dos Tempos, 1997.
MOTT, Luiz.  Rosa Egipcíaca:  uma santa africana no Brasil. Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 1993.
MOTT, Luiz.  Acotundá: raízes setecentistas do sincretismo religiosoafro-brasileiro, In Escravidão, Homossexualidade e Demonologia. S.Paulo: ícone, 1988, pp. 87-118.
PERES, Eraldo.  FÉsta Brasileira: folias, romarias  e congadas. SãoPaulo: Editora Senac, 2010. 
SIMAS, Luiz Antônio. Almanaque de Brasilidades: um inventário doBrasil popular. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2018. 
SOUSA, Giulliano Glória de. Negros feiticeiros das Geraes: práticasmágicas africanas e repressão em Minas Gerais na segunda metadedo século XVIII. Anais da Anpuh. Mariana (MG), 2012.




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Prólogo


No princípio era o verbo. E os verbos e as gírias estavam com o povo, era o povo, que descia o morro para transformar a rua em palco. Artistas de uma opulenta ópera popular chamada escola de samba, regida por um maestro/profeta que banhou de luxo a miséria e escancarou aflições escondidas em folhas de jornal.

Pelas mãos do profeta João esfarrapados ganharam ar de nobreza e protagonismo. Suas visões misturaram paraísos e infernos. Opostos que se atraem e se reinventam.

O evangelho segundo o João do povo teve suas primeiras páginas escritas na Academia do Samba e pregou que a regra é ousar. Seus delírios etéreos gozavam de intensa liberdade, não cabendo em si ou em julgamentos outros. Sem proibição ou pecado — abolir o não, purgar os preconceitos. A arte é para fazer sonhar, riqueza que não cabe em uma caixa ou que possa estar encarcerada nos porões de mentes tacanhas.

As epístolas deixadas ainda conduzem o reino do carnaval. Quem aprendeu em suas escrituras sabe bem que a alforria é soberana e que o encantamento e as inquietações provocadas pela criação e manifestação artística são elementos fundamentais de sanidade, capazes de provar que a fantasia é uma grande realidade.

João 30:90

Sinopse 


O misterioso pórtico ergue-se da página em branco do universo. Por detrás de suas portas maciças, cuidadosamente entalhadas por nobre criador, a mais sublime obra de arte: as faces de um novo mundo. Superfície coberta por jardins que atravessam o horizonte, contorno sem fim. Paraíso protegido, íntegro. Em uma exuberância desmedida brotam árvores, folhas e flores de suntuoso encantamento. Os frutos ostentam tenra suculência, despertam apetite inesgotável. Até onde os olhos alcançam tudo é deslumbrante.

Frondosa e exótica, a natureza se impõe guardiã da sabedoria. O paraíso, ao contrário do que relatam os livros, se expande em tons de vermelho, em ricas cores vivas, fortes e sedutoras, que tingem a terra e o céu.

Entre barro e costela levantam-se as primeiras criaturas. Imagem e semelhança divina, testemunhas únicas a experienciar a excelência do Éden, os mistérios guardados no paraíso original. Adão e Eva, nativos afortunados, são retrato do bom selvagem, carregam em si a pureza em estado bruto, a inocência cercada de curiosidade. Cada descoberta é magnífica: tudo é estranho e familiar. No paraíso, o real e o fantástico se frequentam, o vento fresco tem perfume de liberdade. Os corpos dançam fluidos, percorrem o ambiente livres para as ilusões.

Vagueiam pelos campos sem contar que em sua sombra espia-lhes a ira. Furtiva criatura a invadir sorrateira a calmaria do Éden. Dissimulada aos olhos e nas palavras, transfigura verdades e mentiras, destila veneno poderoso e ludibria talentosa a pureza nativa. Sedutora serpente de língua afiada, faz florescer na mínima censura a mais tenra tentação. De tantas árvores e tantos frutos, somente aquela, proibida, há de revelar os segredos da vida, de preencher a ignorância com sabedoria.

No afã por intensidade, em uma mordida, o vermelho perde a cor, a exuberância míngua. No perigo maior do paraíso, a perda. Fruto da desobediência, agora pecado original. O pórtico se fecha e o Éden esvanece. Paraíso perdido, herança primeira da humanidade, expatriada da perfeição por ser facilmente corrompida.

O ser humano é filho da queda, desorientado pela condenação aos limites mundanos. Aqui na Terra, jardim dos exilados, o inferno são os outros. A cada juízo, uma condenação. Tudo é perversão e pecado. Tudo é proibido. Grandes olhos vigiam a vida dos outros e sentenciam à margem quem desafia os “costumes”: exclusão, apagamento. A obediência anda incorporada na culpa.

Quem há de ter pecado maior?

Uma luta de vaidades se manifesta e entre a inveja e a ira os homens se afrontam. Onde antes dava valor, hoje boto preço. Vendo barato minha dignidade, pois meu paraíso são meus bens. Notícias de tempos corrompidos, dos prazeres da carne, da gula devastadora e da preguiça moral. Relatos de períodos obscuros e frios.

A esperança renasce na fé, na ponta da espada, duelo do bem contra o mal. Na luta diária contra as cabeças de um dragão insaciável pelo sofrimento. Com a batalha armada, põe-se entre nós a cavalgada do fim dos tempos. É ensurdecedor o som do galope austero dos cavaleiros do apocalipse se misturando nas ruas, despertando dores e espalhando terror. Vendem a paz que não queremos, propagam o conflito. Devastam, destroem, espalham a escassez e a fome. E nessa irradiação do caos, a morte é a verdade anunciada.

A velha barca para o inferno tem uma nova diretriz: a redenção vem para os renegados. Os crucificados, os doloridos: uma multidão marginalizada aos olhos dos homens. Seus demônios caíram por terra.

Louvados sejam os excluídos!

Louvados sejam os rejeitados!

