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Carnavalize

 

Arte de Lucas Xavier

Por Adriano Prexedes

O ano era 2012, considerado por muitos um dos maiores carnavais da história do Sambódromo do Anhembi. A folia, geralmente, é lembrada pelo grande público por causa da confusão generalizada no final da leitura das notas, no dia 21 de fevereiro daquele ano, mas não se resume apenas a esse fato.

As catorze agremiações que formavam o Grupo Especial na ocasião proporcionaram ao público presente e aos telespectadores que acompanharam a transmissão momentos e imagens memoráveis. Entre estas escolas, estava uma ainda jovem integrante que se preparava para o que oficialmente seria seu sexto (guarde este número) desfile na elite do samba paulistano. Mas, antes de falarmos da apresentação de 2012, precisamos falar um pouco da trajetória da alviverde e de sua matriarca, Dona Norma de Luca. 

Em 1983, como resultado da fusão de três torcidas antigas, surge a Mancha Verde. Entre seus fundadores estavam Cléo Sóstenes e Paulo Rogério de Aquino, o Paulo Serdan. Além de frequentar os estádios, seus integrantes também eram foliões. A torcida chegou a ter uma ala no Águia de Ouro, agremiação oriunda do bairro da Pompéia, que também tem ligação com o futebol por ter surgido a partir de um clube de várzea, o Faísca de Ouro.
 
O grande sonho de Cléo era que a torcida tivesse uma escola de samba própria, e desfilasse um dia no grupo especial junto das principais agremiações da cidade. Infelizmente, meses após o carnaval de 1988, Sóstenes foi assassinado. Apesar da ideia não ter ido pra frente, o sonho não havia acabado. A semente plantada por ele ainda iria germinar.
Cléo Sóstenes (ao centro) e componentes da ala da torcida Mancha Verde nos preparativos do desfile de 1988 do Águia de Ouro. Crédito: acervo GRCES Mancha Verde.

A torcida seguiu crescendo e ganhando notoriedade, até que em 1995, após um conflito com um grupo adversário, a entidade palmeirense teve que ser extinta por força de uma decisão judicial. A torcida foi extinta, mas o espírito de celebração e alma sambística não. Muitos integrantes ainda faziam batuque e desfilavam. E foi em 1995, mais precisamente no dia 18 de outubro, que o sonho de Cléo começou a ganhar forma. Pela união de integrantes da torcida, entre eles Paulo Serdan, nasce o Grêmio Recreativo Cultural Bloco Carnavalesco Mancha Verde. A fundação contou com o apoio de alguns nomes do samba paulistano, como Eduardo e Ernani Basílio, da Rosas de Ouro, que se tornou a escola madrinha da alviverde.

Entre as figuras-chave para se contar a história da Mancha está a de Dona Norma de Luca, mãe do presidente Paulo Serdan. A ligação de Norma com a escola não se resume apenas à relação de parentesco com o comandante da entidade. Ela era uma mãe no sentido amplo da palavra. Muito cuidadosa, foi a grande incentivadora do sonho manchista desde a época da torcida. Quando Serdan foi presidente da torcida, ela esteve lá confeccionando bandeiras e acessórios para os jogos. 

No primeiro carnaval da Mancha, foi ela quem garantiu que o desfile acontecesse. E foi assim nos anos seguintes. Norma cedeu um espaço em seu estabelecimento comercial, que se tornou a sede e ateliê do então bloco. Lá, acompanhada dos “seus meninos”, componentes e voluntários, confeccionava todas as fantasias que seriam usadas nas apresentações. Em 1998, o bloco conseguiu sua primeira quadra, na Avenida Abraão Ribeiro e Dona Norma seguiu no comando da produção das fantasias, virando noites junto de seus meninos e meninas para garantir que tudo ficasse pronto a tempo.

E foi assim até o ano de 2003. Nesse tempo, o amor e a dedicação à agremiação foram se tornando cada vez maiores. A matriarca chegou a enfrentar as autoridades para garantir a segurança dos componentes e da quadra. Ao longo dos anos, ela se tornou a maior referência para a entidade por sua garra, amor, dedicação e perseverança. Dona Norma teve participação em vários setores da agremiação, desde a escolha do samba até a ala das baianas, pela qual tinha um carinho muito grande e se tornou madrinha.
Dona Norma de Luca nos preparativos para o desfile de 1998. Crédito: acervo GRCES Mancha Verde.

O primeiro desfile oficial da Mancha Verde foi em 1996, realizado no bairro de Vila Maria pelo grupo de espera de Blocos. O enredo era um chamado em prol da preservação das matas, que rendeu um vice-campeonato. Em 1997, a entidade se apresentou no Grupo 1 de blocos cantando a noite paulistana e conquistou o primeiro campeonato de sua história. É necessário abrir um parêntese aqui, pois, em 1997, ressurgiu oficialmente a torcida organizada, dois anos após a extinção da antiga Mancha Verde em 1995. Com o nome Mancha Alvi-Verde, o coletivo de torcedores não possui ligação jurídica com a agremiação carnavalesca.

