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Carnavalize


Texto: Talitha Dejesus

É impossível falar sobre Carnaval Paulistano e seu crescimento sem falar de quatro agremiações e suas histórias: Nenê de Vila Matilde, Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e Unidos do Peruche. Junto com Lavapés, essas escolas são as raízes do samba paulistano e cada uma delas conta uma parte da história social do Carnaval na Terra da Garoa.

Dentro do Carnaval, mudou-se muita coisa: o palco, as agremiações, os modelos de desfile, as formas de julgamento... quase tudo se remodelou! Mas, apesar disso, há algumas histórias que não se apagam. Juntas, Nenê, Vai-Vai, Camisa e Peruche somam 40 títulos no carnaval paulistano. São os tempos áureos das agremiações tradicionais que iremos recordar no texto de hoje.

 
Unidos do Peruche 1967: Exaltação a São Paulo


Conhecida como “A Filial do Samba’’, a Unidos do Peruche possui como últimas grandes posições os vice-campeonatos dos anos de 1989 e 1990 e, atualmente, integra o Grupo de Acesso 2. Não podemos, porém, apagar que ela é uma das mais tradicionais do Carnaval de São Paulo.


Em 1967, com um desfile que fez homenagem à cidade de São Paulo, destacando-a por ser a Terra da Garoa com suas avenidas e arranha-céus, a Unidos do Peruche conquistou seu último título no grupo de elite, fato que ocorreu quando os desfiles ainda não tinham sido oficializados pela Prefeitura. A letra do samba foi composta por Seu Carlão, um dos fundadores da escola, que exerce suas atividades por lá até hoje!


Camisa Verde e Branco 1977: ‘’Narainã, A Alvorada dos Pássaros’’


De cordão até escola, a Camisa Verde e Branco, que hoje ocupa lugar no Grupo de Acesso, teve seus momentos de glória e carrega 9 títulos, sendo 5 deles somente na década de 70.




Em 1977, a agremiação contou a lenda de uma índia transformada em ave por um pajé. Com esse desfile, a Camisa conquistou seu tetracampeonato. (Galvão, É TEEEETRAAAAA!!!). O samba composto por Ideval Anselmo, Zelão e Jordão é considerado um dos mais significativos de toda a história do samba paulista.

 
Nenê de Vila Matilde 1985: ‘’O Dia Que o Cacique Rodou a Baiana Aí Ó’’


Até 2000, a Nenê foi a agremiação com mais títulos do carnaval da capital, fato que coroou a escola como ‘’A Campeã do Século”. A escola da Zona Leste sempre gostou de trazer questões sociais em seus desfiles. O Carnaval mais marcante da história da agremiação aborda a desigualdade social brasileira no período da década de 80 e o caso do cacique Juruna.

Visão aérea de parte do desfile da Nenê de 1985. Foto: Reprodução/Carnaval Memórias.
A Nenê foi pioneira em implementar elementos cariocas em seus desfile, e, ao consagrar-se campeã, a escola foi convidada para participar do desfile das campeãs no Rio de Janeiro ao lado de Mocidade Independente e Beija-Flor. Até hoje, foi a única escola paulistana a desfilar na Sapucaí. 

 
Vai-Vai 1988: ‘’Amado Jorge, a História de uma Raça Brasileira’’


Ainda na Avenida Tiradentes, local nostálgico que foi um marco na reafirmação das escolas de samba, a agremiação do Bixiga fez uma homenagem ao escritor Jorge Amado, um dos mais fundamentais do Brasil.

Integrantes da bateria do Vai-Vai festejam o desfile. Foto: José Monteiro/Folhapress.

Desenvolvido pelo carnavalesco Ulisses Cruz, o desfile é considerado um dos carnavais mais inesquecíveis da escola. O samba enredo, na época foi cantado por Tobias do Vai-Vai, até hoje sacode a multidão em festas e apresentações.
 

Camisa Verde e Branco 1991: ‘’Combustível Da Ilusão’’


O primeiro desfile do Carnaval paulistano no Sambódromo do Anhembi. O título do grupo especial foi dividido, pelo segundo ano consecutivo, entre Camisa Verde e Branco e Sociedade Rosas de Ouro.

Alas e elemento alegórico no desfile da Camisa de 91! Foto: Reprodução/Acervo Folha Uol.

Conquistando seu tricampeonato, a Camisa contou a história da cerveja, apontando do que é feita, as origens da bebida, sua trajetória na Europa e só depois sua chegada ao Brasil e seu papel como “combustível da ilusão.


Nenê de Vila Matilde 2001: Voei, voei, na Vila aportei, onde me deram a coroa de rei


Após 16 anos sem títulos, em 2001, a escola de samba da Zona Leste conquistou seu 11º campeonato. O título deste ano foi dividido com a escola de samba Vai-Vai.

O pássaro símbolo maior da Nenê! Foto: Reprodução/Anhembi Parque.

A Nenê é uma das escolas mais ligadas às temáticas africanas em São Paulo e este desfile contava a trajetória do negro e de suas contribuições nas ciências, artes e música. O samba que trazia a caracterização da escola de samba como a ‘’zona da paz’’ embalou o último título no Grupo Especial da escola de samba da Zona Leste.
 

Vai-Vai 2008: ‘’Acorda Brasil! A saída é ter esperança’’


Um campeonato um pouco mais atual que o restante foi o 13º título da Saracura. O enredo inspirado na peça do empresário Antônio Ermírio de Moraes, retratou as desigualdades e injustiças sociais da educação pública brasileira e apontou as possibilidades de solução como uma mensagem de esperança. 

Componentes do Vai-Vai durante a forte apresentação de 2008. Foto: Reprodução/Acervo Vai-Vai.

O carnaval desenvolvido por Chico Spinoza é uma mensagem nacional e considerado um dos mais significativos na história da ‘’Escola do Povo’’. Após o ano de 2008, o Vai-Vai conquistou mais 2 títulos no Grupo Especial, em 2011 e 2015, consgrando-se como a maior campeã do Carnaval de São Paulo.
 
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Texto: Beatriz Freire, João Vitor Silveira e Thomas Reis


"Do Setor 1 à Apoteose" propõe uma viagem completa por um desfile marcante da história carnavalesca, da concentração à Apoteose, passando por antecedentes, contextos, histórias de bastidores e análise de todos os quesitos. Um verdadeiro cortejo de informações sobre a apresentação escolhida! Durante o mês de setembro, a cada segunda-feira, destrinchamos um desfile escolhido pelo público a partir de enquetes realizadas em nosso Instagram (sigam @igcarnavalize) e também no Twitter (@carnavalize). 

Nossa temporada de retomada da série abarca um processo imprescindível de contribuição dos padrinhos e madrinhas que impulsionam o trabalho do Carnavalize. Para o nosso último texto (coro de lamento), contamos com a colaboração de três padrinhos: Renato Cabral, Vitor Vieira e Danielle Souza estão representados por União da Ilha 1990 (Sonhar com rei dá João), Renascer de Jacarepaguá 2009 (Como vai, vai bem? Veio a pé ou de trem?) e Império Serrano 2017 (Meu quintal é maior que o mundo). Agradecemos mais uma vez aos nossos padrinhos e madrinha pela luxuosa contribuição e convidamos todos a conhecerem nosso instrumento de apadrinhamento. 

