#BOLOEGUARANÁ: Tradição, uma escola dissidente, chega aos 36 anos em meio a incertezas
A Grêmio Recreativo Escola de Samba Tradição completa hoje, 01º de outubro, 36 anos. Fundada a partir de uma dissidência da mais tradicional escola de samba carioca, a Portela, a Tradição encontra-se hoje desfilando na Livres, uma liga que surgiu a partir de um desentendimento entre agremiações que desfilam na Estrada Intendente Magalhães.
Nos preparativos para o carnaval portelense de 1985, uma briga por conta do controle de algumas alas da escola foi a gota d’água para que um grupo liderado por Nézio Nascimento (filho do lendário Natal da Portela) criasse a Tradição. A agremiação recém-fundada pretendia superar a Portela e para isso propôs uma série de mudanças na sua forma de organização, com uma comissão de carnaval e a encomenda de sambas-enredo.
Nesse primeiro momento, a escola de fato se mostrou algo novo e com isso agregou um time de peso, que incluía Vilma Nascimento, João Nogueira e Paulo César Pinheiro. Já nos seus primeiros anos, contou com grandes sambas-enredo, uma equipe de peso na parte plástica (com nomes como Lícia Lacerda, Rosa Magalhães e Maria Augusta) e foi enfileirando vitórias nos grupos de Acesso até chegar ao Grupo Especial em 1988.
O clima tenso com a Portela foi uma marca desses anos iniciais. A escola de Madureira, por exemplo, impediu na justiça que a nova agremiação usasse o nome Portela Tradição. Já em 1987, com o enredo “Sonhos de Natal”, a Tradição desfilou homenageando um baluarte portelense e, ironicamente, pedindo licença a “querida Portela”.
O desfile da azul e branco de 2001 sobre Silvio Santos. Foto: LIESA/Tantos Carnavais |
O auge da escola aconteceu em 1994, quando conquistou o 6º lugar, ficando na frente da Portela, com o enredo “"Passarinho, passarola, quero ver voar". Depois disso, a escola agremiação a acumular rebaixamentos, alternando-se entre o Grupo Especial e o de Acesso. Em 2001, com sua homenagem ao apresentador Silvio Santos, deu seu último suspiro perante o grande público.
Repetindo práticas que outrora criticara, a Tradição foi perdendo espaço, mesmo entre aqueles que apostaram nela na sua fundação. Um símbolo disso foi o reencontro de João Nogueira com a Portela em meados dos anos 1990.
O último desfile da escola na Sapucaí foi em 2014, pelo Grupo de Acesso. Atualmente, depois de alguns desfilando no Grupo B (na Intendente Magalhães), a Tradição desfila pela Livres, a liga de dissidentes da Liesb (a liga organizadora dos desfiles da Intendente). Como não foi reconhecida pela Lierj (liga organizadora dos desfiles do Grupo de Acesso), a Livres acabou ficando num certo limbo, visto que as escolas que nela desfilam nem são rebaixadas nem tem chance de subir para a Sapucaí.
Em meio a mais uma dissidência e diante de muitas incertezas, agravadas pela pandemia da Covid-19, a Tradição se organiza para o próximo carnaval, quando deverá apresentar um enredo sobre a escritora Clarice Lispector – quem completaria 100 anos de nascimento no próximo dezembro.