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Os Cinco Mais: Vozes que se eternizaram no Carnaval de São Paulo

by - novembro 15, 2017

Foto extraída do site Folia do Samba

Por Alisson Valério
Se no texto anterior, falamos que sem samba não tem escola de samba. O que seria do samba, sem seu cantor? Portanto, se prepare agora para conhecer um pouco mais sobre cinco nomes marcantes na arte de conduzir samba-enredo no último texto da série "Os Cinco Mais". 

E aí, preparados? Então vamos lá que o cavaco já está chorando e é hora de soltar a voz!

Daniel Collête – Mocidade Alegre, X-9, Dragões da Real, Leandro de Itaquera e Pérola Negra
 "Maraviiiiiiiiiiilha! Alô você! Bate no peito e diz: Eu sou Mocidade!"

Foto: Samba Rio Carnaval
Nascido em Nilópolis, no estado do Rio, Daniel Collête acabou fazendo a sua carreira de intérprete na cidade de São Paulo. Entrou no Carnaval como cantor de apoio na X-9 Paulistana nos anos de 98 e 99. No ano seguinte, migrou para a Mocidade Alegre, ainda na mesma função. Em 2001, no entanto, Collête assumiu o microfone principal da escola do bairro do Limão e começou a fazer história. Mesmo com a Morada do Samba não fazendo grandes apresentações, o intérprete já se destacava e ganhava reconhecimento no meio. Entretanto, o auge aconteceria em 2003. Cantando um samba afro e vestido a caráter para o enredo, o cantor deu um show no Anhembi e ajudou a escola a voltar à disputa pelo título após mais de 10 anos. O título não veio em 2003, mas não demoraria muito.

Em 2004, outra fantástica apresentação no comando do carro de som unida a mais um grande desfile levou a taça de campeão para o Limão após 24 anos. Nos anos seguintes, Collête manteve o alto nível e ajudou a verde e vermelha a ser campeã novamente em 2007. Naquele ano, o enredo que falava do riso, teve o cantor vestido de palhaço. Em 2008, Daniel se mudou para a X-9 e, apesar de não ter conseguido levar a escola a briga pelo título nos três anos que esteve por lá, se destacou pelo talento inegável e pelas fantasias maravilhosas que usava. Em 2011, Daniel foi para a Dragões da Real e ajudou na construção de uma escola que se tornou a mais nova potência do Carnaval Paulistano. Com muita alegria e a potência na voz de costume, Collête se tornou uma marca na tricolor. Após seis anos na escola, ele deixou a agremiação rumo a Leandro de Itaquera no Carnaval de 2017. Nesse ano, cantou o histórico "Babalotim", considerado por muitos, o melhor samba da história do Carnaval Paulistano. Apesar da boa apresentação dele no comando do carro de som, Collête e Leandro optaram por não renovar o vínculo. Com isso, em 2018, Collête acertou com o Pérola Negra, que busca o Acesso ao Grupo Especial. Conhecendo seu talento e sua fama de pé quente, temos certeza que lá na Vila Madalena já tem gente batendo no peito e dizendo que o Pérola Negra vai subir. Maraviiiiiiiiiiilha...



Thobias da Vai-Vai – Vai-Vai
"Alô Nação Alvinegra!"

Foto: Revista Paulista
Tido por muitos como um dos maiores interpretes da história do Carnaval de São Paulo, Thobias teve o início da sua carreira no samba de uma forma um pouco curiosa. Vindo de uma família sem ligação com o samba foi nos anos 80, quando ainda trabalhava como entregador de contas da Sabesp que ele começou a frequentar rodas de samba e em um concurso promovido pela empresa que ele trabalhava, não é que se sagrou vencedor como melhor intérprete?, chamando, ainda, a atenção dos Gaviões da Fiel, na época ainda bloco, e se tornando o cantor principal em 1983. A voz de Thobias acabou despertando a galera do Bixiga, do Vai-Vai, que não perdeu tempo e o colocou como interprete oficial da escola no carnaval de 1986 e que história os dois escreveriam juntos a partir daquele momento... Foram oito títulos (86, 87, 88, 93, 96, 98, 99 e 2000) durante os anos dessa parceria inesquecível para o samba. Thobias foi a voz principal do Vai-Vai de 86 até 2000, sendo que em 1994 ele passou o posto para Agnaldo Amaral, quando decidiu se dedicar a carreira de cantor, mas logo voltou ao posto de intérprete oficial no ano seguinte. Além disso, nos seus dois últimos anos pela Saracura, ele dividiu o microfone com Wantuir (1999) e Agnaldo Amaral (1999 e 2000).