A compaixão lhes aguarda no novo Éden. Reluz em tons fortes de vermelho, renasce de amores e sonhos. Portas abertas a quem tem fome e sede de infinito. Entrem e sejam tomados pelo êxtase de um paraíso em festa, efusivo como uma interminável noite de carnaval. Lugar de desejos e das individualidades. Caldeirão de diversidade. Paraíso dos devaneios, da liberdade democrática das ruas, da comunhão entre todos, onde a fantasia se mistura com a realidade. O que era aparente ilusão hoje alimenta os olhos, preenche do corpo à alma: a fartura, a união, o respeito. Ouse imaginar um paraíso “carnevale”, salgueirense, em que a celebração é a fonte da vida eterna. No lugar das trombetas, tambores da Furiosa dão as boas vindas e pedem passagem para toda a gente.

Ainda que a mesma história fosse contada setenta vezes ou ilustrada por trinta mãos talentosas, seria difícil fantasiar esse lugar de reencontro com a liberdade, onde o pecado não mora mais ao lado, pois o sagrado e o profano se misturam, são tão mundanos quanto divinos, fontes de um mesmo criador. Apenas abra os olhos e flutue pelos encantos e delírios do novo paraíso vermelho, pulsante como a Academia do Samba, viva de desejos e prazeres.

Autoria do Enredo: Edson Pereira

Pesquisa e Desenvolvimento: Edson Pereira, Ruan Rocha, Lucas Abelha, Victor Brito e Departamento Cultural.

Roteiro: Edson Pereira e Ruan Rocha


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Cheiro de pólvora perfumando as ventas. O parabelo carregado e a bala cortando os ares. O calango rabisca o chão, a boiada se inflama, o cavalo galopeia aperriado. O rifle balança como menina na mão do cangaceiro. A faca talha. Fura. Mata gente.

O cabra grita, o suor desce pelo gibão de couro. O líder do bando canta e os bandoleiros se colocam a arrastar as chinelas. A poeira laranja sobe sobre o xique-xique ainda verde. Criança de colo corre. O gato late. O cachorro solta um miado fino e a turma se põe a xaxar. Xaxando, me ponho a contar, nome por nome do time que Lampião comandava: tinha Corisco e tinha Dadá. Tinha Pilão Deitado, Beato e um homem brabo, com nome de cobra, vulgo Jararaca, que, ao morrer, dizem ter virado santo. Tinha também Graúna, Zé Baiano, Azulão e Cirilo Antão. Não me perdoo se esquecer o nome de Cansanção. Canário, companheiro de Adília, Pé de Peba e Pé de Pato. Pajeú, Volta Seca e Zé de Julião. Juntos, essa turma esquentava como pitú com pimenta ou o sol que arde, queima e castiga o sertão. Arruaça, rebuliço, Deus nos acuda e, no meio disso, reluz – como a chama do candeeiro – a estrela de Salomão, que brilha no chapéu de um cangaceiro, rei e capitão.

Contado nas palavras rimadas do cordel, cantado pelas cordas das violas do repente, tema para o gracejo do boneco mamulengo. Ele tá na boca e na reza dos beatos; nos aboios dos vaqueiros; na bagagem dos tropeiros; no motivo da lágrima que molha o rosto da carpideira. Tá lá o nome dele: Virgulino Ferreira da Silva. Vulgo Lampião, que morreu aos quarenta anos tiroteado numa emboscada que lhe separou a cabeça do cangote, no raiar de um dia vinte e oito, quando o calendário marcava o mês de julho, no ano de 1938.

Morto, Lampião foi direto aos portões do inferno. Morada do Encardido, Capiroto, Arrenegado, Peba, Excomungado. De nome Filhote e sobrenome Danado. A casa do Tinhoso onde pensava ser tratado e aceito como bom moço. Barrado no portão, fedendo a enxofre, montado em seu cavalo – agora, só de osso – se aperreou com a demora pra entrar, fruto da discussão com um diabo ainda moço.
O certo é que Satanás, dono daquela morada, por saber de quem se tratava, não queria confusão. Se desse ingresso a um cabra com a fama de Lampião, logo, sem demora, lhe chegava a desmoralização. Diante da negação, Virgulino Ferreira se inflamou e, acredite o senhor ou não, fogo no inferno o sujeito tocou.

Em brasa, morreu pra mais de cem cão queimado. Morreu Desgraça Pouca e Bananinha. Morreu Propina. Morreu um cão chamado Preguiça. Morreu Luxúria e Avareza. Saudades deixou o cão Safadeza. Gemendo, morreu Ypsilone. Em chamas morreu Furico. Morreu Belzebu muito apreciado por Satanás.

Sabendo do alvoroço, o Bicho ruim mandou chamar Lubisome, gritando por Aucapone – este, com o pau da prensa – gritou por Ritlê e Moléstia. Veio uma Diaba boa e braba chamada Quem Me Dera. Uma velha, famosa como Língua de Sogra. Soltaram a Onça Caetana da coleira e foram, com a tropa armada, pro meio do tiroteio, onde o cacete batia, o filho chorava e a mãe não via. Em boa luta, pra mais de duas horas, Lampião ainda de pé, com uma caveira de boi, arrebentou um cão, puxou do oitão, incendiou o mercado e lançou brasa no armazém de algodão. Prejuízo sem tamanho, matemática de se danar: perdeu-se todo o dinheiro que o Diabo ganhou com a rachadinha, queimou-se o livro de ponto, o Excomungado perdeu pra mais de vinte contos e Lampião, vendo que não era bem quisto, teve de se retirar.

Com a má-querença do excomungado, Capitão Virgulino montou-se nos costados de um azulão e arribou rumo ao portão do céu. Naquela morada, de cadeado bem trancado, bateu palmas dizendo querer entrar. Foi então que Pedro, santo carrancudo, largou do café que bebia, pra ver quem, na santíssima morada, queria estadia.

Sem crer no que via, São Pedro tratou de enxotar Lampião. Na mão esquerda, sua chave; na direita, um papel de pão. Nele, escrito toda sorte de judiação: filho da gota serena, ladrão, furador de bucho e assassino ferino. Amancebado, marcador de gente, bandoleiro perigoso metido com rapariga. É pirangueiro que bulinou mulher casada. Meteu galho na testa do pai de família.

“Não seja dedo-duro”, respondeu Lampião e, com o rifle na mão, fez a exigência: “me leve até o pai, pois é ele quem sabe de tudo. Sou filho do homem. Por ele parido e não sou bastardo. Tu até parece brabo, mas, nessa santíssima mansão, tu não manda, tu é mandado”.