Como um dos maiores expoentes da cultura brasileira, desde o rebaixamento para a Série A em 2009, o Menino de 47 passou alguns anos tentando beliscar novamente uma vaga no Grupo Especial. A passagem pelo segundo grupo rendeu bons momentos de conexão com suas raízes, como quando homenageou Dona Ivone Lara, a jóia rara do samba, em 2012, passou uma mensagem de fé, em 2015, e também quando reverenciou Silas de Oliveira, no carnaval de 2016. Estes dois últimos, aliás, eram os pontos de uma trilogia pensada para o Império Serrano de 2015 a 2017, fundamentada sobre três ideias: a fé, a raiz e a herança, respectivamente. 


Menino Bernardo em meu ser, reinvento o meu Pantanal


Assim, no ano de seus 70 anos de existência, em 2017, até se cogitou fazer uma homenagem própria à escola da Serrinha para que a sequência finalmente fosse finalizada (a herança). Mas, no final das contas, os olhos se voltaram para a os feitos de Manoel de Barros, usando a obra homônima do poeta, para Marcus Ferreira, que chegou à agremiação naquele ano, desenvolver o enredo “Meu quintal é maior que o mundo”.

“Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou
abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que
fui salvo.”
(Manoel de Barros, do "Livro das Ignorãças", 
Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1993, pág. 107.)


A logo oficial do enredo desenvolvido por Marcus Ferreira.

O enredo conduzido por Marcus se propôs a versar de forma poética sobre a trajetória de um dos maiores literatos da contemporaneidade, o poeta brasileiro Manoel de Barros. Foi a partir do seu olhar poético sobre sua terra que a história ganhou a Sapucaí. De origem mato-grossense, nascido em Cuiabá, o homenageado sempre teve seu olhar voltado para a região do Pantanal, muito presente em todas as suas obras. Desta forma, o ainda jovem carnavalesco buscou, por meio da subjetividade presente na obra de Manoel e no seu amor por sua terra, o fio condutor da narrativa. A viagem pantaneira contava com o auxílio mais que especial de Bernardo, um dos principais personagens da obra do poeta, que exprimia toda sua brasilidade e mística rural.

Sobre Bernardo:
Espécie de totem, deus, guardião da natureza sagrada. Mítico que domina o mundo natural pantaneiro.
Fazedor de amanhecer. Guardador das águas. Encantador de pássaros.
Matuto pantaneiro, meu fazendeiro.
"Reizinho" do meu quintal.
Bernardo: meu outro eu.

A narrativa foi dividida em quatro partes embasadas em todo o regionalismo do poeta. O primeiro setor demarcava o “Fazedor de amanhecer”, percorrendo toda a origem da terra pantaneira que se estende para além dos limites da fronteira brasileira, tomando parte das regiões da Bolívia e do Paraguai. O segundo setor partia para “O guardador de águas”, passando pelo "Mundo natural do pantaneiro"; no terceiro, e por fim, desaguava em "Um pantaneiro a lutar". 
 

A minha história já fala por mim

A Comissão de Frente coreografada por Júnior Scapin. Foto: Wigder Frota. 


Sob o comando de Júnior Scapin, nome conhecido do quesito, o corpo de baile se apresentou em dois atos, com o título “poesia é voar fora da asa”. Em um primeiro momento, os componentes trajavam vestes indígenas, associando o Pantanal a esta figura nativa. Um tripé com um ipê, árvore-símbolo da região, acompanhou o grupo que em um segundo momento fazia acontecer a transformações de pajés feiticeiros em animais pantaneiros. Ao final da apresentação, a figura de Manoel surgia pela abertura de uma janela que acompanhava a frase da cabeça do samba. 

O primeiro casal de porta-bandeira e mestre-sala da Serrinha. Foto: Wigder Frota.

Raphaela Caboclo, em dado momento da sua vida, passou mais tempo como porta-bandeira da Serrinha – independente do posto de terceira, segunda ou primeira – do que longe da dedicação à condução do manto sagrado imperiano. Em 2017, formava, pelo terceiro ano seguido, dupla com Feliciano Júnior; a cumplicidade e o entrosamento eram tantos que pareciam ter aprendido a se movimentar juntos naquela dança desde sempre. Em vestes sem as tradicionais penas utilizadas, mas feitas de capim barba de bode, os dois jovens e experientes talentos representavam o índio e a perdiz, personagens de “O primeiro poema” - curiosamente o último poema do livro “Menino do mato”, de autoria do homenageado. Graciosos em uma apresentação não menos que perfeita, os guardiões abriram os caminhos para a comunidade de Madureira passar. 


O nosso verde fez o céu emocionar


Do ponto de vista estético, o reizinho de Madureira cumpriu muito bem o proposto. O conjunto alegórico se destacou por apresentar cinco carros imponentes, com cores vívidas e bem decorados, que se mantiveram equilibrados desde o abre-alas até a última alegoria. Por falar no abre-alas (Meu quintal é minha aldeia), esta foi a alegoria que mais se destacou, sobretudo por sua estética diferenciada, dividida ao meio por duas tonalidades: uma metade o ouro do Eldorado, a outra marrom do pantanal brasileiro, carregando toda a mitologia que se perpassou pela região. 

O abre-alas evocava o Eldorado. Foto: Fernando Grilli.

A alegoria levou à Avenida o símbolo máximo do Império, a coroa. Na ocasião, em especial, o carnavalesco buscou resgatar o primeiro modelo da coroa, concebido na fundação da escola, em alusão aos 70 anos completados em 2017. A segunda alegoria, “Caracol é uma casa que anda”, foi um banho de cores cítricas para representar a natureza da região centro-oeste do país com um toque poético bem compatível com o homenageado. Apesar do toque criativo e das boas soluções estéticas, a alegoria apresentou alguns problemas de execução decorativa, com algumas madeiras à mostra. 

Para fechar a narrativa, contou-se com mais duas alegorias. O terceiro carro, “Passarinhos construíam casas na aba do seu chapéu de palha”, trazia em sua parte frontal uma enorme escultura de Bernardo, o personagem de Manoel, que conduzia a história contada pela verde e branco. Os tons cítricos que permearam todo o desfile se fizeram presente nesta alegoria também; com uma iluminação robusta, o carro ganhou vida, mas o excesso de adereços em determinados pontos acabam poluindo um pouco a construção. 

A segunda alegoria lembrava o verso "Caracol é casa". Foto: Wigder Frota.

No entanto, nada comprometeu a beleza estética da alegoria. Por fim, mais uma imponente alegoria, “O Pantaneiro encontra o seu ser”, com destaques coloridos, um certo excesso de adereços e, mais uma vez, o símbolo da escola, desta vez no centro carro e com movimento giratório. O equilíbrio entre as cores e a iluminação das alegorias merece ser reverenciado por ter dado vida e dinamismo ao bom conjunto alegórico apresentado pela escola. 

