por Beatriz Freire e Léo Antan. "Do Setor 1 à apoteose" propõe uma viagem completa por um desfile marcante da história carnavalesca, da concentração à Apoteose, passando dos antecedentes, contextos, histórias de bastidores e análise de todos os quesitos. Um verdadeiro desfile de informações sobre a apresentação escolhida. Em 2010, ano de virada da década, a escola do Borel levou à Sapucaí o enredo "É Segredo", disposto a mexer com os olhos, as reações e...
Hiram Araújo: pioneirismo, coragem e resistência
junho 25, 2017 / BY Carnavalize
por Guilherme Peixoto Estariam medicina e samba tão conectados assim? Gustavo Clarão, compositor e ex-presidente da Viradouro, largou a profissão para se dedicar exclusivamente ao samba. Hiram Araújo, 87, outro ícone da cultura carnavalesca, também tinha a área da saúde como atividade profissional. Falecido nesta sexta-feira, Hiram era historiador da folia e teve papel fundamental no processo de expansão das escolas de samba. A dedicação de Hiram (centro) ao carnaval, rendeu ao médico o título...
Justificativa
A Unidos de Vila Maria mergulha em um mundo mágico e enigmático, onde a alegria, as cores, os sabores e a energia paradisíaca encantam quem o conhece: MÉXICOO México em toda a sua exuberância, com personalidades que enchem o mundo de beleza e felicidade.
Em foco, Roberto Bolaños (o criador do Chaves) que, com seu humor inocente, faz a todos rirem muito. Esse talento mexicano é o grande condutor dessa viagem fantástica a um dos recantos culturais mais belos da Terra!
Portanto, mergulharemos na terra dos Astecas e Maias ao longo da História e essa viagem será contada por Bolanõs, idealizada e apresentada pela nossa escola.
Arriba, muchachos e muchachas! A comunidade da Vila vem com tudo e promete fazer um grande espetáculo para o público do Anhembi e do mundo inteiro!
Certo que difundir e promover o entretenimento, o conhecimento, a cultura e o amor são sempre a nossa maior missão...
Introdução
Com a energia e o encanto de um verdadeiro paraíso na Terra, a Unidos de Vila Maria traz em seu carnaval a magia e a alegria, em uma verdadeira festa multicor: as belezas do México!Berço de Roberto Bolaños, filho dessa majestosa região de variados contrastes, artes e culturas, que se misturam ao humor inocente e ao mesmo tempo fabuloso do Chaves e de toda a sua turma. Figuras que levam até hoje a magia da felicidade, entre sorrisos e gargalhadas.
E é nesse clima festeiro que a escola mostra o seu carnaval, o recanto povos pré-hispânicos que tinham uma evolução fora do comum e nos deixaram um grande legado. Colonizados por ávidos conquistadores espanhóis os quais, com a miscigenação, fizeram nascer, o mexicano, com as bênçãos de Nossa Senhora de Guadalupe, originando assim um povo de rara originalidade e com uma contribuição magnífica para o mundo, seja na culinária, no artesanato, no cinema e na cultura geral.
É recanto de Frida Kahlo e de fabulosos festejos de muito misticismo, que marcam a essência e a vivacidade do mexicano, como a festa dos mortos, que celebra a vida de um jeito bem diferente e enigmático para nós.
E com todo esse poder de força, fé, belezas e alegrias, que a agremiação da zona norte paulistana vem mostrar seu espetáculo e prestigiar o grande público com uma história vigorosa, esbanjando emoção. Arriba Vila!
Sinopse
“Sigam-me os bons!”
“Quem poderá nos defender?” Ele, o Chapolin Colorado! Mas “foi sem querer querendo” que nasceram Chaves e sua turma. Sendo assim cantaremos iluminados pela batida do coração de personagens com humor inocente e irreverente; sambaremos com esse elo de ligação de Maias e Astecas na construção de suas pirâmides, que tinham como objetivo chegar o mais próximo possível do coração dos deuses.
Eis um caso de amor Brasil - México, onde inicialmente encontramos o esplendor das civilizações mesoamericanas. Podemos ver, ainda hoje, a pirâmide Chichen Itza, as serpentes emplumadas, as pirâmides do Sol e da Lua, e belezas naturais e exuberantes, “aproveitam-se da minha nobreza!” “Suspeitei desde o princípio” da chegada dos desbravadores, sua expedição com a busca de informação e riquezas, e que, ao olhar o tão maravilhoso cenário, não sabiam se o que estava diante de si, era real.