Diante da ousadia, São Pedro tocou o sino. Vejam vocês, chamou uma tropa de anjo menino. Mandou São Jorge selar o cavalo e ordenou a São Gonçalo Ivo: “Chame Antônio e São Miguel. Chame também por Gabriel. Diga a Santa Rita que venha. Apresse Nossa Senhora da Penha. Diga à Bárbara que cesse a macumba; que São Longuinho apareça; que João menino traga o triângulo e a zabumba”.

A santaria veio num pinote. Lampião corria, parecia uma festa junina, quando ele então, pendurou-se num balão e clamou ser levado à presença de “Cíço” Romão. “Isso é golpe baixo”, berrou São Judas Tadeu, interrompido por Santa Luzia que lhe advertiu: “Se tem padrinho, não morreu pagão. Deixe que o balão suba e leve o moço até os aposentos de Padre Ciço Romão”.

Lampião bem que tentou. Padim Ciço advogou. Mas São Pedro, o pé não arredou: “és um sujeito malcriado e o diabo também não lhe quis. Desça daqui pra terra. Vá vagar pelo sertão. Torne-se assombração, mas suma, antes do fim do barulho de meu trovão”.

Mal quisto no inferno e sem a guarida do santíssimo, Lampião desceu à terra em busca de alguma morada. Astucioso, querendo a eternidade, o homem que em vida perdeu o coco para ser sabedor do que havia depois da morte, queria habitar agora o quengo que pertencia aos outros.

Primeiro, andou fazendo assombro ao abrigar-se por de trás do dente canino e pontiagudo de uma carranca que navegava no São Francisco. Na sequência, foi morar no breu do olho direito e cego de Patativa do Assaré. Esteve abrigado na sombra de cada palavra dita e escrita pela pena do poeta. Em dia de festa, esteve de tocaia na sanfona de oito baixos de mestre Januário. Durante anos, seu paradeiro foi o gibão de Luiz Gonzaga. Com ele, foi ao Sudeste, ao rádio, exibiu-se na televisão. Esteve sob a coroa de couro de outro rei, o do baião.

Astucioso, buscando uma morada que não lhe fosse perene, deixou-se amassar pelas mãos de Vitalino. Misturou-se então – pra sempre – nas entranhas de corpos sem osso e sem costela. Tá em toda sorte de gente, ainda hoje, feito de uma mistura que cozinha um bocado de barro mágico, pouca água e o fogo que arde feito o sol desfeito em brasa.

Pesquisa, desenvolvimento e texto: Leandro Vieira.

*Inspirado nos Cordéis “A Chegada de Lampião no Inferno” e “O grande debate que teve Lampião com São Pedro” de José Pacheco.


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Era o inicio da década de 1920 quando cheguei ao vale do rio das Pedras, na localidade há pouco tempo conhecida como Oswaldo Cruz. Desembarquei de um trem vindo da Saúde, acompanhado de minha mãe e minha irmã. Eu ainda não sabia, mas trazia comigo uma missão. Um propósito que se iniciava ali, nas terras do antigo engenho do Senhor Miguel Gonçalves Portela, mas que não conheceria os limites geralmente impostos pelo tempo e pelo espaço. Seria algo perene, imortal, como parecia ser a alegria nas concorridas festas de Dona Esther, onde entendi que deveria elevar o samba e a cultura popular a um patamar jamais alcançado. Então, com as graças de Nossa Senhora da Conceição e São Sebastião, ou, como queiram, Oxum e Oxóssi, eu, Caetano e Rufino unimos nossas mãos e tivemos um sonho. Imaginamos um mundo azul e branco que não teria fronteiras, que se estenderia para além dos limites de nossas vidas terrenas. Fundamos o “Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz”, primeiro nome de nossa criação. O primeiro nome da Portela! Era algo simples, pequeno, mas, logo no primeiro desfile oficial, fomos campeões deixando uma mensagem que, na verdade, tratava-se de uma profecia: “O samba dominando o mundo”. Isso foi há muito tempo. Hoje, Caetano, o que abre nosso cortejo no carnaval celestial é o bater das asas do Divino Espírito Santo. Lá embaixo, eles ainda fazem águia de isopor.

Faz muito tempo, Professor, mas eu lembro que tu me deste a honra de defender o pavilhão daquele primeiro campeonato. Eu também estava ao seu lado quatro anos depois, quando a Praça Onze se encantou com “Teste ao samba”, a primeira vez em que uma escola de samba apresentava fantasias, alegorias e samba representativos do enredo. Sua missão passou a ser a minha, e o sonho de vocês, fundadores, aos poucos ganhava forma. Eu vivi intensamente os “sete anos de Glória”. Sete vitórias seguidas, algumas delas em meio às incertezas dos carnavais de guerra. Eu vi os sambistas se dividirem, brigarem, formarem Associações diferentes, mas depois se unirem novamente. Vi as confusões de 1952, ano em que não teve apuração, e, no carnaval seguinte, conquistarmos o supercampeonato com as “Seis datas magnas”, tirando nota máxima em todos os quesitos. Hoje, em nosso carnaval celestial, quando rodopio movimento as nuvens brancas, que em forma de espiral rajam o azul do céu. Lá embaixo, eles ainda usam bandeiras de cetim.

Para rodar com o nosso pavilhão, menina, eu trouxe Vilma Nascimento, o Cisne da passarela, que está lá por baixo. Comigo não tinha malandro que se criava. Eu herdei esta missão e honrei cada dia da minha vida para cumpri-la. Fui tetracampeão, de 1957 a 1960. Quando cantamos “Legados de D. João VI” e “Brasil Panteão de Glórias”, os sambas eram de sua autoria, Candeia. Fomos campeões festejando o pintor “Rugendas” e usando violinos para ilustrar o “Segundo casamento de D. Pedro I”. Nós  apresentamos a obra “Memórias de um sargento de milícias”, cujo samba foi escrito por aquele rapaz que está lá embaixo, o Paulinho da Viola. Lembro-me da festa ao conquistarmos o título de 1970, “Lendas e Mistérios da Amazônia”. No ano seguinte, Ary do Cavaco, você escreveu uma bela poesia homenageando a Lapa. Então, logo após exaltar “Macunaíma”, minha parte nesta missão se cumpriu. Vai, Betinho! É hora de um rufar de trovoadas. Lá embaixo, eles ainda fazem som batendo no couro de um surdo.

