As pérolas das justificativas do carnaval 2020

by - março 20, 2020




Quarantenou e não é fake news! A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) ajudou todo mundo que tá vivendo de isolamento em casa e resolveu, em plena quinta-feira de coronavírus, divulgar as justificativas do carnaval 2020. Como diria a Imperatriz em 2011: a cura do corpo e da alma no samba está!

Mais um ano, o Carnavalize fez aquele filtro bonito para você não ficar de fora dessa aventura:

em meio a caligrafias caóticas, incompreensões e mensagens bem esquisitas, separamos o que há de mais curioso - engraçado, triste...?! - nas rasuras e nos rabiscos do júri do Grupo Especial carioca.

E aí, será que tivemos muitas complicações? Simbora conferir! (Ah, quando acabar, leia as pérolas de 2018 aqui e as de 2019 aqui! Aproveite o isolamento e #Carnavalize conosco!)




Começando por um dos quesitos mais badalados das pérolas: comissão de frente. Como já mostramos em número em um ensaio sobre o quesito, ele é dos mais difíceis de gabaritar e geralmente conta com justificativas beem curiosas!


O primeiro módulo contou com uma caligrafia complicada. Sendo a única a canetar o Salgueiro, a julgadora criticou o posicionamento do tripé e disse que ele ficou escondido atrás de umas das caixas de som da avenida! Não será hora de repensar a localização destas...?
 



Quais são as palavrinhas mágicas? Engana-se quem diz “obrigado e por favor”! Para o julgador de comissão de frente do segundo módulo, são “utilização, exploração e distribuição de materiais”. Ele colocou a frase no repeat e utilizou essas mesmas palavras em 4 justificativas: Estácio, Mangueira, Tuiuti e São Clemente!  








Já no módulo 4, a julgadora de comissão foi preparada para a avenida: levou adesivos e colou 13 estrelas (PT?) em homenagem às agremiações! Olhe as observações dela:







No quinto módulo, o julgador de comissão de frente parecia bastante carente. Ele baseou alguns de seus descontos - como na Viradouro e no Tuiuti - pelo fato de que os tripés não viraram para a cabine, prejudicando a visão do todo! Será que ele acha que as apresentações têm que ser exclusivas ao júri e não podem ser feitas em 360º...? Fica a dúvida!  







Se o julgador de  comissão de frente do segundo módulo tem as suas palavrinhas mágicas, não podemos dizer diferente da União da Ilha em fantasias. A escola que deixou 1 ponto no quesito vai ter pesadelos com os termos: “fator carnavalesco”, “carnavalização” e “apuro estético”, que apareceram nas justificativas dos três primeiros julgadores.






Ainda em fantasias, no segundo módulo, ainda que as notas tenham saídas certas no mapa, a julgadora mostrou que foi nas aulas de belas-artes e de caligrafia (sugestão, Liesa, pro ano que vem!)... mas faltou dar atenção à aula de decimais em matemática! Em todas as justificativas, ela tirou menos do possível, e se embaralhou nas casas decimais! -0,01 dá 9,99, gente!





 Também no quesito que avalia os figurinos, uma julgadora - que não é marinheira de primeira viagem - parece que esqueceu que guardiões, ainda que tragam roupas "lindíssimas e especiais", nas suas palavras ou nas de Maria Augusta, não são figuras obrigatórias! Canetando a Mangueira em 3 décimos, em uma das notas mais controversas do carnaval, a mesma julgadora também discursou sobre a simbologia da cruz de Jesus e disse que "A auréola associada à estética LGBTI+ não proporcionou o efeito esperado e não transmitiu a mensagem proposta". Vai vendo...



Indo para outro quesito, alegorias e adereços são bem impactantes e geram polêmicas, como o único julgador do ano - e o primeiro de muitos! - a não dar 10 para nenhuma agremiação. O canetador do módulo 1 fez justificativas "ficais de erro", catando deslizes em cada uma das escolas, indo à risca o modelo proposto pela Liga.  Na Grande Rio, que contou com um dos melhores conjuntos alegóricos do ano, sobrou até para o "excesso de técnicos (empurradores)" nos chassis do abre-alas:




"Faltava a hélice da cauda do helicóptero" e ônibus "inexpressivo". Você já sabe de qual escola estamos falando, né? Só a Ilha poderia fazer a segunda jurada de alegorias escrever isso no seu caderno:




A mesma julgadora tirou ponto das alegorias da São Clemente pela ausência do destaque da "esposa perfeita" do "presidente perfeito". O conceito ficou pouco explícito: esposa perfeita não existe!
  