Assim ficou marcada a descoberta e a conquista do México, em um encontro entre Cortez e Montezuma II. Um dos momentos mais célebres da história do México e da historia universal no plano simbólico, foi o encontro entre o velho e o novo mundo, entre duas civilizações com valores e crenças distintas, uma movida pelo poder temporal e a outra submetida à vontade dos deuses.
Desta junção entre duas culturas surge a miscigenação. Nasceu o mestiço (o povo mexicano), logo vieram os Mariachis e as belas mexicanas sob as bênçãos da virgem de Guadalupe, originando assim um povo, de rara beleza, com a dança e malemolência a flor da pele. Não há como não se encantar com este povo, que de forma magnífica contribuiu com o mundo inteiro.
“Vocês vão ver, eu vou contar pra minha mãe!”, esse reencontro de grandes ícones da arte, cultura, culinária, cinema, televisão, como Roberto Gomes Bolaños, intérprete e criador de personagens de alcance mundial e grandiosidade, tal como fez Frida Kahlo nas artes plásticas.
Logo começamos os festejos, cercados de muito misticismo e simbolismo, que marcam a essência e a vivacidade dos mexicanos com as festas religiosas e a principal, a dos mortos, que celebra a vida de um jeito bem diferente e enigmático. Uma beleza multicor!
“É que me escapuliu”. A nossa Unidos de Vila Maria, escola da zona norte paulistana vai transformar cultura em arte, humor em alegria.
Arriba Vila, Arriba México!
Canta e encanta Vila Maria!
Histórico
A mais poderosa força do mundo é o amor, que enobrece a alma e faz bater mais forte o coração. Cheios de emoção, repletos de energia e força, nós da Unidos de Vila Maria traremos para o carnaval 2018, um caso de amor ao México, país de variados contrastes e personalidade muito forte, detentor de uma beleza infinita.A nossa comunidade da Vila Maria, com seu samba, sua raiz, seu pavilhão, nosso bem querer, será guiada por um de seus filhos mais ilustres, Roberto Bolaños. Ator, humorista, diretor, roteirista, publicitário, protagonista e criador de personagens como: Chaves e Chapolin, que transformaram arte em alegria, em sua volúpia de humor.
Começaremos nossa viagem com os primeiros habitantes, os povos pré-colombianos, exímios na sua inteligência, sua grandeza, criatividade. Impérios magnânimos: arquitetos, escultores, pintores, astrônomos surpreenderam o Velho Mundo. Guerreiros que nos deixaram um legado maravilhoso e influenciaram a humanidade com grandes invenções.
Seguiremos em frente nesta jornada fabulosa e nos depararemos com desbravadores espanhóis, ávidos de conhecimento, descobertas, riquezas. Atravessando os mares tenebrosos, descobrem e colonizam as novas terras, o novo paraíso. Fundindo-se aí o Velho e o Novo Mundo. Cortês e Montezuma, o branco e o ameríndio.
Neste instante veremos o surgimento do mestiço. Nasce enfim o mexicano. Gente encantadora, alegre, cantante, forte de sua herança cultural, culinária, artesanato, dança, música e cores.
Mariachis e belas muchachas mexicanas cantam e dançam os encantos desse verdadeiro recanto, cenário magnífico, um dos melhores lugares do mundo, de uma gente inigualável no modo de ser e de viver.
Dessa mistura veremos nascer grandes ícones como Frida Kahlo com sua arte impressionante e a Turma do Chaves (obra de Bolaños), levando entretenimento, gargalhadas e muita felicidade.
Relembraremos ainda pratos deliciosos e apimentados, picantes gostosuras, impossíveis de não serem apreciadas pelo sabor, cheiro e paladar. Sombreiros, maracás, pratos coloridos, inúmeras obras literárias e pinturas. Enfim, uma explosão de estrelas de brilho muito intenso.