O equilíbrio entre as alegorias não se fez presente por entre as alas, apesar do desempenho positivo e o cumprimento do proposto com excelente adequação ao enredo, as fantasias alternaram entre soluções criativas e outras nem tanto. Se por um lado as fantasias não eram tão luxuosas, por outro, a utilização das cores foi muito acertada. A escola formou um belo tapete, voltado especialmente para o verde, amarelo e laranja, com ressalvas em tons terrosos e de palha. De maneira geral, o visual conseguiu retratar muito bem o tom artístico do poeta e toda sua leitura do pantanal brasileiro, sua terra, seu quintal. A estética da escola se fez poesia, assim como as obras de Manoel de Barros, e versou muito bem sobre as terras do centro-oeste brasileiro. 


Você já sabe quem sou pelo toque do agogô


O samba do ano de 2017 é mais um a compor a galeria de grandes sambas do Império Serrano. A composição tem diversos trechos poéticos e de muita beleza, além de transições melódicas bem interessantes. A estrutura de utilizar um refrão de meio mais longo e sem repetição foi uma saída criativa para poder fugir da fórmula padronizada que tomou o gênero do samba-enredo ao longo dos anos. O samba foi muito bem conduzido na Avenida pelo intérprete Marquinhos Art’Samba, que defendia o pavilhão da Serrinha pela primeira vez, tendo uma boa identificação com sua comunidade já na sua estréia.
 
O samba composto por: Lucas Donato, Tico do Gato, Andinho Samara, Victor Rangel, Jefferson Oliveira, Ronaldo Nunes, André do Posto 7, Vagner Silva, Vinicius Ferreira, Rafael Gigante e Totonho, um verdadeiro time de futebol, foi bem aceito ao vencer a disputa, muito pelo refrão de cabeça, icônico. Eram elementos da obra a exaltação da história do Menino de 47, além da reverência a uma das grandes características da bateria do Império Serrano: o característico toque de agogô. (saiba mais na série Batuques.)

Um ritmista da bateria sinfônica em 2017. Acervo Império Serrano.

A bateria do Império Serrano, que inclusive deu um show com um dos melhores anos recentes da Sinfônica do Samba, conduzida pelo Mestre Gilmar, desfilou com uma cadência daquelas pela pista. Gilmar, inclusive, falou um pouco conosco sobre sua perspectiva sobre o desfile de 2017:

“Nós vínhamos de um desfile no ano de 2016 onde as características da bateria tiveram que mudar um pouco por conta do samba. A diretoria pediu que acelerasse o andamento por conta do samba, e eu falei muitas vezes que não daria certo, a bateria do Império não teria um bom desempenho com um andamento acelerado, porém eu sigo ordens. Foram dois 10 e duas notas inferiores naquele ano. Para 2017, comecei os trabalhos com novos pensamentos, toda minha diretoria entendeu que seria importante mudar em tudo. Dei oportunidade a novos diretores, ensaiamos por módulos, cada dia um naipe, limpamos literalmente os toques que achamos errados no desfile. Os ritmistas estavam meio desanimados por conta do desfile anterior. Então privamos em bossas simples mas com um ritmo firme, a bateria é muito acostumada a fazer bossas, e fazer ritmo por muitos ensaios foi bem desafiador. Daí veio a escolha de samba e uma final linda, unanimidade a escolha, acho que todos queriam o samba.
Samba lindo, melodias diferentes porém ajudando muito os desenhos de cada instrumento.”

Ainda que tenha tido um foco bem grande no ritmo, a Sinfônica apresentou bossas maravilhosas no desfile, que exaltaram todas as características principais de sua orquestra: o toque das caixas, a afinação dos surdos, os seus tamborins e o naipe de agogôs. O Mestre fala um pouquinho mais sobre o trabalho até chegar no desfile:

“Continuei trabalhando ritmo, só ritmo. Quando achamos que estava quase bom, começamos a fazer bossas, mas bossas simples, deixando o samba por si abrilhantar tudo. Fizemos ensaios maravilhosos na quadra e fora dela, principalmente o ensaio técnico, que foi impecável, até na vestimenta. Pela primeira vez tiramos o verde e branco e colocamos preto, e no dia ensaio técnico vi que estávamos no caminho certo. Então foi só esperar o desfile e repetir o mesmo desempenho. Se você ver o desfile, eu sambei o tempo inteiro, eu nunca tinha desfilado tão tranquilo e irreverente, os ritmistas rindo. Saímos da Sapucaí com a certeza de um ótimo desfile, todos os ritmistas se abraçando, gritando, foi muito foda.”



O resultado final do trabalho daquele ano foi visto já ao final do desfile, visto que toda a equipe de bateria ficou satisfeita com a capacidade que tiveram de vir de um ano adverso e fazer as mudanças e o trabalho necessário para recuperar o ritmo e as características do Império Serrano. Para coroar esse trabalho, ainda veio o gabarito na quarta-feira de Cinzas. Mestre Gilmar finaliza comentando um pouco sobre o resultado: 

“Minha satisfação como Mestre foi enorme. Dedico aquele desfile a todos os ritmistas que aceitaram o desafio de um desfile direcionado ao samba, onde procuramos deixar ele por si só abrilhantar a festa, e então foi só esperar a apuração. Sem dúvida nenhuma, foi o melhor ano meu como Mestre, ali eu vi que a  mudanças para o bem de toda agremiação, e tinham que ter acontecido.”

 
Reizinho de tantas vitórias


A quarta-feira de cinzas de 2017 reservava momentos especiais para Madureira. Apesar do favoritismo da Unidos de Padre Miguel, o Império Serrano apresentou um desempenho arrebatante nas notas, tendo sido descontada apenas nos quesitos Alegorias e Adereços e Mestre-Sala e Porta-Bandeira, penalizada em 0,1 décimo em cada um deles, além de um completo gabarito em Enredo, Harmonia e Bateria. Sendo assim, a Serrinha garantiu o título no Grupo de Acesso de 2017, carimbando sua vaga no grupo Especial para 2018. A consonância com o título da Portela em 2017 rendeu uma festa completa em Madureira.

Depois de tantos anos, enfim a Serrinha pode se reencontrar com o Grupo Especial. Em um carnaval envolto de emoções, em um ano especialmente difícil tanto na Série A quanto no Grupo Especial, a esperança parecia sinalizar um retorno quando o anúncio do campeonato foi feito. De mãos dadas com a coirmã, Portela, o Império Serrano ainda recebeu o convite para que seu casal desfilasse ao lado dos defensores portelenses no sábado das campeãs. Nas páginas verde e brancas, basta abrir o livro e ver que o Menino de 47 e Manoel fazem parte de um pedacinho da história um do outro. 



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O Quilombo do Samba é um coletivo negro de pesquisadores do carnaval brasileiro propondo uma discussão afrocentrada sobre a festa. Quinzenalmente aos sábados, suas reflexões vão ar aqui no Carnavalize.