O Senhor sabe que eu fui o autor de Macunaíma, não sabe? Eu e a Clara cantamos juntos na avenida. Esta também foi a minha missão. Eu compus “Hoje tem marmelada”, samba com o qual fomos campões, e o antológico “Das maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite”, sucesso absoluto. Tudo bem, eu passei por outras escolas, mas sempre que partia deixava meu coração na Portela, e para ela retornava. Nas minhas andanças, vi o carnaval atrair turistas. Vi surgir o sambódromo! Aquilo que um dia foi pequeno se tornava as Escolas de samba S. A. Eu vi Silvinho ser campeão cantando “Contos de Areia”. Em um lindo amanhecer de carnaval, vi Dedé cantar a “pombinha da Paz”, e depois, anos mais tarde, arrepiar a todos com um belo “Tributo à vaidade”. Vi o “azul” ser cantado em todas as suas tonalidades! Eu vi o Noca, que está lá embaixo, sacudir a avenida com seu “Gosto que me enrosco”. Hoje, para o nosso carnaval celestial, componho orações unindo os sentimentos daqueles que expressam saudade. Lá embaixo, eles ainda estão limitados pelas letras escritas num papel.

Eu sei como se compõe, aqui e lá embaixo. Fui o último a chegar cá em cima. Vivi o que vocês só viram à distância. A parte que me cabia nesta missão foi levar a Portela para o século XXI, batendo suas asas em um novo milênio. Eu vi nossa escola cantar o “Amor”. Vi Madureira “subir o pelô” e revolucionar o gênero samba-enredo. Eu estava ao seu lado, Falcon, quando você apontou para frente e todos o seguiram. Eu vi a imponência da Águia redentora. Vi nossa escola cantar as “viagens”, e, em 2017, conquistar sua vigésima segunda estrela: “Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar”. Liderei por décadas a minha velha guarda, levando o nome de nossa escola para todo o planeta. Canta, Surica! Canta que o samba dominou o mundo, cumprindo a profecia de nossos fundadores. O sonho deles é realidade. Inspira cada jovem que agita suas bandeiras nas arquibancadas. Hoje, sinto-me leve. Minha voz ecoa livremente pela eternidade. Lá embaixo, eles ainda usam microfone e caixa de som.

Neste carnaval do centenário, quando a sirene da avenida tocar, não deixem de olhar para cima. Nós estaremos na claridade que emana da lua, no brilho de cada estrela do firmamento, no vento suave que toca seus corpos. Nós estaremos fantasiados daquilo que vocês costumam chamar de natureza. A Portela é o nosso legado. Iluminaremos seus caminhos, mas a missão agora é de vocês. A história da Portela é uma  jornada atemporal. É a saga de gerações que se sucedem no tempo. É um sonho que nos une ao infinito. Os próximos cem anos nos aguardam.



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Quando o verde se derrama em rosa pela avenida, o céu se agita, o morro mostra seu samba como Ilú a repicar. Os ventos se assanham no girar da mãe, conduzindo os filhos de Mangueira a desfilar. Por nós, Oyá!  Por nós, Oyá!

Ela que veio de longe. Ela que veio do vento, guerreando contra todo sofrimento, de quem um dia foi obrigado a traçar um novo destino além-mar. Bantu, Haussá, Gegê, Iorubá…tantas Áfricas que na Bahia vieram a aportar.

Na alma, carregaram a bagagem de seus ancestrais; no corpo estamparam a riqueza de seus rituais. No ecoar de suas vozes, fizeram-se mais fortes, nos “batuques” e seus toques adornavam outros nortes. Na terra de todos os santos, tantas Áfricas se recriaram pelo encanto de seus cortejos, pelas histórias de seus cantos. Como bandeira de luta, como conquista das ruas, por liberdade em ser, por respeito às suas. Tudo isso através dos dias onde a Bahia é mais Bahia e ser preto é sinônimo de alegria.

Hoje, mais uma vez, iaiá mandou ir à Bahia, em tempos em que a Lei Áurea tão sonhada não havia sido assinada, mesmo que a liberdade, posteriormente, ainda fosse ilusão. Negros iam as ruas em dia de folia, desafiando toda perseguição, entoando cantares nativos, contando a saga daqueles que, infelizmente, sucumbiram pela escravidão.

Faziam festa para a sua preta rainha em forma de cucumbis, trazendo, a frente, um cortejo de rotins, afugentando todo mal que pudesse estar por ali. O arauto negro anunciava a chegada da procissão, cavalarias faziam guarda e “barbeiros” davam o ritmo com xequerês, caxambus e a marcação. Fogos dos bengalas explodiam no céu, quando, de repente, o filho da rainha morria em meio a exibição. Ela ordena ao um feiticeiro que seu filho reviva. Na sua dança mágica, o menino ganha vida, ela lhe entrega tesouros em missangas para que o cortejo prossiga, o sagrado demonstra seu poder e a corte se unifica. 

O “charme” da liberdade no papel, posteriormente, se garantia, porém a negritude estava longe de alcançar direitos e cidadania. Pelas ruas de Salvador se viam ex-cativos marginalizados, perseguidos até pela forma em que se vestiam. Era proibido “ser” africano na Bahia, mas, em dias de folia, a fantasia era ousada, com muita sabedoria se esquivavam da chibata da polícia que insistia em esquecer em que tempo estava. Seguindo a tradição preta de cortejos, se organizaram em Clubes Negros, a disputar as ruas com a burguesia, em forma de arte, protestavam contra os açoites e a serventia. As “Embaixadas” africanas impressionavam pelo luxo e incomodavam até que um dia foram vetadas…

Mesmo perseguidos, os préstitos viraram formas de sobrevivência e luta por liberdade. Atraia-se, daquela forma, os olhares da imprensa e da comunidade e, na ótica do opressor, uma ignorante sensação de “civilidade”, ao acharem possível, desta maneira, controlar a força negra da baianidade. Mas nada era mais intenso que a união do gueto, a rua e a fé, andando a pé pela cidade. Do terreiro do Engenho Velho, o céu dos orixás intervia ao unir a arte, a religiosidade e a fantasia, levando os livres toques de ijexá pelas ladeiras e avenidas. Preparava-se o padê para que Exu mensageiro fosse ligeiro abrir os caminhos para passar o Afoxé. Nessa cidade em que todo mundo é d’ Oxum, nas ruas rodam candomblés, conduzidos e protegidos pela Yalotim, onde o santo é representado, esculpido pelo talhar do Iroko. A África, desta vez, se recria pelas mãos do sagrado.