Setorização
Honradíssimos com o enredo para o carnaval 2018, nós da Unidos de Vila Maria faremos uma exaltação ao México, apresentando a história contada por Roberto Bolaños, o querido Chaves. E em sua abertura traz toda sua turma com sua Vila de alegria e humor.Na alegoria um, voltaremos no tempo e falaremos dos primeiros habitantes dessa terra de encantos e belezas, os povos pré-hispânicos, em destaque os Maias e Astecas, civilizações evoluídas que nos deixaram um grande legado: na arquitetura, com palácios- pirâmides, por meio das quais pretendiam chegar ao coração dos deuses; na matemática, com o uso do zero; na astrologia, com o calendário; nas artes, na invenção do chocolate, da roda e da pipoca.
Na segunda alegoria, contaremos a chegada dos conquistadores espanhóis que atravessando os mares tenebrosos em busca de riquezas acabaram colonizando e miscigenando esse solo.
E da junção das culturas européia e ameríndia, surge na terceira alegoria, o mestiço, o povo mexicano de personalidade forte, expressiva na musica, na dança, no místico jeito de ser. Com muita felicidade canta o Mariachi, dança a bela mexicana.
E dessa mistura surgem grandes ícones, que apresentados pelo Chaves, Chiquinha, Dona Florinda, Kiko, Seu Barriga e todos os personagens dessa bem humorada saga e que enchem os nossos corações de amor!
Sombreiros, maracás, pratos coloridos, baús multicores, comidas típicas, pintura de Frida Kahlo, livros de Bolaños, trazem na quarta alegoria uma profusão de cores e sabores.
E por fim, encerramos esse espetáculo a céu aberto, e a quinta alegoria traz a Festa dos Mortos, principal festividade religiosa, que como tantas outras fazem do México um paraíso fascinante.
Uma imensa escultura de Bolaños (hoje um dos lembrados) desfila mostrando a todos a força do coração cheio de emoção. A Vila Maria com toda garra e samba no pé, emocionada em falar desse grande homem e seus grandes feitos numa terra que lutou pela liberdade e que tem muita fé em sua virgem de Guadalupe.
Arriba Vila Maria! Arriba Vila do Chaves! Arriba México!
Fran Sergio - Carnavalesco
Minha primeira vez... Com Raissa de Oliveira
junho 20, 2017 / BY Vítor Melo
Você se lembra da sua primeira vez no Sambódromo? Seja aqui no Rio, na Marquês, em São Paulo, no Anhembi ou em qualquer outro estado que também cultive um dos nossos maiores patrimônios culturais, o carnaval. Para nós, que amamos essa festa e toda essa atmosfera que a envolve, acredito não existir alguém que não lembre sem um certo tom e ar nostálgicos de sua primeira vez, afinal, diz-se que da primeira vez ninguém se...
por Leonardo Antan e Beatriz Freire
Desde seu surgimento, o carnaval das escolas de samba sempre se relacionou diretamente com o poder público. O Estado e as agremiações travaram relações de diálogo, de controle, mas também de negociações. Como protagonistas de suas próprias histórias, as escolas de samba nem sempre foram apenas controladas, mas de maneira típica da malandragem em que o samba se criou, conseguiram muito bem alcançar seus objetivos. No Dossiê de hoje, o Carnavalize explica um pouco melhor como se deu a ligação entre as escolas de samba e o Estado ao longo de tantos anos.
Pedro Ernesto e a oficialização
O surgimento das escolas de samba em 1930 está profundamente ligada a atuação do prefeito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, de sua época. Pedro Ernesto, aliado do presidente Getúlio Vargas e populista, viu na folia uma fonte de renda para a cidade e de votos para seu mandato. Sua relação com a festa foi íntima, já no primeiro carnaval sobre seu mandato o evento recebeu o tratamento de principal atração turística da cidade. Organizando todos os festejos no calendário da cidade, não houve distinção, tantos as manifestações mais nobres, como os corsos e a grandes sociedades, como as mais populares, como os ranchos, blocos e banhos de mar a fantasia, entraram no calendário. Houve ainda a criação do tradicional baile do Teatro Municipal.
Se hoje, pode-se achar estranho os desfiles estarem relacionados a pasta do Turismo e não da cultura, essa relação é histórica e iniciada nesse momento. Durante a década de 1930, a prefeitura do Rio de Janeiro não mediu esforços para desenvolver sua política, na tentativa de se aproximar das classes populares cada vez mais, a Municipalidade oficializou o carnaval. Além de apoiar as sociedades carnavalescas, concediam ajuda financeira para a organização das festas. Estabelecendo uma aliança com a imprensa e os sambistas, a prefeitura realizou propagandas em outros países para atrair turistas para a capital do Brasil durante a festa popular.