Texto: Gabriela Sarmento e Guilherme Niegro


As memórias das Escolas de Samba estão ligadas pelas mãos das Tias Baianas, que não são apenas uma ala em cada desfile; as baianas são registros do matriarcado africano aqui na diáspora do Rio de Janeiro. Sua origem, se é que podemos dizer assim, remete à figura antiga dos folguedos dos Quilombos, passando pelas folias das Congadas e Reisadas, Ranchos e Blocos.

A raiz estás nos terreiros os Quilombos religiosos, com os Afrodiásporicos descendentes de africanos e africanas que foram escravizados por quase quatro séculos, que se confluem no final do século XIX e início do século XX – período da falsa “abolição” de negros e negras escravizados (as). Afrodiásporicos vindos da Bahia, do interior do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e São Paulo, principalmente. Essas confluências das memórias de quatro séculos se sustentam na região chamada de Pequena África. Concordamos aqui com o Espaçólogo Wallace Lopes da Silva: só o significado desta expressão que foi esvaziada. 

O autor cunha o conceito de geosambalidade, sobre a especialidade territorial desta tal Pequena África, partido do elemento de memória de identidade. Cada corpo negroafricano carrega com sigo uma África ora desperta ora potencializada, e era isso que as Tias Baianas realizavam nesta Grande África que se transformou o Rio de Janeiro, principalmente no pós-abolição. (Ao mesmo tempo que surge a Deixa Falar no Centro, surge a Mangueira na Zona Norte e, na ainda região rural de Madureira, surge a Portela.)

Samba em quimbundo, no dicionário bantu de Nei Lopes, se traduz por “orar, rezar". E quem detinha o poder religioso sobre o samba? As Tias Baianas, as yalorixás, as mães baianas de santo, as baianas de ganho, as baianas de rua, as baianas do acarajé, as baianas do Samba ou simplesmente baianas. Os cortejos carnavalescos têm como essência tradicional sua ligação religiosa, a partir da obrigatoriedade da ala das baianas em todas as escolas, as protetoras e detentoras do axé (força vital). Com o surgimento das primeiras escolas de samba nos anos 20 do século passado, estas baianas ganham um conceito de homenagem. As escolas de samba surgem a partir dos sambistas compositores e bateria, passistas e baianas, formando as bases sólidas de qualquer agremiação. 



A Estética das Baianas se configura por saia longa, a bata ora rendada ora sem renda, o turbante na cabeça, o pano da costa e os balangandãs em determinadas ocasiões, eram as donas das ruas no período em que a mulher branca era submissa em detrimento do patriarcado europeu, em que o homem branco era o senhor e o homem negro era marginalizado ou levado a trabalhos braçais longe das vistas das populações do centrais. No caso o cais do Porto, muitos trabalhavam na estiva. 

Então, estas baianas eram as donas das ruas da cidade, vendiam seus quitutes para o ganho familiar, assim como no matriarcado africano, a economia alimentar era função feminina. Raul Lody considera a indumentária das baianas como um território de identidade experimentada no corpo, reflexo da cultura, crenças e modos da vida negra africana. 

No período colonial, para o escravizado, ter roupa era sinônimo de luxo. Cada indivíduo, dependendo dos senhores e das senhoras, tinha o direito de ter até duas peças de roupas, que eram feitas na tecelagem funcional das fazendas pelas próprias mulheres negras. O primeiro esboço da roupa das baianas se chamava roupa de sura, que era composta por saia e camisa, sem nenhum adorno, já que era proibido por lei escravizados usarem joias. Anos mais tarde nos terreiros, foi adotada a roupa de ração, um traje liso, sem anáguas, com camisa lisa ou sem, e saia na altura do busto. No pós-abolição, trabalhando como ganhadeira, saía às ruas vendendo seus quitutes, frutas e objetos artesanais trazidos dos mercados da Costa do Marfim.  

Artesanal eram também as fantasias das baianas nas Escolas de Samba. Para Candeia e Isnard, as religiões afrodiásporicas são importantes instrumentos de resistência e memória. As Tias Baianas em seus terreiros protegiam todo o sagrado das Escolas de Samba do racismo policial e da branquitude, “foram perseguidos pela polícia, sua luta foi muito grande, seu esforço extraordinário a fim de manter seus hábitos e preceitos". 

Na arte africana ou afrodiásporica, a matrilinearidade tem simbologia centrada na figura feminina, da mulher preta. A centralidade no Rio de Janeiro nestas mulheres foi muito importante. São elas as matrigeradas da fertilidade (quem dá a vida e também que trazem a ela) e da alimentação, foram elas quem cuidaram e cuidam do nosso sagrado, são as resistências das nossas linhagens e quem tecem nossas memórias espirituais. 



A partir da entrada de pessoas alheias às Escolas de Samba, estas mulheres sacras são desvalorizadas como a modificação de suas indumentárias  que passam a ser parte do enredo e não uma visão de sacralidade artesanal coletiva, ganham uniformidade e perdem tradicionalidade com a desculpa da modernidade e criatividade de um especialista em indumentária, muitas vezes com a visão eurocêntrica dentro de um espaço africano e afrodiásporico. 

Mesmo com tudo isso, as baianas não vão acabar e seu sentido matriarcal não se findará. Sua arte de tecer caminhos e descaminhos resistirá enquanto existir um ventre de uma mulher preta. 



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Texto: Eryck Quirino
Revisão: Luise Campos

Foram os sambas-enredos e os instrumentos de percussão que fizeram das escolas de samba uma forte manifestação carnavalesca do Brasil. Mas se o visual foi ganhando mais importância com o passar das décadas, os quesitos musicais sempre serão a célula fundamental dos cortejos. 

Na última década, entretanto, o samba- enredo passou por uma verdadeira reformulação (como você pode conferir neste texto) e se oxigenou, voltando a apostar em letras mais melódicas e cadências distintas. As baterias cariocas não ficaram atrás, revendo o andamento acelerado que vigorou durante os anos 2000. Sem perder o tom da inovação, mas se alinhando com a tradição da batida de cada escola, vários mestres promoveram verdadeiros espetáculos musicais na Avenida. E como bateria é um quesito dos mais importantes, vem com a gente conferir sete baterias decisivas dessa última década na folia da Sapucaí. 


Salgueiro 2012 


Em 2012, o Salgueiro trouxe o enredo "Cordel branco e encarnado" e acabou em segundo lugar. Além da plástica de Renato e Márcia Lage, os ritmistas da Furiosa também se destacaram. Mestre Marcão e sua tropa de lampiões trouxeram toda a referência nordestina misturada com o ritmo da Furiosa. Isso só poderia resultar em um verdadeiro show... e foi o que aconteceu! Com triângulo, zabumba, xote e baião, tudo isso no ritmo do samba e com uma pegada acima da média. 


Portela 2013 


Comemorando seus 90 anos de sua fundação, a Portela fez uma bela homenagem a Madureira no seu desfile de 2013. Se o atraso no barracão da agremiação marcou uma crise da gestão de Nilo Figueiredo na Águia no pré-carnaval e gerou uma série de problemas plásticos no desfile, a bateria se vestiu de Zé Pelintra pra dar um verdadeiro show de ritmo! Foi o encontro de um excelente samba-enredo e um andamento beirando a perfeição. Mestre Nilo mostrou repertório ao fazer paradinha com referências de charme e jongo. Até a bateria Sinfônica, do Império Serrano, foi homenageada. 