A dor que pariu Salvador, pariu seu carnaval e promoveu a explosão de grupos pretos que tomaram conta dessas vias de clave e Sol com alegria, pois ela é a revolução. A realidade dura dos guetos virava letra de canções, incorporando e renovando a herança rítmica das negras procissões. Corpos e corpas se tornaram protesto, estampando seu manifesto no vestir e no dançar. Os blocos afros reconstruíram a identidade de um povo, que passa a ter ainda mais orgulho de sair na folia a cantar, de fazer a terra tremer, pois o vulcão da Bahia é tambor de Ilê Aiyê. É pulsação de Muzenza, de Olodum e Badauê. É o Didá e dança de Malê Debalê. São as mais belas das belas deusas do ébano girando e reinando pela avenida, ao toque da batida que vira sinônimo da própria vida. Se adornam no laço afro que amarra o legado de seus ancestrais, dando cor, energia e vigor aos carnavais. Que bloco é esse, negão?

Salvador se agita no negro toque do agogô, nas quebradas com a pele pintada, nas estampas de faraós, na pipoca do trio, nos tambores do Pelô. Na mistura do Timbalada, dos sambas de roda, reggae e tantos sons que dão o tom à baianidade Nagô. Nas vozes das pérolas negras que conduzem os cortejos sem submissão de raça, sem lágrima, nem dor. O amor do povo que se lava com a força do axé, na fé do Bonfim, nos cantos do candomblé. Axé que canta e amarra em seus fios de conta a importância de ser chão africano. Axé da negrada que passa o astral da avenida todo ano. Axé que mostra que a cor dessa cidade é a mesma de Mangueira, com a força do vento, expressão da liberdade, fazendo o negro respirar felicidade.

Texto: Guilherme Estevão e Annik Salmon

Pesquisa: Guilherme Estevão, Annik Salmon e Mauro Cordeiro.

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por Artur Paschoa

Mais uma vez, o resultado final da apuração das notas dos desfiles das escolas de samba de São Paulo deixou aqueles que acompanhamos o carnaval paulistano com um gosto amargo na boca. Pela segunda vez em quatro carnavais, quatro escolas empataram no topo da tabela do Grupo Especial, definindo-se o título através de notas em teoria descartadas. Essa situação não é mero acaso, mas fruto de um modelo de julgamento implementado e reforçado pela Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (LigaSP) nos últimos anos.

Fundamentalmente, o modelo adotado pela LigaSP estabelece grandes restrições à possibilidade dos jurados de penalizarem as escolas, diminuindo o número de pontos retirados das agremiações e produzindo dois fenômenos simultâneos: apurações cada ano mais acirradas, como evidenciado pela ocorrência dos dois empates quádruplos, e a chamada “chuva de 10”, já característica das apurações paulistanas. Não se trata de simples impressão; neste ano, das 504 notas atribuídas pelos jurados às 14 escolas do grupo especial, apenas 120, ou 23,8%, não foram a nota máxima. A título de comparação, no carnaval carioca, 46,9% das notas atribuídas tiveram desconto.

Ainda mais grave que a banalização da nota 10 — que ironicamente o manual do julgador da própria LigaSP alerta como prejudicial ao espetáculo — é o desequilíbrio gerado entre os próprios quesitos em julgamento. Neste ano, pela terceira vez consecutiva, nenhuma escola do grupo especial foi penalizada no quesito Samba-enredo, desconsiderando os descartes. Ora, qual o sentido de um quesito que não é capaz de diferenciar a apresentação das escolas? É justo dizer que não houve qualquer diferença qualitativa em letra e melodia entre os 42 sambas do grupo especial que passaram pelo sambódromo do Anhembi nos últimos três carnavais?

Infelizmente, o problema tampouco restringe-se ao quesito Samba-enredo: Harmonia, que neste ano não penalizou nenhuma agremiação, retirou apenas um décimo em 2020 e dois décimos em 2019; Bateria, um décimo neste ano, dois décimos em 2020 e nada em 2019; Enredo, dois décimos neste ano, quatro em 2020 e três em 2019.

Mais do que a simples constatação de que quatro dos nove quesitos em julgamento foram virtualmente inúteis nos últimos carnavais, fica evidente a desvalorização dos quesitos musicais e de chão, em favor dos quesitos visuais e coreográficos. Neste ano os quesitos que mais despontuaram as escolas foram Evolução (1,3 ponto) e Mestre-sala e Porta-bandeira (1,2 ponto); em 2020, Alegoria (4,1 pontos) e Fantasias (2,6 pontos), que juntos foram responsáveis por mais da metade do total de deduções; e em 2019 Alegoria (2,4 pontos) e Comissão de Frente (2,3 pontos) — naquele ano, todos os demais quesitos somados foram responsáveis pela subtração de apenas mais 2 pontos.

A Águia de Ouro conquistou seu primeiro título na folia em 2020. (Foto: R7)


Esse modelo produz graves distorções sobre o que entendemos como a manifestação cultural e artística das escolas de samba. Hoje, uma agremiação paulistana que não possua a mesma estrutura de barracão ou patamar financeiro, com alegorias e fantasias que não atinjam o mesmo nível de acabamento que de suas coirmãs, por exemplo, não consegue mais encontrar na força de um enredo poderoso ou de um grande samba a possibilidade de se colocar em pé de igualdade. 