A criação da UES e o seu regulamento
Com o primeiro desfile realizado em 1932, as escolas rapidamente se organizaram criando sua primeira liga institucionalizada em 1934. Quando surgiria a União das Escolas de Samba (UES), com um regulamento severo que constava a proibição dos instrumentos de sopro e obrigatoriedade da alas das baianas. Os dois itens curiosos garantiam o desejo da escola de samba de aderir o projeto nacional de criação de uma identidade nacional. Neste contexto, as escolas se tornariam as legítimas representantes da cultura nacional, representando o "verdadeiro samba." O primeiro concurso oficial entre escolas de samba ocorreu em 2 de março de 1935, domingo de carnaval, na Praça Onze. A vencedora foi a Portela, ainda chamada de Vai como Pode, com o enredo “O samba dominando o mundo”.
A primeira verba
A UES buscava manter um bom relacionamento com a prefeitura. Se, por um lado, Pedro Ernesto oficializou os desfiles e distribuiu subsídios às escolas, por outro, a UES, sempre que podia, declarava seu apoio ao prefeito, seja em festas, discursos e até nos desfiles. Além disso, não perdia a chance de agradecer pelo apoio e reconhecimento. À época, a prefeitura liberou dois contos e quinhentos réis para que a UES dividisse entre as 25 escolas de samba inscritas no concurso, que naquele ano foi promovido pelo jornal A Nação. O primeiro carnaval de atuação da UES foi em 1935. No mesmo ano em que foi criada a União das Escolas de Samba, também foram criados o Departamento de Turismo no Distrito Federal e a Comissão de Turismo da prefeitura do Rio de Janeiro. Nesse sentido, o apoio oficial pioneiro dado pela prefeitura ao desfile das escolas de samba, em 1933, fazia parte da estratégia inovadora de mudar a imagem do Estado de repressor a aliado, mas, por outro lado, também tinha um intuito eleitoreiro de curto prazo.
Getúlio Vargas e projeto populista
No braço político, o governo de Getúlio Vargas traria o projeto da construção de uma imagem do "Brasil" a ser exportada. O panorama social da época girava em torno da tentativa de inserção e aceitação sociocultural pelos quais os negros, marginalizados até então, lutavam; do outro lado, havia um Estado de caráter disciplinador, tentando organizar os espaço das ruas e as camadas consideradas provedoras da desordem. A forma achada para a aceitação do batuque, das festividades essencialmente negras e brasileiras, e da voz que o morro queria expor foi a negociação com o Estado.
As agremiações sempre buscaram os buracos do diálogo, em claros moldes que passeavam entre a concessão e o controle estatal. As temáticas nacionais, por exemplo, provam essa relação durante a Era Vargas; não foram especificamente impostas pelo Estado, mas se alinhavam perfeitamente ao objetivo de exaltação à pátria em um momento que o Nacionalismo era uma característica a ser esculpida e aperfeiçoada no Brasil. A não-obrigatoriedade somado ao fato da realização, ilustram muito bem o encaixe das escolas de samba em situações favoráveis à sua aceitação. Foi a forma encontrada para que os sambistas, majoritariamente negros, conseguissem legitimar, finalmente, a sua herança, mesmo que em uma relação de submissão. Nesse contexto, se destacou a Portela com enredos patrióticos que garantiram a impressionante marca de seu famoso hepta-campeonato.
Anos de Chumbo: o caso Heróis da Liberdade
Os anos 60, da Revolução de Pamplona no Salgueiro, da estética e das temáticas diferenciadas desde então que o carnaval apresentava, de forma geral, também foi alvo da censura da nuvem que sombreou o Brasil por vinte e um anos. A chegada da Ditadura Militar pelo Golpe de 1964, muito interferiu na festa carnavalesca. O regime se tornava cada vez mais autoritário e a mão da opressão vinha forte na censura; as escolas de samba, já consolidadas, não escapariam do alvo do Regime, já que também eram as vozes da sociedade e do momento político que o Brasil vivia, inclusive de seus descontentamentos com a morte da liberdade em seus variados sentidos.