Salgueiro 2015


Olha o Salgueiro aí de novo! Dessa vez, o enredo da Academia era o "Do Fundo do Quintal, saberes e sabores na Sapucaí", falando da importância da culinário mineira. Mestre Marcão e sua equipe de chefes de cozinha deram o molho perfeito para salvar um samba que não empolgava tanto. Mas Marcão temperou tão bem que a gente até esquece do restante... Era uma conversa muito bem executada entre os instrumentos durante a as bossas e paradinhas. O prato final foi um verdadeiro show e, assim, o mestre e a bateria Furiosa elevaram aquele desfile em termos de chão, fazendo em uma grande apresentação.


Imperatriz 2017



Salve o verde do Xingu! Em seu segundo ano à frente da Swing da Leopoldina, Mestre Lolo deu um verdadeiro show de ritmo com andamento, elevando o samba-enredo com uma conversa bem interessante dos instrumentos durante a execução das bossas. Destaque para a do grito indígena que encantou a todos durante o desfile, uma bela relação com o enredo de Cahê Rodrigues que trouxe os nossos povos originários no enredo "Xingu, o clamor que vem da floresta". 


Mocidade 2017 


Ano de confirmação para também outro mestre de bateria, que vinha à frente da Não Existe Mais Quente desde a superdireção, ao lado dos mestres Bereco, Odilon e Andrezinho. Dudu havia assumido em 2015 o posto em que seu pai, mestre Coé, obteve bastante sucesso nos anos 1990 e 2000. Apresentado pelo grande mestre Jorjão, mestre Dudu resgatou aquela cadência característica de Padre Miguel, que sempre foi referência de ritmo no Carnaval carioca. A boa performance dos rimistas ajudou a conduzir o belo samba-enredo da verde e branco que cantou o Marrocos e terminou como uma das campeãs daquele ano. 


União da Ilha 2017



E não é que 2017 foi um ano de grandes baterias? Tem mais uma nessa lista! Além do resgate de uma bateria consagrada do Carnaval, foi também o ano em que veio o tão esperado Estandarte de Ouro para mestre Ciça. Com uma afinação invejável, balanço perfeito e ótimas paradinhas, ele sacudiu a Marquês de Sapucaí do início ao fim, conquistando o prêmio mais importante entre as baterias de volta para Ilha do Governador depois de 28 anos. O destaque fica por conta da paradinha dos atabaques, na qual a bateria se abaixa e ficam só os atabaques a tocar, fazendo da Sapucaí um verdadeiro xirê, como diz a letra do samba. 


Grande Rio 2019




Dessa vez, vamos à Baixada Fluminense falar da bateria do Acadêmicos do Grande Rio de mestre Fafá de 2019. Os desfiles das escolas de samba daquele ano marcaram a chegada de novos mestres no comando de algumas baterias. Todos se saíram muito bem, mas quem se destacou em sua estreia foi Fafá, que fez uma exibição de gala e saiu como o grande ponto alto da escola de Caxias naquele ano. Mestre Fafá faturou a maioria dos prêmios de 2019, entre eles o tão cobiçado Estandarte de Ouro, que não tinha ido parar na bateria da Grande Rio desde 2005, quando foi conquistado pelo grande mestre Odilon.


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por Bernardo Pilotto


Em Duque de Caxias, uma das maiores cidades da Baixada Fluminense, há uma tradição carnavalesca que remonta para o período de fundação do município, nos anos 1940. Nessa época, a escola Cartolinhas de Caxias despontou, chegando a desfilar por três vezes entre as grandes do Rio de Janeiro. Além da Cartolinhas (que deixou o samba “Benfeitores do Universo”, de 1953, como sua marca), havia a União do Centenário, a Capricho do Centenário e a Unidos da Vila São Luís. 

Nos anos 1970, aconteceu uma primeira tentativa de unificação, com a fundação da Grande Rio (sem o “Acadêmicos”). Posteriormente, em 22 de setembro 1988, a Grande Rio se junta com a Acadêmicos Duque de Caxias e surge então a Acadêmicos do Grande Rio, uma das maiores escolas de samba da atualidade. 

Ao longo desses anos, a Grande Rio disputou título, fez enredos históricos, outros nem tanto, ganhou famas boas e ruins e quase sempre esteve desfilando entre as grandes do carnaval, estando 14 vezes entre as 6 primeiras colocadas. 

No início da sua trajetória, a escola caxiense apostou em temáticas identificadas com a negritude. Com bons desfiles, rapidamente chegou ao Grupo Especial, já em 1991. A escola ficou em último lugar, mas se reabilitou com um grandioso desfile e samba ("Águas claras para um rei negro") em 1992, quando foi campeã do Grupo de Acesso, chegando novamente à elite do carnaval em 1993, de onde nunca mais saiu. 

Depois dessa primeira fase muito identificada com a negritude, a escola foi migrando para enredos de caráter histórico. Em 1996, com "Na era dos Felipes o Brasil era espanhol", o samba trouxe o famoso refrão que afirmava “dar um banho de cultura”. E assim seguiu a Grande Rio até o final dos anos 1990, tendo sua melhor colocação em 1999 (6º lugar). 

Foto do desfile de 1996 que trouxe o famoso refrão que marcou a escola. Foto: Wigder Frota. 

Com a virada para o novo século, a escola embarcou na onda de enredos patrocinados e muitas vezes de valor cultural questionável. Também foi a partir dessa época que a escola passou a receber a presença de muitos artistas de televisão. Se olharmos os desfiles, veremos que a Grande Rio acabou ganhando a fama por um fenômeno que se alastrava por quase todas as agremiações. 

Mesmo enfraquecida em quesitos como enredo e harmonia, a agremiação chegou a boas colocações, tendo sido vice-campeã em 2006, 2007 e 2010. Tudo parecia caminhar bem e o título era uma questão de tempo. 

Só que as mudanças que o desfile das escolas de samba passou a viver, a partir especialmente de 2016, fez com que a forma de construir carnaval da Grande Rio ficasse defasada. O alerta definitivo para isso se deu em 2018, quando a escola só não caiu porque uma virada de mesa acabou fazendo com que nenhuma agremiação fosse rebaixada naquele ano, após um problema no carro alegórico.

Foi assim que a Grande Rio resolveu se reconectar com os valores que marcaram o começo de sua trajetória. O primeiro passo disso foi a valorização de nomes da própria escola para o comando de quesitos importantes, como a bateria, com Fafá. Para 2020, contratou os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, ganhadores do Estandarte de Ouro de melhor escola do Grupo de Acesso em 2018 e 2019 pela Acadêmicos do Cubango. Com enredo "Tata Londirá: O Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias", acabou ganhando o vice-campeonato, além de vários prêmios. Aparentemente, o desfile caracterizou uma virada para a história dessa agremiação.

