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Escola a escola: O Acesso do Carnaval de São Paulo

by - março 06, 2017


Se para as escolas do Grupo Especial 2017 foi um ano difícil, a situação do Grupo de Acesso não foi diferente. As agremiações tiveram que usar a criatividade e muita reciclagem dos anos anteriores para driblar a crise. O segundo grupo paulistano infelizmente não tem a mesma força e sucesso do grupo principal. O público presente no Anhembi também é inferior, e por acontecer no mesmo dia que o Especial do Rio de Janeiro, os desfiles muitas vezes são deixados de lado. Porém, é preciso ressaltar que o carnaval do acesso está cada vez maior e mais disputado, como aconteceu neste ano.
A campeã do Acesso 2017, a X9 (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
A campeã foi a X-9 Paulistana. A escola que caiu do Especial em 2016, veio forte para buscar o retorno à divisão de elite. Perseguindo o acesso, a agremiação contou com o retorno do consagrado carnavalesco Lucas Pinto. A "X" apostava em, principalmente, dois quesitos: enredo e samba. O primeiro, que ao ser divulgado, pegou todos de surpresa, foi muito bem contado na avenida, sendo de fácil assimilação. O samba, que não era um dos mais elogiados da safra, foi corretamente conduzido pelo intérprete Darlan Alves, estreante na escola. Ele, que construiu sua história na Rosas de Ouro, foi um dos melhores intérpretes da noite e melhorou consideravelmente o desempenho do samba. Também é preciso destacar o casal de mestre-Sala e porta-Bandeira, que teve poucos meses de ensaios. Entretanto, fizeram um grande trabalho no Anhembi. A Comissão de Frente também foi um destaque. No comando da coreógrafa Yaskara Manzini, a comissão iniciou com gosto o desfile da escola. A parte plástica alternou altos e baixos. O abre-alas era de Grupo Especial, com uma bela iluminação e um bom acabamento, porém o nível alegórico foi caindo ao longo dos setores:algumas falhas de acabamento e uma escultura no terceiro carro que estava sem metade do braço. O ponto negativo do desfile ficou por conta da harmonia. O canto era inconstante, e enquanto alguns componentes cantavam, outros apenas entoavam o refrão principal, ou nem isso. Apesar de erros, a X-9 conseguiu o resultado que almejava e tornou-se campeã do Grupo de Acesso.

O 1º casal da Independente, Cley e Lenita (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
Em segundo lugar e conseguindo também uma vaga no Grupo Especial, terminou a Independente Tricolor. Com um desfile extremamente técnico e luxuoso, a agremiação da Vila Guilherme surpreendeu a todos que estavam no Anhembi. Na estreia do carnavalesco Vinicius Freitas - filho do grande Jorge Freitas - a vermelho e branco encantou com a sua imponência em alegorias e fantasias, Os carros apresentaram um acabamento primoroso, principalmente o segundo , que representava Pinóquio e foi um dos mais belos da noite de domingo. As fantasias também estavam belíssimas. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Cley e Lenita, também se destacou com um bailado elegante. A fantasia de Lenita também impressionou bastante. A comunidade cantou com muita alegria o samba-enredo e mostrou a força do seu chão. A evolução foi constante e não teve problemas durante o desfile. De negativo, apenas o enredo que foi de difícil compreensão e não seguiu uma "linha do tempo". Mas nada que tirasse o brilho de um grandioso desfile da Independente e a impedisse de almejar o Grupo Especial. Ademais, a agremiação contou com a presença de Jorge Freitas, que ajudou na organização da escola e auxiliou o filho.

O Abre-alas da Colorado do Brás (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
A terceira posição da tabela acabou com a Colorado do Brás. Em um desfile colorido, leve e solto, a escola cativou o público. Com um samba animado, a agremiação levantou as arquibancadas.  A escola do Pari apostou em alegorias bastante coloridas e de fácil compreensão. Apesar das falhas de acabamento em algumas esculturas, o conjunto alegórico passou muito bem pelo Anhembi. As fantasias, apesar de serem simplórias, estavam bonitas e de encher os olhos. Outro destaque foi o casal de MS&PB que desfilou com leveza e elegância, encantando a plateia. A harmonia também passou correta, e o alegre samba-enredo ajudou os componentes no canto. Carro de som e bateria também fizeram bons trabalhos. De negativo, a evolução, que esteve muito inconstante durante o desfile. Pouco se esperava da Colorado, mas a alvirrubra pisou forte na passarela e mostrou a força e garra da comunidade que faz todos os seus ensaios na rua. Brigando nota a nota com a Independente, a agremiação ficou para trás apenas no último quesito e terminou com o terceiro posto. Uma grata e feliz surpresa.