Pouquíssimo tempo depois do marcante AI-5, o Império Serrano desafiou a norma vigente da obediência, como foi feito em alguns casos durante o período, e desfilou o enredo Heróis da Liberdade. Em um trecho do antológico samba de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, a Serrinha cantou "Essa brisa que a juventude afaga / Essa chama / Que o ódio não apaga pelo universo/ É a evolução em sua legítima razão". A verdade é que a evolução foi o disfarce. A letra original continha explicitamente em sua letra a palavra "revolução", termo carregado de significância, mais do que o habitual, pro momento à época. Como esperado, a censura exigiu a troca, e aviões sobrevoaram o desfile do Império Serrano naquele ano, numa tentativa de abafar os desfiles. As tentativas, porém, foram falhas para uma escola com chão forte e que gravou sua coragem nas páginas de nossa história.
A Beija-Flor e os enredos chapa-brancas
Com o governo ditatorial, as escolas de samba seriam novamente vistas como verdadeiros outdoors políticos. Em 70, o presidente da Associação das Escolas de Samba, Amauri Jório, fez uma viagem à Brasília, com o desejo de conseguir apoio financeiro para as agremiações. Com isso, durante os anos de chumbos, várias agremiações iriam de encontro aos ideais de desenvolvimento do Brasil nos anos 70, com o chamado "milagre econômico". Nesse contexto, a Beija-Flor ficaria marcada por enredos como "Grande decênio" e "Brasil anos 2000", mas ela não seria a única a promover esses tipos de desfiles. O samba da Imperatriz em 1972, sobre "Martin Cererê", também iria de certa forma as desejos do governo: "gigante pra frente, a evoluir". Além de enredos da Caprichosos de Pilares (Brasil, a flor que desabrocha), Império da Tijuca (Brasil, explosão do progresso), entre outras como Manguinhos e Unidos de Lucas.
A chegada da contravenção
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Famosos bicheiros envolvidos com a folia: Castor de Andrade, Anísio Abraão David e capitão Guimarães. |
Os anos 1970 marcariam ainda o estabelecimento definitivo de um novo cenário entre a relação das escolas com poder público. Despontariam nas escolas a figura dos bicheiros que usavam as escolas como forma de lavar dinheiro e de limpar sua imagem perante a sociedade, com liberdade para circular nos dias de folia. Desde Natal da Portela e depois com Osmar Valença no Salgueiro, a relação de algumas escolas com o poder paralelo já era estreita e se intensificou com a chegada de figuras que serviram para alavancar o crescimento das escolas e a lógica do espetáculo. Nesse cenário, as "três irmãs" (Mocidade, Imperatriz e Beija-Flor) que venceram os grupos das "4 grandes" (Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro) que se revezavam no poder, contaram todas com o apoio de seus patronos para contratar os melhores carnavalescos e conseguir bons resultados. No Mocidade, a figura carismática e controversa de Castor de Andrade fez história; na Beija-Flor, se instalou a família Abraão David e na Imperatriz, a Drummond.
Anos 80: revolucionária e Diretas Já
Dez anos após louvarem o governo ditatorial, o discurso das escolas de samba mudaram junto com o cenário sócio-político. Num raro momento de sua história, as escolas se voltaram contra o poder estabelecido em prol de ecoar na avenida o grito pelas "Diretas-Já" na metade dos anos 1980. Tudo começou no primeiro ano da década, quando Fernando Pinto em sua "Tropicália Maravilha", escreveu "Anisita", aprovada um ano antes, na alegoria que trazia representada o Congresso Nacional em meio as onças e feijões com composições trajadas com as siglas de partidos políticos.
Em 1984, o rei da crítica política carnavalesca, Luiz Fernando Reis, colocaria de vez o pé na porta ao trazer um carro que clamava pelas "Diretas Já". A Caprichosos cantaria a "saudade dos tempos que o povo escolhia diretamente o presidente", junto a ela, a São Clemente também se caracterizaria por levar temas críticos e afiados. As duas foram seguidas pelas demais e o carnaval de 1986 marcaria esse processo. Primeira folia após o fim oficial do regime, as escolas gozaram da maior liberdade temática, quase todas as escolas levariam em seus enredos e sambas alguma menção ao contexto da época.