Todo esse processo de mudança e de reconexão com muitas das características que marcaram a escola nos anos 1990 acabou por trazer um novo olhar para a Grande Rio, além de voltar a empolgar muito dos seus componentes. Para o próximo carnaval, ela manteve a dupla de carnavalescos e segue apostando na receita que deu certo em 2020 ao escolher o enredo "Fala, Majeté! Sete chaves de Exu". 

O universo do carnaval só tem a agradecer a essa escolha que a Grande Rio fez. 






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Texto: Beatriz Freire, João Vitor Silveira e Thomas Reis
Revisão: Luise Campos


"Do Setor 1 à Apoteose" propõe uma viagem completa por um desfile marcante da história carnavalesca, da concentração à Apoteose, passando por antecedentes, contextos, histórias de bastidores e análise de todos os quesitos. Um verdadeiro cortejo de informações sobre a apresentação escolhida! Durante o mês de setembro, a cada segunda-feira, destrincharemos um desfile eleito pelo público a partir de enquetes realizadas em nosso Instagram (sigam @igcarnavalize) e também no Twitter (@carnavalize). 

Nossa temporada de retomada da série abarca um processo imprescindível de contribuição dos padrinhos e madrinhas que impulsionam o trabalho do Carnavalize. Em nosso terceiro texto, foi a vez de Pedro Ivo Almeida, Pedro Willmersdorf e Helenice Gomes indicarem desfiles para a nossa enquete. Foram eles, respectivamente: Salgueiro 1989 (“Templo negro em tempo de consciência negra”), Porto da Pedra 1997 (“No reino da folia, cada louco com a sua mania”) e Tradição 2001 (“Hoje é domingo, é alegria, vamos sorrir e cantar!”). Agradecemos mais uma vez aos nossos padrinhos e madrinha pela luxuosa contribuição e convidamos todos a conhecerem nosso instrumento de apadrinhamento. 


O centenário não se apagará...


Para o carnaval de 1989, depois de desfiles com resultados de meio-de-tabela e um quarto lugar no desfile anterior, a alvirrubra decidiu levar à Avenida um enredo dedicado ao centenário da abolição da escravatura com a memória construída pelos seus próprios desfiles. A “lembrança tardia” da libertação formal foi justificada pela própria escola na introdução de sua sinopse: 

“Nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente”, essa frase define muito bem o Salgueiro, sempre arrojado e marcante, original e atrevido, verdadeiramente uma escola forte, livre e solta, comprometida com seu tempo e nele pioneira, sempre surpreendente e inovadora, e é assim que a desejamos no carnaval de 1989, livre e soberana em seu estilo, transmitindo liberdade e resistência.

Visão geral do desfile da arquibancada. Reprodução Tantos Carnavais.

Quando todos lembraram do negro em 1988, nós do Salgueiro só o faremos em 1989, não apenas por sermos diferentes, também porque nos parece que o movimento negro, a luta negra não se finda em 88, ela é maior que o centenário dessa dita liberdade, dessa falsa abolição. É importante que essa chama não se apague e que no 101º, 102º, 103º ano da libertação dos escravos ainda se proclame igualdade entre negros, mulatos e brancos.

Por isso dizemos que o Salgueiro é atrevido, arrojado e diferente, pois quando essa chama de luta começar a arrefecer nós a avivaremos, a reacenderemos com nosso evoluir, cantar e dançar (…)”. 


Eu sou negro sim, liberdade e poesia/E na atual sociedade, lutamos pela igualdade


O carnavalesco Luiz Fernando Reis, que até então havia se consolidado na Caprichosos de Pilares com os enredos irreverentes e críticos, chegou à Academia do Samba com a missão de resgatar a identidade da escola que foi se perdendo ao longo da década de 1980. O resgate não teria como ser diferente: após deixar o centenário da abolição da escravatura passar batido no ano anterior, a agremiação foi ao encontro da essência em suas raízes negras com o enredo que exaltava a negritude por meio de uma homenagem aos, até ali, nove enredos com a temática “afro” apresentados pela vermelho e branco.

A abertura da apresentação salgueirense. Reprodução: Tantos Carnavais.

A abertura do enredo é dada por um enaltecimento da negritude salgueirense, partindo para uma viagem temporal ao seu próprio passado no qual se tornou referência e revolucionou as narrativas carnavalescas. Afinal, a escola passou a dar centralidade aos personagens negros marginalizados na história dita “oficial” (Alô, Mangueira!), valorizando a cultura afro-brasileira fundamental para a construção do nosso país e que passa por um constante negacionismo. Percorre, então, por entre os carnavais Navio Negreiro” - 1957, “Quilombo dos Palmares” - 1960, “Xica da Silva” - 1963, “Chico-Rei” - 1964, “Bahia de todos os deuses” - 1969, “Festa para um rei negro” - 1971, “Valongo” - 1975, “Do Yorubá à luz, a aurora dos deuses” - 1978 e “O bailar dos ventos. Relampejou, mas não choveu” - 1980.

Em consonância com os carnavais anteriores, que ditaram o fio narrativo daquele desfile, o carnavalesco, sem perder sua essência crítica, levantava a reflexão sobre os 100 anos de abolição - advinda de uma luta constante travada pelos negros e não um presente de uma princesa “redentora” - em um país alicerçado sobre a égide do preconceito racial e a crença em uma (inexistente, vale ressaltar) democracia entre etnias. Para isso, ao longo do cortejo, se viu a celebração de personagens como: Zumbi dos Palmares, Anastácia, João Cândido, Chico Rei e Martin Luther King, além de personagens rememorados pelo próprio Salgueiro.

No setor dedicado aos orixás, o Xangô do Salgueiro foi o destaque da alegoria representando o orixá. Foto: Revista Manchete. 

Longe das coreografias com passos definidos e complexidade de dança, o Salgueiro veio com uma comissão de frente tradicional. Acompanhados na abertura do desfile por Elizabeth Nunes, ex-presidente da escola, os integrantes da velha guarda apresentaram a agremiação como os verdadeiros guardiões do Templo Negro salgueirense, representando os guerreiros bantos. 
Como a própria sinopse do enredo já anunciava, referenciada por Martin Luther King, “Black is beautiful - “Negro é belo”, e essa frase nos inspirará (...) negro não só é belo, mas também é rico, pomposo, forte, exuberante e fundamentalmente livre, e é nessa riqueza, nessa beleza e nessa liberdade que abordaremos nosso enredo.”. E foi o que aconteceu. Com seus mais de 5000 componentes, a escola tomou a Avenida, tingindo-a de vermelho e branco. 


Que santuário de beleza/Um congresso de nobreza de raríssimo esplendor


O conjunto de fantasias concebido pelo figurinista Flávio Tavares impressionou a todos! Repleto de plumas em tons fortes de vermelho e preto, com o equilíbrio em branco e amarelo, a escola mostrou bom gosto e muito luxo. Apesar da exuberância dos chapéus e costeiros, as fantasias eram leves, sem muito pano, facilitando a evolução dos componentes que pulsavam junto com a bateria. A “ala do Minueto” prendeu as atenções. Composta por jovens casais, saudava o memorável cortejo ocorrido em “Xica da Silva”, no ano de 1963, no qual o grupo coreografado por Mercedes Baptista tomava a Presidente Vargas. 