Evidentemente que a trajetória recente das agremiações reconhecidas como mais tradicionais da folia paulistana é bastante complexa, mas não é difícil ver o impacto desse modelo de julgamento sobre escolas que sempre tiveram no samba e no chão seus principais trunfos. Não custa lembrar que neste ano, o Vai-Vai foi novamente rebaixado ao Grupo de Acesso I, onde se juntará à Nenê de Vila Matilde e ao Camisa Verde e Branco; Leandro de Itaquera e Unidos do Peruche disputarão ano que vem a terceira divisão do carnaval paulistano. Não se trata de achar que essas escolas merecem tratamento especial, mas de entender que o modelo de julgamento da LigaSP prioriza aspectos de um desfile diferente daqueles em que essas agremiações costumam se destacar, deixados de lado na avaliação oficial.

Ao ultrapassarmos a camada meramente quantitativa das deduções em cada quesito e nos debruçarmos sobre o que efetivamente vem sendo penalizado, encontramos um problema ainda mais grave. O manual do julgador da LigaSP torna explícita sua busca por um julgamento estritamente “objetivo”: “O julgamento é a tentativa de dar consistência técnica a um desfile de escola de samba, fazendo com que os julgadores se tornem a média matemática do espetáculo, levando em consideração menos sua subjetividade e mais critérios técnicos previamente definidos que ‘medem’ o equilíbrio de cada escola. (...) Lembramos que não é função do julgador gostar ou não da exibição de um quesito, mas sim analisar o desempenho técnico do mesmo”.

O manual ainda define com grande detalhamento o que deve ou não ser punido em cada um dos quesitos, e em que medida, apresentando inclusive uma lista de “termos subjetivos” interditados de serem utilizados nas justificativas das notas. A consequência dessa metodologia que busca a objetividade absoluta é um julgamento mais semelhante a uma conferência de critérios que devem ser cumpridos do que à avaliação de uma expressão artística e, portanto, inerentemente subjetiva. Ironicamente, o manual da LigaSP estampa logo na terceira página uma frase do pesquisador Hiram Araújo: “Se o ato de julgar fosse simplesmente uma conferência de requisitos básicos, não haveria a necessidade de jurados e sim uma comissão fiscalizadora realizaria o trabalho”.

Para não ter dúvidas de que o corpo de jurados da LigaSP tem atuado mais como comissão fiscalizadora do que como órgão capaz de efetivamente produzir um julgamento sobre o que é apresentado por cada escola, basta olhar com mais atenção para a maneira como a entidade instrui os jurados a realizarem seu trabalho. Primeiramente, a tarefa de “ponderar e analisar até que grau a agremiação cumpriu a totalidade dos requisitos”, nas palavras de Araújo, é tomada pela própria entidade, que apresenta para cada quesito uma tabela que indica qual deve ser o desconto aplicado à nota para a quantidade de “ocorrências” de cada agremiação. Além disso, a tabela ainda indica e exemplifica quais são essas ocorrências passíveis de punição, por vezes dividindo em subquesitos.

O quesito Alegoria, por exemplo, um dos principais responsáveis pelas deduções dos últimos anos (0,8 ponto neste ano, 4,1 em 2020 e 2,4 em 2019) é subdividido pela LigaSP em Execução — se as alegorias apresentadas estão de acordo com o descrito pela escola na pasta entregue aos jurados —, Realização — variação de cores e formas, proporção das esculturas e volumetria da alegoria — e Acabamento. Fica claro que há pouco ou nenhum espaço para avaliação da concepção das alegorias, ou seja, se transmitem a mensagem proposta pela escola para aquele momento do desfile e se o fazem de maneira plasticamente adequada. 

É vedada ao jurado a possibilidade de avaliar se a produção artística da escola é interessante, se engaja e atrai visualmente, ou se oferece uma plástica simplória e monótona. Seu trabalho se limita, portanto, a uma simples conferência. Os elementos estão de acordo com o descrito na pasta? Não há rasgos ou amassados? As esculturas estão na proporção “correta”? Se o conjunto de alegorias preencher todos os requisitos, o jurado é forçado pelo manual a conceder a nota máxima, ainda que possa ter uma opinião diferente sobre a plástica apresentada.

Observando as justificativas dos jurados de Alegoria no carnaval deste ano, das 20 notas inferiores à máxima, 13 se tratava apenas de problemas de acabamento nas alegorias, quatro apontavam também problemas de proporção nas esculturas, três a presença de elementos alheios à alegoria e uma a divergência com o apresentado na pasta. O mesmo se repete nas justificativas apresentadas para o carnaval de 2020, em que as falhas de acabamento são responsáveis pela grande maioria dos pontos deduzidos.

A Tucuruvi criticou os rumos da folia paulistana em seu desfile em 2022. (Foto: Metrópoles)


Tal filosofia de julgamento, baseada na tentativa invariavelmente frustrada de enquadrar em critérios absolutamente objetivos uma manifestação de natureza artística, incentiva as escolas não a uma produção cultural complexa, ousada ou impactante, mas à reprodução de modelos simplistas, de fácil produção e acabamento, seja em alegorias, aqui tomadas como exemplo, ou em qualquer dos demais quesitos. Alguma escola paulistana ousaria a criação de uma alegoria produzida inteiramente de lixo do carnaval, que dificilmente pode ser descrita com exatidão numa pasta, como a apresentada pela Grande Rio no encerramento de seu carnaval campeão deste ano? Não porque falte criatividade ou competência aos artistas e trabalhadores engajados na produção do carnaval paulistano — mas as escolas topariam o risco de sofrerem sanções de “acabamento”, “proporção” ou “fidelidade à pasta”?

Na prática, esse modelo de julgamento tende a um acomodamento completo das escolas, a esta altura já acostumadas à produção de desfiles protocolares, muito mais propícios a produzirem bons resultados na apuração. Na busca por um carnaval livre de “subjetividades”, a LigaSP se livrou também da criatividade, da ousadia e da inovação em todas as diversas facetas de uma manifestação cultural tão complexa quanto as escolas de samba. Ao invés de rumar “ao maior carnaval do Brasil”, os desfiles das escolas de samba paulistanas rumam a passos largos à monotonia e ao esquecimento.