Em 1984, o rei da crítica política carnavalesca, Luiz Fernando Reis, colocaria de vez o pé na porta ao trazer um carro que clamava pelas "Diretas Já". A Caprichosos cantaria a "saudade dos tempos que o povo escolhia diretamente o presidente", junto a ela, a São Clemente também se caracterizaria por levar temas críticos e afiados. As duas foram seguidas pelas demais e o carnaval de 1986 marcaria esse processo. Primeira folia após o fim oficial do regime, as escolas gozaram da maior liberdade temática, quase todas as escolas levariam em seus enredos e sambas alguma menção ao contexto da época.
Brizola e a construção do Sambódromo
Em tempos da lenta, gradual e segura abertura que o regime militar fazia para os caminhos da redemocratização, o governador Leonel Brizola e seu vice, Darcy Ribeiro, foram nomes importantes para o futuro das escolas de samba. Da parceria surgiu a ideia de construir um lugar próprio para a realização dos desfiles, com a justificativa de que o processo de montar e desmontar as arquibancadas era um processo caro, além de tirar o aspecto popular do carnaval, já que eram cadeiras. A ideia veio aliada a uma proposta educacional de abrigar um complexo educacional sob as arquibancadas ao longo de toda a passarela do samba. Foi a forma que encontrou-se de cuidar de duas questões importantes para a cidade: a educação e os gastos do Carnaval.
Esquema empresarial e enredos patrocinados
Com a criação da LIESA em 1985, tentaria-se implementar na festa um modelo empresarial que buscava vender o carnaval espetacular, afastando as camadas mais pobres dos desfiles. O quesito passou a mandar, e a Imperatriz passou a conhecer as regras do jogo e garantir vários campeonatos. A lógica foi seguida pela Beija-Flor nos anos 2000, e posteriormente pela Unidos da Tijuca, que ficariam conhecidas como "escolas técnicas."
Neste sentindo, as escolas de samba também ganharam o caráter de verdadeiros outdoors coloridos na Avenida, servindo como fonte de marketing e propaganda para as mais diversas marcas, produtos e até mesmo locais, cheios de estratégias econômicas e políticas. As divulgações sempre vieram acompanhadas de uma ajuda de custo, um patrocínio com boa quantidade de dinheiro para ajudar as escolas de samba. O problema, no entanto, é que muitas escolas, a exemplo da Unidos da Tijuca, sacrificaram suas notas no quesito enredo em nome da ajuda monetária de empresários. A Sapucaí, apesar de ser palco de grandes ensinamentos extremamente necessários ao nosso intelecto, muitas vezes se confunde com um grande site de anúncio ou com um mapa geográfico. O problema dos patrocínios foi o crescimento mais do que exagerado da festa, atingindo patamares encantadores aos olhos, mas problemáticos em sua estrutura. O que poderia ser uma fuga ao modelo de dependência ao poder público acabou se revelando como um novo e perigoso vilão.
César Maia e a Cidade do Samba
Quem for à Cidade do Samba, entrando pelo portão principal de frente para o Porto Maravilha, dará de cara com um busto em bronze. Os mais desavisados podem achar, ainda de longe, que se trata a uma homenagem a algum grande sambista ou personalidade do carnaval, mas ao se depará com a placa logo abaixo da estátua verá o nome de César Maia. A homenagem é icônica no sentindo de entender a relação morde e assopra das escolas com o poder público, César Maia foi prefeito do Rio em várias oportunidades entre os anos 90 e 2000. Colocou seu nome na história da folia, ao inaugurar em 2005, a Cidade do Samba. Amplo e multiuso, o prometido espaço dedicado aos barracões da escolas marcaram o fim da peregrinação das agremiações pelos imundos e insalubres barracões improvisados localizados na zona portuária. Seria o reforço da chegada empresarial e industrial das escolas, ao longe de mais de 10 anos de utilização do espaço, ele se tornou sub-aproveitado pelas escolas e sem o aproveitamento do uso possível do lugar.