A escola levou para seu desfile duas alas de baianas. A primeira - “Ala das Baianas do Bonfim” - antecipava a alegoria que fazia referência ao carnaval de 1969, “Bahia de todos os deuses”, em tons claros, mesclando brancos com detalhes prateados, acompanhando as cores da alegoria, o que proporcionou uma imagem fascinante com aquele conjunto todo em branco. Já a segunda, “Elegância Negra”, encantadora! Com a indumentária também em tons claros, mas com muitos detalhes em preto, dourado e vermelho, sobretudo na cabeça, a ala fascinou quem assistia o desfile e conquistou o Estandarte de Ouro.  

A bela ala de baianas no desfile. Foto: Sebastião Marinho (O Globo)

As alegorias não ficaram aquém de toda essa riqueza da alvirrubra. O conjunto imponente e bem explorado conseguiu dar uma boa forma ao enredo. O abre-alas “Templo Negro” era robusto e com duas grandes panteras - simbolo da luta e coragem negra - levava o nome da agremiação em vermelho, abrindo os caminhos na passarela. O segundo carro, “Navio Negreiro” simbolizava o início da saga dos povos escravizados. “Portais de Palmares”, o terceiro, celebrava o líder quilombola que vinha representado pelo ator Antonio Pitanga. Mas foi a quinta alegoria que mais fascinou por sua estética. Como já mencionado anteriormente, ela referenciava o enredo “Bahia de todos os deuses”. Totalmente branca com detalhes prateados, ela se destacou em meio ao volumoso conjunto de dez alegorias. 


Nesse quilombo tem magia


A escola não estava para brincadeira: como se não bastasse o corpulento conjunto alegórico e as encantadoras fantasias, levou também dez tripés para a Sapucaí. Destes, seis louvavam os orixás Exu, Iansã, Ogum, Oxóssi, Oxumaré, Oxum e Oxalá. 

Um euforia tomou conta das alas, que verdadeiramente quicavam pela pista, com muita animação. Os componentes deram um show de harmonia e contagiaram o público cantando, pulando e sambando no amanhecer daquele 6 de fevereiro de 1989.  Era o Salgueiro em sua melhor versão: branco e vermelho, afro, rasgando o chão da Sapucaí. 

 Élcio PV e Dóris defendendo o pavilhão vermelho e branco em 1989. Foto: O Globo.

“Espero ter tido a felicidade de ter levantado a nota máxima para a família salgueirense. E para a minha vaidade também, não é?!”, disse Dóris, em entrevista ao final do desfile, já na Apoteose. Seu mestre-sala era ninguém menos que o lendário Élcio PV, com quem também era casada, que retornava ao Salgueiro, desta vez com a amada como porta-bandeira, depois de anos em que os dois gabaritaram o quesito pela Beija-Flor de Nilópolis. A vaidade própria, como ela mesma apontou, tinha razão de existir: em cima de saltos altíssimos, ela bailava cheia de si – porque era mesmo brilhante – ao lado de Élcio, formando uma dupla de sucesso e resultados invejáveis. Na apresentação, trajados em vermelho e ele com o machado de Xangô como adereço em uma das mãos, bailaram com a cumplicidade que transcendia o matrimônio e encantava a todos. 


Ô Zaziê, Ô Zaziá/Salgueiro é Maiongolê, Marangolá!


É impossível fazer uma lista dos grandes sambas da Academia e não incluir a grande obra que foi para a Avenida no ano de 1989. E também é impossível falar sobre o samba de 1989 sem falar sobre a condução de manual do Pavarotti do Samba, Antônio Ricardo de Souza, o Rixxah. E nada melhor que as palavras do próprio intérprete, que conversou com a gente para falarmos sobre aquele ano, começando pela sua visão do samba em questão: 

“Naquele ano, o samba que ganhou foi o melhor da disputa. Havia outros grandes sambas, como sempre, já que a Ala de Compositores do Salgueiro sempre foi uma verdadeira seleção de bambas. Mas eu fiquei muito satisfeito com a escolha do samba, pois era o melhor. A cara do Salgueiro, bonito, melodioso, do jeito que eu gosto.” 

A alegoria que lembrou "Chico Rei". Reprodução: Tantos Carnavais.

E o gosto de Rixxah ficou nítido pelo seu desempenho. O samba de Alaor Macedo, Helinho do Salgueiro, Arizão, Demá Chagas e Rubinho do Afro tinha trechos muito poéticos e melódicos, em que a característica do canto do intérprete ficava ainda mais evidente. Um exemplo disso é o trecho final da segunda parte do samba. E, além do mais, a obra contava com um refrão de meio cativante e histórico, que ficou marcado na cabeça dos componentes e dos amantes do Carnaval:

“Ô Zaziê, Ô Zaziá
Ô Zaziê, Maiongolê, Marangolá
Ô Zaziê, Ô Zaziá
Salgueiro é Maiongolê, Marangolá”

O trecho em iorubá-nagô seria a maneira como Xangô faz um clamor aos céus, pedindo para que eles se abram em bênçãos para recepcionar Oxalá. A partir desse inesquecível refrão e da qualidade do samba como um todo, a condução de Rixxah foi ainda mais valorizada, tanto que o desfile lhe rendeu seu primeiro Estandarte de Ouro como intérprete. Ele falou um pouco mais sobre a importância do desfile e daquele enredo: 

“Aquele carnaval teve muita importância para mim. Foi quando consegui ganhar meu primeiro Estandarte de Ouro como intérprete. E era um enredo bonito e importante. O carnaval sempre foi e sempre será importante, porque retrata e valoriza a luta do meu povo. Salve a África! Salve a Bahia! E Vidas Negras Importam! Axé!” 

E para exaltar ainda mais o samba do Salgueiro, nada melhor que o belíssimo ritmo proporcionado pela Bateria Furiosa. Sob o comando do saudoso Mestre Louro, a Furiosa pisou com força na Avenida, com uma fantasia que representando guerreiros africanos. Ela deu a cadência perfeita para que a bonita obra do Salgueiro pudesse brilhar e conquistou a nota máxima dos jurados. Na regência de seu lendário mestre, o destaque do trabalho da bateria foi o belo e criativo desenho realizado pelos tamborins ao longo do famoso refrão de meio do samba. 



Ainda que tenha realizado um belo desfile já na manhã do domingo, o Salgueiro não conseguiu chegar ao título. Apesar do apuro estético e o bom desempenho apresentado pelos quesitos na Avenida, naquela quarta-feira de cinzas, os holofotes estavam direcionados para longe da Grande Tijuca, de forma que as vizinhas Salgueiro e Vila Isabel acabaram sendo ofuscadas pelos desfiles históricos e arrebatadores de Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor de Nilópolis. Ao final da apuração, o Salgueiro acabou empatado com a Vila Isabel com 207 pontos, ficando com a quinta colocação e voltando para o Desfile das Campeãs. 