Corrigir o rumo ainda é possível, mas as mudanças precisam ser drásticas e imediatas. É preciso olhar para as raízes do carnaval de São Paulo, como nos mostrou este ano a Acadêmicos do Tucuruvi em seu desfile-protesto, cuja colocação quase no fim da tabela é a prova viva daquilo que critica:

"E hoje a alma do sambista
Engessada nessa pista
Onde quem tem muito pode mais
Um show que só impera a vaidade
E o samba de verdade vai ficando para trás
Os baluartes que fizeram nossa história
Esquecidos na memória
Implorando o seu valor
No choro da velha baiana, há esperança no olhar
E a força da nossa raiz ninguém pode calar"



Arquiteto e urbanista pela USP e graduando em Cenografia pela UFRJ, Artur Paschoa integra a equipe do carnavalesco Edson Pereira, atualmente no Acadêmicos do Salgueiro. Participa também do Observatório de Carnaval (OBCAR - LABEDIS/MN/UFRJ), onde desenvolveu pesquisa acerca do imaginário das favelas nos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, e é carnavalesco no Carnaval Virtual.
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Por Redação Carnavalize

Fugindo ao tradicional, esse ano as justificativas saíram antes mesmo dos desfiles das campeãs chegarem. Dois dias após os envelopes serem abertos e o destino do Carnaval de 2022 ser traçado, as argumentações dos julgadores já estão no ar e, mais um ano, o Carnavalize fez aquele filtro bonito para você não ficar de fora dessa aventura.

Em meio a caligrafias caóticas, incompreensões e mensagens bem esquisitas, separamos o que há de mais curioso - engraçado, triste...?! - nas rasuras e nos rabiscos do júri do Grupo Especial carioca. E aí, será que tivemos muitas complicações? Simbora conferir!

FANTASIA:

Fantasia foi o primeiro quesito na ordem de leitura das notas. O julgamento do quesito ficou por conta de Paulo Paradela (módulo 1), Helenice Gomes (2), Regina Oliva (3), Sérgio Henrique da Silva (4) e Wagner Louza de Oliveira (5). De maneira geral, quatro escolas conseguiram gabaritar o quesito e a São Clemente foi a que mais notas baixas recebeu, chegando a perder quase 10 décimos por conta de seu conjunto de indumentárias.


As justificativas do quesito começaram com uma queixa recorrente, mas sempre digna de indignação: o excesso de utilização de cores da agremiação. A jurada esperava um desfile da Mangueira verde e branco? Vale lembrar que a mesma, reclamou em 2016 do excesso de vermelho no desfile do Salgueiro… Ainda não aprendeu muito desde então pelo jeito. 


E nascer Kauê… o Palhaço? No quesito, houve um dos maiores absurdos do ano. Um julgador simplesmente tirou ponto da ala 17 da Unidos da Tijuca por representar um elemento que não existe no cortejo da agremiação. Deve ter havido uma confusão nos abre-alas, já que a ala 17 que representa Palhaços está no desfile da Grande Rio… Calor, sol, cansaço, alguém já estava “monange” das ideias, né?


EXPECTATIVA X REALIDADE



No quarto módulo, o julgador esqueceu de pesquisar um pouco sobre o homenageado Arlindo Rodrigues. Como dissemos no vídeo após o desfile, Rosa Magalhães usou os materiais que o artista introduziu na festa como forma de homenageá-lo, um deles exatamente o acetato. E aí, o jurado tira ponto exatamente pelo excesso de… acetato! Arlindo deve ter se revirado no túmulo depois de um cortejo tão belo da Rainha de Ramos.


Mas nem só de absurdos, viveu o quesito Fantasia, teve quem deixou uma bela mensagem para todas as agremiações e seus profissionais, numa bela mensagem de carinho! Fofa!


HARMONIA:

O julgamento de harmonia é sempre um dos mais questionados no universo carnavalesco, esse ano não foi diferente. O quesito julgado por Bruno Marques (módulo 1), Deborah Weiterschan Levy (2), Jardel Maia Rodrigues (3), Rodrigo Lima (4) e Mirian Orofino Gomes (5) só não penalizou duas escolas, a campeã Grande Rio e a vice Beija-Flor de Nilópolis; as demais todas perderam pelo menos 1 décimo no somatório do quesito.


Durante os julgamentos do quesito, nota-se que os avaliadores estavam mais atentos à afinação e ao excesso de uso de “cacos” na execução do samba. Vários pontos foram perdidos por essa razão em diferentes jurados. 

  

 

Ai que feio... que feio... essa julgadora realmente não gosta de "cacos"


Afinação foi definitivamente o argumento "queridinho" dos julgadores de harmonia, será mesmo que o problema estava na afinação dos intérpretes ou no sistema de som caótico da Avenida? Fato é que foi difícil agradar aos avaliadores esse ano.


COMISSÃO DE FRENTE:


Em um ano abaixo das expectativas com efeitos que não funcionaram e “trambolhões” sem muita utilidade, apenas três escolas gabaritaram o quesito. Apesar disso, apenas Imperatriz e São Clemente foram mais penalizadas, no geral, quase todas escolas perderam entre 1 e 2 décimos no quesito avaliado por Gleice Ribeiro (módulo 1), Raphael David Filho (2), Raffael Araújo (3), Rafaela Riveiro (4) e Paola Novaes (5).

E a prova que ninguém mais aguenta “trambolho” em Comissão de Frente já aparece na justificativa da primeira escola, que teve um dessas alegorias que se mostraram pouco úteis durante a apresentação da agremiação.
 

Outro julgado, também apontou o problema do tamanho da alegoria na Comissão de Frente da VIla Isabel, que deixou pouco espaço para seus integrantes dançarem. Justíssimo!
 

Acreditamos que essa julgadora aqui quis dizer o mesmo, mas é difícil afirmar porque ano vai, ano vem e a caligrafia dela se torna cada vez mais ilegível. Não sabemos o que é mais difícil entender, comissão de frente com elemento carro alegórico ou essa justificativa. 



E nem a Comissão Estandarte de Ouro foi poupada! O grupo da Mangueira, coreografado por Priscilla Motta e Rodrigo Negri, venceu vários prêmios, mas para um dos técnicos faltou “apuro” no elemento cenográfico que representava uma favela, com uma estética mais simples e singela. Da próxima será que precisa de uma favela high-tech?



SAMBA-ENREDO:

Só dar para começar com uma gargalha de incredulidade ao comentar o quesito samba-enredo! Um dos mais julgados do ano, apenas duas agremiações fecharam os pontos máximos. Enquanto alguns dos grandes sambas do ano perderam décimos incompreensíveis, outros receberam demais! Os jurados do quesito foram Clayton Fábio Oliveira (1), Felipe Trotta (2), Alessandro Ventura (3),  Alfredo Del-Penho (4) e Alice Serrano (5). 