O prefeito pega no chocalho
Como todo político, Eduardo Paes teve pontos irregulares e bastantes questionáveis enquanto prefeito do Rio de Janeiro. Porém, sob o ponto de vista cultural, principalmente das escolas de samba, não apresentou grandes problemas, sendo, inclusive, um declarado torcedor da Portela e admirador do festejo. Em 2010, algumas escolas foram bonificadas por uma reforma geral em suas quadras em troca do uso do espaço para eventos e projetos das secretarias da Educação e da Cultura. Em 2012, no âmbito da preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, reformou o Sambódromo da Marquês de Sapucaí com a construção de novos módulos de arquibancada. Bom ou ruim aos julgamentos do povo, a realização do acordo estreitou a relação entre as agremiações e a prefeitura, garantindo, mais uma vez, o papel de instituições importantes para o desenvolvimento da cidade como um todo. Chamaram atenção ainda uma série de enredos em louvor a cidade, muitos feitos pela sua história de coração: a Portela, mas também levado a cabo por escolas como a Estácio de Sá e a União da Ilha.
A chegada do Bispo
As eleições para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro foram calorosas. Como todo político em sua campanha, o candidato Marcelo Crivella, conhecido pela sua ligação mais do que forte com a Igreja Universal do Reino de Deus, também apresentou suas propostas às escolas de samba, parte importante da cultura e, de forma ou outra, da economia do Rio de Janeiro. Sempre questionado por seus gostos particulares e a mistura entre política e religião, Crivella manteve seu discurso habitual de que os assuntos eram pontos distintos e que a subvenção às escolas de samba permaneceria intocada. A questão é que após a negociação da LIESA e das próprias escolas com o Bispo e seus projetos, a palavra que foi dada, infelizmente, não foi cumprida.
Há poucos dias o prefeito anunciou o corte de 50% da subvenção do Grupo Especial e também da Série A, somado ao fato da não disponibilização de estrutura para que seja realizado o carnaval da Intendente Magalhães, onde as escolas dos grupos de acesso desfilam. O argumento utilizado passeou pela necessidade de investimento em creches, o que claramente se revela como uma desculpa de uma manobra que se faz para enfraquecer o carnaval e a subversão que a festa traz. As escolas de samba, encurraladas pela falta de dinheiro e por posturas equivocadas de uma Liga, se veem incapazes de proporcionar ao público o Maior Espetáculo da Terra.
Há poucos dias o prefeito anunciou o corte de 50% da subvenção do Grupo Especial e também da Série A, somado ao fato da não disponibilização de estrutura para que seja realizado o carnaval da Intendente Magalhães, onde as escolas dos grupos de acesso desfilam. O argumento utilizado passeou pela necessidade de investimento em creches, o que claramente se revela como uma desculpa de uma manobra que se faz para enfraquecer o carnaval e a subversão que a festa traz. As escolas de samba, encurraladas pela falta de dinheiro e por posturas equivocadas de uma Liga, se veem incapazes de proporcionar ao público o Maior Espetáculo da Terra.
A verdade é que o corte pouco fala sobre a economia e prioridades, mas muito revela sobre um gosto particular de alguém que preza pela moral religiosa e que, aos poucos, a impõe a toda uma cidade que deveria ser plural.
O futuro das escolas é imprevisível. Desde o carnaval marcante negativamente deste ano, com os preocupantes acidentes, urge a necessidade renovação da festa e sua atualização no cenário social. A maioria da população concorda com a decisão do prefeito, é chegada a hora das escolas voltarem ao seu protagonismo e marcar um novo capítulo em sua importante e fundamental história.
Referências: Os livros "Pra tudo começar na quinta-feira", de Luiz Antônio Simas e Fábio Fabato, e "Livro de ouro do carnaval brasileiro", de Felipe Ferreira. Além dos artigos, "O Carnaval institucionalizado no Rio de Janeiro: Programas de Turismo" e "O Carnaval carioca oficializado: a aliança entre sambistas e prefeitura do Rio", ambos de Paula Cresciulo de Almeida disponíveis onlines.
SINOPSE | Portela: “De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá”
junho 14, 2017 / BY Carnavalize
G.R.E.S. Portela – Carnaval 2018 “De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá” Por Rosa Magalhães II Minha gente, se prepare Que essa história vale a pena Tome assento, se acomode E vejam que entra em cena E quem sai, onde se passa Onde termina, ou começa De onde vem ou se destina III E por mais que cause espanto Os fatos que ora apresento Quem achar que isto é mentira...