Mas quem pensa que a história do Thobias na escola chegou ao fim, enganou-se. Em 2006, ele foi eleito presidente da escola por aclamação, após a renúncia do antigo presidente Sólon Tadeu Pereira e conquistou também um título pela escola no ano de 2008, totalizando, assim, nove conquistas na sua passagem pela alvinegra. O bordão “Sob nova direção” virou marca da sua gestão, que chegou ao fim após o desfile de 2010. No ano de 2014, Thobias assumiu a vice-presidência da escola, cargo que exerce até os dias de hoje. Foram tantas performances marcantes e inesquecíveis ao longo dos anos que ele foi (e sempre será!) a voz do Vai-Vai. Fica até difícil escolher uma performance dentre todas. Entretanto, é mais difícil ainda imaginar a Saracura campeã sem as atuações do cantor.

Em 1996 e 1998, brilhou e fez sucesso com os sambas sobre Lílian Gonçalves e o inesquecível Japão. Além disso, deu um show em 99 e 2000.  Fez, também, uma participação pra lá de especial em 2003, no carro de som liderado por Renê Sobral, e em 2005, junto de Agnaldo Amaral. Em 2014, esteve presente na faixa do CD com a categoria de sempre e fez companhia a Márcio Alexandre, apadrinhado pelo mestre, na defesa do samba sobre a cidade de Paulínia. Por tudo isso, o grito de "Alô Nação Alvinegra" ficou marcado nos sambistas da cidade e confirmou que Thobias é um cantor de categoria e classe. Sem a menor dúvida, é uma das vozes mais marcantes da história do Carnaval de São Paulo!


Royce do Cavaco – Águia de Ouro, X-9, Tom Maior, Nenê e Rosas de Ouro
 "Alô Nação azul e rosa, canta, canta, caaaaaaaaaaaaanta Roseira..."
  
Foto: SASP
Nascido em São Paulo, Royce do Cavaco é um nome marcante no Carnaval Paulistano. Intérprete oficial desde 1982, quando entrou no Águia de Ouro, Royce se consagrou a partir de 83, quando começou a cantar no Rosas de Ouro. Na escola da Freguesia do Ó, fez sucesso cantando sambas como “De Piloto de Fogão a Chefe da Nação”, “Non Ducor Duco", "Qual é a Minha Cara?” e “Sapoti”. Após 11 anos de sucesso na azul e rosa, Royce se transferiu para a recém-promovida, X-9 Paulistana. Na escola da Parada Inglesa, construiu outra carreira de muitos títulos e sucesso. Em 1997, ajudou a escola a ser campeã pela primeira vez com uma atuação irretocável cantando “Amazônia, a Dama do Universo”. Em 2000, repetiu o feito cantando o samba que falava sobre o café e o período de domínio do café na cultura e na economia brasileira. Além dos títulos, ficou marcado pelas ótimas atuações tanto em 2002 no enredo “Aceito tudo, quem sou eu?... O Papel!” e em 2005 com o tema “Nascidos para Cantar e Também Sambar”.