Avaliada com bastante má vontade e critério excessivo, a Imperatriz também deixou perdeu décimos em samba-enredo com uma justificativa para lá de incompreensível. O jurado criticou a citação da agremiação às co-irmãs Salgueiro e Mocidade, indicando que isso poderia confundir o público. 

Canta IMPERATRIZ, salve a IMPERATRIZ!

Mas os maiores absurdos de samba-enredo não é nenhuma novidade no julgamento do quesito... Dois jurados apontaram o uso que consideram "excessivo" de palavras e expressões de origem africana. Um dos jurados deixou uma observação geral, ainda que elogiando e destacando a presença de "enredos afros", acredita que alguns sambas podem se afastar do público. 


Samba como os da Portela foram despontuados por essa razão, mesmo que ela tenha apresentado um glossário com as expressões em seu abre-alas. Faltou um pouco de pesquisa para entender e pesquisar melhor as palavras citadas pelo samba, né? Poupava essa vergonha.... 


BATERIA:

O quesito de maior alto nível e equilíbrio do Carnaval carioca continua sendo o de bateria. Com excelentes performance na Sapucaí, oito escolas alcançaram os 30 pontos sob a batuta de seus mestres. Foi bateria também, um dos únicos quesitos, em que a rebaixada São Clemente não teve o pior somatório de notas em comparação com as demais escolas. Os responsáveis em atribuir as notas foram: Mila Schiavo (módulo 1), Phillipe Galdino (2), Rafael Barros (3), Leandro Luís de Oliveira (4) e Ary Jayem Cohen (5).



Sem tantos absurdos no quesito, a gente destaca apenas o "lamento" do jurado que gostaria de ter apreciado melhor a apresentação da Viradouro que acabou não se apresentando perante as primeiras cabines dos jurados. 


E vale o destaque ao apontamento desse jurado também! Para não dizer que só trazemos os destaques negativos, esse avaliador criticou o vazamento de som dos camarotes e como pode prejudicar o trabalho do júri. Justíssimo! 


ALEGORIAS E ADEREÇOS:

Chegando a mais um quesito, dessa vez bastante concorrido, apenas Viradouro e Grande Rio fecharam com os pontos máximos. Uma lida mais atenta, mostra que algumas escolas no quesito, mesmo com vários erros apontados nas justificativas, perderam bem décimos do que deveriam. Os jurados do quesito foram Teresa Piva (1), Madson Oliveira (2), Fernando Lima (3), Soter Bentes (4) e Walber Ângelo de Freitas (5).



O julgamento de alegorias não teve tantos destaques com outros, mas separamos uma passagem curiosa para a Estação Primeira de Mangueira. Nos primeiros módulos, um dos jurados ficou com "peninha" de despontuar o conjunto alegórico assinado por Leandro Vieira. A gente também ficaria!



ENREDO:

Chegando ao quesito Enredo, mais agremiações garantiram a nota máxima, mostrando um alto desempenho do quesito. Lamentavelmente, algumas que também mereciam boas notas acabaram não recebendo, como a Unidos da Tijuca e belo trabalho narrativo de Jack Vasconcelos. Os avaliadores foram Carolina Vieira Thomaz (1), Johnny Soares (2), Arthur Nunes Gomes (3), Marcelo Figueira (4) e Nilton Santos da Silva (5). 

O quesito teve avaliações bastante criteriosas e justas, não achamos nenhum destaque negativo ou absurdo nas pontuações feitas pelos avaliadores. 


MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA:

Um quesito disputado! Os casais mostraram um trabalho de excelência esse carnaval, com vários deles garantindo notas máximas e se mostrando um dos quesitos mais técnicos da folia. Nada menos que metade das agremiações garantiram os 30 pontos válidos. Algumas perdas de pontos foram bastante específicas, como a da Viradouro causada apenas pela perda do sapato do mestre-sala Julinho na primeira cabine. Os jurados do quesito foram Mônica Barbosa (1), Teresa Petsold (2), João Wlamir (3), Paulo Rodrigues (4) e Áurea Hämmerli (5). 


Um das pérolas do quesito, foi uma jurada que cobrou o "novo" para a apresentação de Matheus Olivério e Squel Jorgea, da Mangueira. Mas, sabemos, cada dia é um momento inédito para uma justificativa tão sem sentido como essa!


E teve ainda recado de jurados aos mestre-salas... Achamos uma discussão pertinente, que vale o registro. Confiram: 



EVOLUÇÃO:

Encerrando nossa lista, o quesito Evolução foi um dos mais problemáticos do ano, com várias falhas no quesito. Ainda assim, cinco agremiações garantiram notas máximas na avaliação dos 5 julgadores: Gustavo Paso (1), Gerson Martins (2), Verônica Cristina (3), Matheus Dutra (4) e Lucila de Beaurepaire (5).



Um destaques das justificativas do quesito não foi exatamente digno de perda de pontos, mas um jurado que deixou sua observação sobre a falta de apresentação da bateria da Viradouro no primeiro módulo. O julgado deixou aperto a possibilidade de debates e conversas sobre o assunto. Vem aí o ciclo de debates sobre Baterias e suas apresentações em módulo. 


Outra observação pertinente também foi do jurado das últimas cabines, que criticou a atuação de jurado da TV Globo em quase prejudicar a evolução da Grande Rio. Não pode, né repórter! 


E para finalizar nosso passeio pelas pérolas, nada melhor que esse comentário do jurado da primeira cabine de Evolução. Ele deixou a ótima sugestão de promover os empurradores das alegorias da Imperatriz a componentes de ala, já que eles tavam mais animados que os outros desfilantes! Bom demais! 



Ficamos por aqui por esse ano, mas voltamos a qualquer momento! Lembrando que o intuito não é desmerecer o trabalho de nenhum jurado, mas apenas lançar um olhar bem-humorado sobre alguns problemas e inconsistências do julgamento do carnaval que precisam ser debatidos. Queremos sempre o melhor para a festa! Até a próxima!








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