Ainda que não tenha conquistado o campeonato ou mesmo se confortado com a segunda colocação, o carnaval de 1989 não passa batido pela memória de desfiles e feitos da escola. Além de ter produzido um dos sempre entoados sambas da grande safra que comporta a discografia salgueirense, ganhou-se um desfile politicamente alinhado aos acontecimentos do mundo, em um tempo no qual se discutia os efeitos da abolição formal e de redemocratização, com a vigência da nova Constituição. Além disso, inegável é o sentimento de pertencimento que trazem os versos do samba que, ainda hoje, fazem da Silva Teles um templo negro.



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A coluna #ColabLize é um espaço aberto a seguidores do Carnavalize e pesquisadores de carnaval para divulgar seus escritos sobre nossa folia. Quer enviar algum texto que verse sobre a festa? Mande para nós no e-mail contato@carnavalize.com. A #ColabLize vai ao ar quinzenalmente, sempre aos sábados!


por Raí Chaves


Passei os cinco anos da graduação em Psicologia sambando sozinho entre os colegas. Para todo trabalho, uma tentativa de enlace à maior manifestação cultural do mundo. Comecei comparando trovadores com compositores de samba-enredo e terminei pegando emprestado um verso de Vila 2016 para dar título à minha monografia – que pensava o ser psicológico dentro das escolas de samba. A hipótese a ser estudada: há algo, de ordem psíquica, a ser analisado no que as agremiações levam para a avenida? Talvez uma premissa banal, até sem graça. Eis que a porta-bandeira Marcella Alves concedeu uma entrevista ao SRzd contando o sofrimento de ter sido responsabilizada pela perda do título do Salgueiro no ano anterior. A resposta estava ali, vagando como uma livre associação aguardando ser simbolizada pelo analista em sessão. No entanto, a correria da vida de um estagiário atrelada a um comportamento protelador não apresentou harmonia. Conclusão: a monografia se perdeu na curva do Setor 1 antes de entrar na Sapucaí, mas trouxe motivação para olhar o carnaval com outros olhos.

Quatro anos depois, desde então exercendo a prática clínica, sinto-me pleno de histórias e tenho vontade de contá-las, como diria Jean Clark Juliano – importante autora para abordagens fenomenológicas. Claro que não penso em revelar casos clínicos aqui mas, assim como Juliano, restaurar narrativas. Afinal de contas, esse é um movimento próprio da psicoterapia: revisitar histórias, olhá-las novamente por outro viés e, talvez, restaurá-las. Mesmo que seja para não apagá-las, em um trabalho permanente de memória. Escrevo isso para chamar atenção ao esforço do não apagamento de nossas histórias que as escolas de samba insistem em realizar. Representar na avenida releituras sobre aquilo que já foi vivido me parece terapêutico em sua essência. Clínico. Fenomenológico-Existencial. A arte psicológica de restaurar histórias se aproximaria, portanto, do que vimos recentemente como as histórias que a História não conta. Pois esta é enrijecida. Recalcada. Com dificuldade de revisitar seus traumas.

Meu intuito com este texto não é colocar a História não-analisada do Brasil no divã. É aproveitar o mês do Setembro Amarelo e tentar chamar atenção para a temática da saúde mental, tão sucateada. Falando de um ponto de vista individual, percebo um certo temor na procura pelo tratamento psicológico. É comum ouvir na primeira consulta que é difícil estar ali porque há uma noção de que terapia é para maluco “e eu não sou maluco, doutor”. Bom, nem todos os que aqui estão são loucos, nem todos que são loucos aqui estão, como já cantou a Porto da Pedra. Para além do certeiro samba, essa ideia revela como a saúde mental está à margem da sociedade, deixada de lado. Não há interesse em tratá-la. É algo ruim. Caminhando por uma noção higienista que atravessa a história da Psiquiatria, é preferível separar e afastar aqueles que são doentes da população dita normal. Esse seria o “tratamento”. “Quem sabe até esquecer desses malucos, né? Não precisamos deles”.

E aí que as escolas de samba, em um papel de resgate e restauração, trazem esses loucos para seus desfiles. Sinhá Olímpia, Gentileza, Bispo do Rosário, Estamira... alguns nomes ressignificados em um cortejo que não se encerra na Quarta-feira de Cinzas. Durante os setenta e cinco minutos de sessão na avenida, a agremiação olha para si de forma a reconfigurar o que havia sido deixado de lado. Talvez menos importante, um dia. Considero, então, o desfile como um processo de alternância de Figura e Fundo, de gestalts que se abrem e fecham e se retroalimentam em ritmo sincopado. Assim como artistas desta festa, que carregam e refletem suas histórias de vida enquanto criam seus carnavais, eu (repleto dos meus simbolismos e entendimento de minha existência) afirmo que desfilar é terapia para a Escola de Samba. Carnavalizar é clínico. É saudável. Do ponto de vista da gestalt-terapia, é criativo. É a agremiação olhando para a sua saúde mental.

É claro que pensar saúde mental considerando as escolas de samba não fica apenas neste campo filosófico. Se a Psicologia é atravessada por uma ideologia anticapitalista, na prática o evento Carnaval lida com cifras altíssimas, o que gera cobranças estruturais. Um casal de mestre-sala e porta-bandeira não será apenas representante da cultura a bailar com o maior símbolo da Escola: essas duas pessoas, funcionários de uma organização, precisarão apresentar performance perfeita para conquistar a pontuação máxima e garantir a sua participação no título desejado. Se já não fosse pressão suficiente alcançar objetivamente algo que é da ordem do subjetivo, em termos comparativos temos duas pessoas, sozinhas, responsáveis por (nesse ano) trinta pontos. Ilustro, aqui, o exemplo da Marcella que comentei no início do texto.

Sei que muitos desses profissionais recorrem à ajuda terapêutica por conta própria, sem que a agremiação ofereça qualquer tipo de auxílio. Qual a diferença que um profissional de Psicologia vinculado à agremiação faria? Na minha concepção, é a mesma consideração feita em clubes esportivos – cuja atuação psicológica ainda é também sucateada, diga-se. Entendo que essa é uma temática necessária a ser debatida, e que já vem dando os primeiros passos incertos - como uma comissão de frente a iniciar o treino coreográfico. 

Encerro este relato agradecendo ao Carnavalize a possibilidade de falar dos meus devaneios em aproximar a saúde mental do Carnaval. Há potência nesta discussão e reflete, principalmente, como negligenciamos o cuidado com a nossa subjetividade. Não é porque não falamos que algo não está ali. Ou aqui. A Psicanálise vai dizer que a escolha por não falar já é reveladora. Sobre o quê não temos falado? Será que não falar nos deixa mais “normal”? Bom, se tem algo que tanto as Escolas de Samba quanto a Psicologia me ensinaram é, quanto menos normal, mais interessante somos.



Filho de Kizomba, Raí Chaves se interessa por subjetividades e dinâmicas competitivas. O Carnaval veio de brinde. Psicólogo atuante na prática clínica, passou os últimos dois anos em instituição psiquiátrica estudando transtornos mentais na velhice. Em seus devaneios, criou o @bolaocarnaval e ainda pretende encontrar pontos de contato entre a Psicologia e o Carnaval.





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