Após 10 carnavais, Royce foi para a Tom Maior em 2006. Ganhou, ao lado de Renê Sobral, o troféu Nota 10 de melhor intérprete. No ano seguinte, se transferiu para a Nenê de Vila Matilde. Na Águia da Zona Leste, conseguiu conquistar o prêmio de melhor intérprete em outras duas oportunidades (2009 e 2011). Além das duas atuações premiadas, Royce ficou marcado pela ótima apresentação no ano de 2007, com a temática sobre o fundador do Grupo Bandeirantes, João Jorge Saad. Em 2011, Royce deixou a Nenê e retornou a X-9. Na nova passagem pela verde e vermelha, Royce mostrou a categoria de sempre e brilhou cantando o bom samba sobre a chuva em 2015. Em 2016, por conta de incidentes com carros alegóricos, a X-9 acabou rebaixada ao Grupo de Acesso. Entretanto, Royce permaneceu no Grupo Especial. Isso aconteceu devido a saída dele rumo à Roseira. Após 22 anos, o “Sabiá”, apelido dado ao cantor em virtude do consagrado samba de 1992, retornava a escola da Freguesia do Ó. Na azul e rosa, Royce teve ótima atuação cantando o samba do enredo “Convivium - Sente-se à mesa e saboreie”. Em 2018, o intérprete segue na Roseira mais querida e cantará a obra que fala sobre a vida dos caminhoneiros. Com o grito de guerra clássico, Royce vai pedir para a Roseira fazer o que melhor sabe fazer: cantar! 


Ernesto Teixeira – Gaviões da Fiel
"Alô Nação Corintiana!"

Foto: SRZD – Cláudio L. Costa
A voz da Fiel. Ernesto Teixeira é, com certeza, a voz mais identificada com uma única escola no Grupo Especial de São Paulo. Nascido em São Paulo, o, hoje, senhor Ernesto está nos Gaviões da Fiel desde que a escola se tornou escola de samba em 1989. Contando os anos de bloco, Ernesto tem 34 anos ininterruptos sem deixar o posto de cantor oficial da Torcida que Samba. Além de cantor oficial com apresentações destacadas, Ernesto é compositor consagrado dentro da agremiação. Com seus parceiros, a voz em destaque da alvinegra conseguiu sete vitórias dentro da escola. Apesar disso, uma curiosidade é que Ernesto nunca viu um samba seu campeão do Carnaval. Mesmo com essa “falta”, a voz corintiana, como ele gosta de se denominar, teve apresentações irretocáveis nos campeonatos da escola. Em 1995, Ernesto brilhou conduzindo o ótimo e inesquecível “Coisa boa é para sempre”. Em 99, foi a vez de cantar o samba que contava a história do enredo “O Príncipe Encoberto ou a Busca de Dom Sebastião na Ilha de São Luís do Maranhão”. Mesmo sendo a última escola a desfilar, graças a maravilhosa interpretação de Ernesto, os Gaviões levantaram o Anhembi e saíram da pista consagrados campeões do Carnaval. Em 2002, a consagração definitiva! Com um enredo sobre o jogo de Xadrez misturado a realidade do mundo naquele momento, a Torcida que Samba brilhou e foi tricampeã. Ernesto, obviamente, foi um destaque da escola. Em 2003, o tetracampeonato veio com mais um show do cantor.

Mas além das apresentações campeãs, a voz alvinegra brilhou cantando os sambas de 2000 (Um Voo Para a Liberdade), 2001 (Mitos e Magias na Triunfante Odisseia da Criação) e 2015 (No jogo enigmático das cartas, desvendem os mistérios e façam suas apostas, pois a sorte está lançada!). Isso só para ficar em alguns anos.. A carreira de Ernesto é recheada de apresentações inesquecíveis! Além da consagrada carreira de intérprete, o cantor dos Gaviões é responsável pela contratação de Jorge Freitas pela alvinegra no ano de 2000. Isso poderia ser pouco, mas o carnavalesco fez história no Carnaval de São Paulo com seu estilo único. Com talento e forma única de fazer Carnaval, Jorge mudou a cara do cortejo momesco paulistano como um todo. Isso, também, é um mérito de Ernesto que viu lá atrás, o potencial desse grande artista. Por tudo isso, é impossível não ver a carreira desse cantor fantástico como um patrimônio da cultura carnavalesca da Terra da Garoa. Sendo assim, é muito bom abrir a faixa dos Gaviões no CDs de Samba-enredo e ouvir o inconfundível Alô Nação Corintiana!