No terceiro módulo de alegorias e adereços, a Mangueira foi descontada sob alegação de "peso visual pejorativo" em seu terceiro carro, um dos mais belos da verde e rosa. O que será que significa isso na cabeça do julgador?



Como observação à Estácio de Sá, o mesmo julgador deu uma explicação sobre as cores naturais das minas, minérios e PEDRAS, para que Rosa Magalhães.... não esquecer... Será que também é geógrafo?




E, ainda falando da professora, o júri que compôs o quinto módulo de alegorias descontou a Estácio porque o conjunto alegórico estava "irregular quanto ao tamanho das alegorias entre si". Ou seja: faz tudo gigante!






Enquanto isso, em Mestre-Sala e Porta-Bandeira, sempre um recatado quesito, para um 9,9 do segundo módulo ao casal da Mangueira se falou, falou, falou e ficaram... dúvidas e perguntas! 



No quesito samba-enredo, o julgador do terceiro módulo foi bastante nostálgico na avaliação da obra da União da Ilha!



No quarto módulo, a julgadora deixou explícito que, se fosse corretora do Enem, não teria caveirão certo com ela, muito menos receita de miojo. Ela despontou a São Clemente e fez questão de sinalizar a falta de originalidade do refrão principal, que, segundo ela, cabia “em qualquer outro samba” da agremiação. 



Finalizando o quesito samba-enredo, o julgador do quinto e último módulo deixou registrado nos dois campos destinados às observações - domingo e segunda - que segue a tendência conservadora que assola nosso país. Aos compositores, atenção!




Já em enredo, a Estácio recebeu uma aula de mineralogia, o quinto e último julgador do quesito enredo deu uma profunda explicação de onde vem e como podemos encontrar o ouro antes de também tirar uns décimos da escola do morro de São Carlos.





Já que falam que a Unidos de Padre Miguel não sobe porque só pode ter uma escola do bairro, depois da declaração do quarto julgador de enredo que elogiou a escolha de enredo Mocidade Independente de Bangu, a UPM tem chances?



Partindo à pista, evolução não trouxe grandes incômodos de leitura! Curioso foi saber que os fotógrafos atrapalharam a evolução do Tuiuti, deixando um "espaço poluído" ao segundo julgador!



No quarto módulo, Viviane Araújo foi citada. Rainha das rainhas, né?! A julgadora de evolução penalizou a Academia do Samba pelo excesso de compactação e, para isso, sinalizou a falta de espaço pra rainha da bateria se apresentar:



Assim como o corretivo da ainda quarta julgadora do quesito evolução, para o efeito de quaisquer críticas, elogios e sugestões, a realização desse texto é de  nossa responsabilidade. Quem nunca errou que atire o primeiro liquid paper!



Em harmonia, o julgador do segundo módulo foi incisivo ao dizer que, na Estácio, algumas alas apresentavam "nenhum canto". Eita!  



E todo ano algum deles se arrisca a fazer algum desenho ou gráfico para explicar os descontos. Dessa vez, foi com o Tuiuti, no segundo julgador de harmonia! Pianíssimo até quase desaparecer... Escritos de harmonia ou como queremos ver o coronavírus?





Ainda no quesito, a julgadora do terceiro módulo questionou a presença de uma voz feminina no carro de som da São Clemente. Poxa, julgadora, uma voz feminina destoa? Porque é feminina...? Ficou estranho!



A mesma jurada ainda deixou uma sugestão curiosa...






No quesito bateria, teve o desencontro rítmico entre as justificativas dos julgadores do primeiro e do segundo módulo. Posicionados justapostos, na mesma altura da avenida, um reclamou da falta de bossa da bateria da Mocidade, enquanto outro elogiou exatamente uma “paradinha” antes de penalizar a escola:




 No quinto módulo de bateria, ficamos na dúvida se o julgador estava analisando a orquestra ou se estava fazendo comentários sobre um crush! Tem que ter pegada, né?



Mas duas ponderações importantíssimas foram feitas no quesito bateria! Os julgadores do primeiro e do segundo módulo, que ficaram na altura do Setor 3, reclamaram do som da avenida, problema que continua assombrando muitas escolas... Têm razão de sobra!




E a gente quer finalizar as pérolas relembrando que torcemos muito para um carnaval cada vez mais justo, com justificativas competentes e condizentes com o visto na pista sagrada da Sapucaí! 


Por isso, encerramos nossa lista com o comentário da segunda julgadora de fantasia, que parabeniza os artistas da festa e dá a letra: "em um cenário em que tentam cada vez (mais) asfixiar nossa cultura popular, o carnaval resiste". É isso! Não sucumbiremos! 




 










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