O Camisa teve a árdua missão de falar sobre João Cândido (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
Em quarto lugar, ficou o Camisa Verde e Branco. Com um desfile muito impactante, principalmente nos quesitos de chão, a escola da Barra Funda estava embuída no sonho de voltar ao Grupo Especial, e mostrou isso no Anhembi. Com um dos melhores samba-enredos da safra, a verde e branco fez um dos maiores desfiles da noite. A comunidade entoou a letra a plenos pulmões; todos os componentes cantavam com gosto. A evolução, por sua vez, foi regular.  O samba, composto em 2003 e reeditado neste ano, foi bem conduzido pelo intérprete carioca Thiago Brito, estreante na escola. A bateria, apesar de não ter sido uma das melhores do dia, cumpriu o seu papel. Outro destaque foi a comissão de frente, muito bem ensaiada e coreografada, que iniciou o desfile com o pé direito. As alegorias apesar de apresentarem falhas de acabamento, eram de fácil compreensão. Era impossível não colocar o Camisa brigando pelo título após a sua passagem no Anhembi. No mais, a escola cometeu poucos erros graves que pudessem tirar muitos décimos. Entretanto, na apuração o contrário aconteceu: a verde e branco sofreu em muitos quesitos, principalmente em samba-enredo, gerando controvérsias, e terminou num decepcionante quarto lugar.

A Leandro de Itaquera trouxe um samba histórico para o Anhembi, Babalotim! (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalzie)
A quinta colocação foi da Leandro de Itaquera. Reeditando Babalotim, um dos maiores sambas do carnaval de São Paulo, a agremiação da Zona Leste buscava o retorno ao Grupo Especial. Com um bom desfile, mas abaixo de algumas outras escolas, a Leandro, mesmo com o excelente samba, não passou da metade da tabela. A comissão de frente estava com uma belíssima fantasia e uma coreografia de bastante impacto; o abre-alas, apesar de simples, estava bonito e bem acabado. Parecia que a Leandro iria brigar lá em cima, mas ao longo do desfile o conjunto alegórico e as fantasias caíram de nível. Em que pese os problemas de acabamento, pode-se destacar o carro que veio logo após as baianas - que estavam fantásticas. As fantasias apresentaram muitas irregularidades e também estavam com problemas no acabamento. A comunidade de Itaquera cantou o samba com muita garra. O samba-enredo foi bem conduzido pelo intérprete Daniel Collete, em seu primeiro desfile na escola. A bateria também tocou sem sobressaltos e ajudou na valorização do samba. Mesmo assim, para a plateia, Babalotim não aconteceu. As arquibancadas estiveram mornas e não cantaram com vigor a icônica obra. Outro problema foi a evolução: apesar de um início regular, no final do desfile a escola teve que diminuir o ritmo para conseguir terminar no tempo mínimo, tanto que, chegando perto da dispersão, a bateria parou por alguns minutos até voltar a andar e terminar a sua passagem. Apesar dos erros, a reedição de Babalotim foi um momento histórico. Quem teve a oportunidade de assistir ao vivo com certeza guardará esse momento único. Já para a Leandro, o desejo de voltar ao Especial foi adiado mais uma vez.