Carlos Jr – Camisa Verde e Branco, Vai-Vai e Império de Casa Verde
 "Alô Nação Imperiana! Alô Tigre! O mundo te espera, e aqui tem, hein?! Fooooooooogo neeeeeeeeeles!"

Foto: SRZD
Carlos Júnior é um dos cantores com mais história no Carnaval Paulistano. Ao longo dos 17 anos de carreira, compôs e defendeu obras de muita qualidade que marcaram a "era Anhembi". Em 2000, estreou como intérprete oficial no Trevo da Barra Funda. No ano seguinte, defendeu o ótimo samba sobre Heitor Villas-Boas. Em 2002, Carlos Júnior ajudou a escola alviverde a ter o melhor resultado desde 1993. Com um samba de sua autoria, o Camisa terminou em segundo lugar na defesa do enredo sobre o número 4. Esse desfile, apesar do vice, foi considerado um marco para a tradicional escola que vinha perambulando no meio da tabela. Em 2003, na sua última apresentação pela agremiação, Carlos Júnior defendeu maravilhosamente a obra que falava sobre João Cândido. Um lindo gran finale para uma passagem marcante. Em 2004, sua estreia pelo Tigre Guerreiro foi impactante! Cantando com garra e muita alegria o samba, a escola bateu na trave na busca pelo campeonato, terminando num honroso terceiro lugar. Em 2005 e 2006, Carlos Júnior ajudou a então Caçula do Samba a se sagrar bicampeã. Suas apresentações, em especial no ano de 2005, contribuíram para carnavais marcantes e inesquecíveis. Em 2007, cantando o samba que tinha como enredo “Glórias e Conquistas - A Força do Império está no salto do Tigre”, o cantor mostrou que estava consolidado entre os grandes intérpretes do Carnaval.

Após o Carnaval de 2007, Carlos se transferiu para o Vai-Vai. Na alvinegra, dois anos e dois shows de interpretação, garra e alegria. Em 2008, segundo ele, teve sua melhor e mais emocionante atuação da carreira na defesa do enredo “Vai-Vai Acorda Brasil! A saída é ter esperança”. Em 2009, outra participação destacada no Carnaval, que tinha como tema a saúde do corpo humano. No ano de 2010, Carlão voltou ao Império de Casa Verde para, até o momento, não sair mais. Se até 2015, as colocações da escola eram modestas, o mesmo não dá para dizer das atuações do intérprete. O cantor brilhava e era o destaque absoluto dos desfiles da azul e branco. Em 2016, com a chegada de Jorge Freitas e com o samba de autoria do próprio cantor, o Império voltou a comemorar um título e Carlos Júnior foi agraciado com uma premiação de melhor intérprete do grupo. Em 2017, o título não veio, mas Carlos Júnior deixou sua marca no Anhembi com mais uma atuação de categoria. Pela carreira fantástica tanto como cantor quanto como compositor, Carlos Júnior é um patrimônio do nosso Carnaval. E quem for contra? Vai chorar...


Contar a história desses intérpretes é uma forma de reverenciar todos os intérpretes que passam pelo sambódromo ao longo dos anos sejam ele de apoio ou oficial. E esse também foi o espírito da série. Falar dos casais, das comissões de frente, das baterias, dos sambas, dos intérpretes.... Foi uma forma de valorizar e reconhecer o trabalho de todos os sambistas ao longo dos 26 anos do sambódromo do Anhembi. Por tudo isso, esperamos que a série fique marcada como uma valorização do Carnaval Paulistano. Carnaval que, assim como a co-irmã carioca Acadêmicos do Salgueiro, não é melhor, nem pior, apenas diferente, meu!

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  1. Bom dia! Enviei e-mail parabenizando-os pela matéria e fazendo algumas observações. Caso não recebam o e-mail peço que entrem em contato. Face: @avozdafiel

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  2. Mais uma vez relendo a matéria, vale lembrar que além de ter vencido 9 concursos de samba de enredo dentro dos Gaviões, por tres vezes o nosso samba --- duas em parceria com o Alemão do Cavaco e José Rifai (1999 e 2002, grupo Especial) e uma com os dois mais o Grego (2005, grupo I) deu o título à Torcida Corinthiana.

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