A sexta colocada do Acesso paulista, Pérola Negra (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
Atrás da Leandro, e na sexta posição, esteve o Pérola Negra. Após cair em 2016, a escola da Vila Madalena tentava se reerguer e voltar ao grupo de elite, porém isso não aconteceu. Com um enredo de difícil compreensão e um samba que não era um dos mais elogiados, a agremiação recebeu muitas notas baixas e amargou o sexto lugar. A escola teve os quesitos visuais como destaque. As alegorias estavam muito bem acabadas e coloridas. O abre-alas - assim como o da X-9 - era de grupo especial. As fantasias também estavam bonitas, porém uma ala estava apenas com a camisa da agremiação, calça legging e boné, destoando das demais. Mestre-sala e porta-bandeira estavam bem vestidos, e se apresentaram com elegância. A harmonia, que sempre foi um dos problemas da escola, passou regular. Os componentes cantavam, mas não com a mesma intensidade e força das coirmãs. Infelizmente, o Pérola pecou em alguns quesitos. O enredo foi de difícil compreensão, a começar pela comissão de frente. O samba, apesar de ser bem conduzido pelo intérprete Juninho Branco e o carro de som, não rendeu na avenida. A escola também teve problemas de evolução. Formou-se um buraco durante o desfile, entre uma ala e o último carro. Ademais a agremiação acelerou sem necessidade o passo no fim do desfile,  porque estavam com um bom tempo no cronômetro. Com essa série de erros, que não passou despercebida pelos olhos do jurados, o Pérola teve de se contentar com o sexto lugar.
  
O desfile com autoria do carnavalesco Mauro Xuxa ficou apenas na sétima colocação (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
O Imperador do Ipiranga, por sua vez, terminou em penúltimo lugar. A escola, que também apostou numa reedição para tentar voltar ao Grupo Especial, amargurou a sétima posição e quase o rebaixamento para o Grupo I. Com a estreia do carnavalesco Mauro Xuxa - que foi vice-campeão do Grupo Especial pela Tatuapé em 2016 - o Imperador sonhava voltar a elite do carnaval, mas acabou sofrendo com desfile muito problemático. A comissão de frente não foi uma das melhores. Os componentes apresentaram falta de sincronia na coreografia, inclusive nas apresentações para as cabines do júri. Além disso, a fantasia era muito simples e um componente da comissão não estava com um adereço na perna. As alegorias e fantasias também foram pontos negativos do desfile. Os carros eram de difícil concepção e apresentaram muitas falhas de acabamento. As fantasias, muito irregulares, também tinham problemas de finalização. A evolução foi outro quesito que prejudicou o Imperador: formaram-se dois buracos, um entre o primeiro casal de MS&PB e o carro abre-alas, e outro, entre uma ala e o último carro da escola. De positivo, tivemos o primeiro casal de MS&PB, que se apresentou satisfatoriamente, e a bateria, que ousou em paradinhas; e na apresentação para a cabine julgadora na torre 6, valendo-se de uma coreografia que levantou o público. O samba-enredo também foi um dos destaques, mesmo recebendo notas baixas.

A última colocada do Acesso, Estrela do Terceiro Milênio (Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize)
Em último lugar  e rebaixada à terceira divisão, ficou a Estrela do Terceiro Milênio. A escola, que veio do Grupo I sonhava em se manter no Acesso, apesar da missão ser muito difícil. Abrir os desfiles de domingo era complicado, mas a agremiação do Grajaú não deixou a peteca cair. Com um desfile surpreendente e luxuoso, a Estrela iniciou o desfile com pé direito. As fantasias foram uma das mais belas que passaram no domingo, o conjunto era muito colorido e bem acabado. As alegorias também foram outro show a parte, apesar de terem passado apagadas - o que influenciou nas notas. Outro ponto positivo foi o primeiro casal de MS&PB, que muito muito entrosado, se apresentou com correção. A bateria levantou a arquibancada e passou com um ótimo andamento. Ademais, os componentes cantavam com muita alegria e pareciam se divertir no desfile. A escola, infelizmente também apresentou alguns pontos negativos. O enredo foi de difícil compreensão na avenida, o samba-enredo, apesar de ter sido bem conduzido pelo intérprete Vaguinho, não rendeu como o esperado. Apesar de ter feito uma apresentação com claras pretensões de permanência no grupo, a Estrela sofreu com o excessivo rigor dos juízes, e acabou rebaixada ao Grupo I.

Assim terminamos a nossa análise sobre as colocações dos desfiles do Grupo Especial e Acesso. E você, o que achou dos desfiles do Acesso? Concorda com o resultado? Dê seu veredito!

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