Em 1998 se apresentou pela divisão de Blocos especiais, no Sambódromo do Anhembi, com um simpático samba-enredo sobre as palmeiras, que remetem ao nome do time de futebol ao qual a entidade presta reverência. O resultado foi mais um campeonato. No ano seguinte, um vice-campeonato. Tanto em 1998, quanto em 1999, a agremiação contou com a presença ilustre do intérprete Quinho, à época no Salgueiro. A alviverde contou com nomes importantes do carnaval no início de sua trajetória como Mestre Juca, Mestre Sombra, Douglinhas e Agnaldo Amaral.
Time de canto da Mancha Verde em 1998. Crédito: acervo GRCES Mancha Verde| Acervo Pessoal Douglinhas.

Após o carnaval de 1999 era dado um passo importante na história da Mancha: a entidade deixava de ser um bloco e passava a ser Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mancha Verde. Mais uma etapa na realização do sonho de Cléo Sóstenes era concretizada. Em 2000, então, foi realizado o primeiro desfile como escola de samba. No Grupo 3 da UESP (atual Acesso 1 de Bairros), o enredo foi “Brasil, que história é essa?”, que questionava pontos da história oficial do país. Quinho também foi o intérprete oficial, tendo se dividido entre a madrinha Rosas de Ouro e a afilhada. O resultado foi um vice-campeonato e o acesso para o Grupo 2 UESP (atual Especial de Bairros). E foi lá, que em 2001, a escola fez o seu primeiro enredo “afro”: “A busca da paz no axé dos Orixás”, que convocava uma grande gira para saudar os Orixás e pedir paz na Terra no início do novo milênio. E, tendo sido campeã do grupo 2, foi então promovida ao Grupo 1 da UESP (atual Acesso 2).

No Grupo 1 da UESP, mais um campeonato: a exaltação das lutas e conquistas da classe trabalhadora permitiu que a Mancha ficasse cada vez mais perto do seu objetivo de chegar ao Grupo Especial. No ano de 2003, o resultado foi muito positivo: um 3º lugar ao falar da cor verde. Após este carnaval, a confecção das fantasias deixava de estar sob a batuta de Dona Norma, que coordenava a produção das indumentárias na quadra, e passou a ser feita em ateliês externos. No carnaval monotemático dos 450 anos de São Paulo, a Mancha Verde brilhou ao cantar a influência italiana na capital paulista. Campeã do grupo de Acesso, a agremiação conquistou seu lugar entre as grandes.

Em sua estreia na elite do carnaval paulistano, a escola causou um impacto positivo com sua apresentação falando sobre o estado do Mato Grosso. O resultado final foi um 12º lugar que garantiu a permanência na divisão principal. Entretanto, os dois carnavais seguintes reservariam grandes emoções. A humildade e, principalmente, a perseverança, mais do que nunca, se tornaram tônicas na trajetória da agremiação.

Apesar de não estar juridicamente ligada à torcida organizada, a escola ainda mantinha e mantém uma ligação com os torcedores e o time. E assim, com o acesso dos Gaviões da Fiel em 2005 (a escola havia sido rebaixada em 2004), entrou em vigor uma regra imposta pela Liga-SP que determinava que as agremiações que tivessem relação com torcidas/clubes de futebol fossem alocadas em uma nova divisão: o Grupo Especial das Escolas de Samba Desportivas. Em teoria, na ocorrência de mais de uma escola de samba “de torcida” no Grupo Especial, todas seriam colocadas nesta divisão e disputariam um título à parte.

Na prática, não foi bem assim que as coisas se desenrolaram. Gaviões da Fiel e Mancha Verde procuraram juntas as vias jurídicas para reverter o efeito desta regra. Porém, apenas uma delas conseguiu. Os Gaviões obtiveram uma liminar, apoiada em uma brecha do regimento, que permitiu sua participação no Grupo Especial de 2006. Já a Mancha acabou não sendo contemplada com a decisão e foi obrigada a disputar sozinha o grupo das desportivas. Isolada, a alviverde ainda teve de lidar com a perda de sua maior incentivadora, Dona Norma de Luca. A matriarca faleceu dias antes da apresentação. Os componentes, baqueados pela perda de sua maior referência, ainda tiveram que lidar com outros problemas: primeiro, uma tentativa de invasão ao ateliê; e depois, um incêndio que destruiu o carro abre-alas que teve de ser reconstruído. Além disso, um dos componentes da comissão de frente teve de ser substituído a poucos dias do desfile.
Carro abre-alas da Mancha Verde em 2006 após o incêndio e durante o desfile, já reconstruído.

Com o enredo “Bem aventurados sejam os perseguidos por causa da justiça dos homens… porque deles é o reino dos céus”, uma clara referência a toda a situação a qual foi submetida, a agremiação foi a campeã do grupo das desportivas, já que era a única integrante. Para 2007, o isolamento se manteve mesmo sem a presença dos Gaviões na primeira divisão (a alvinegra foi rebaixada em 2006). “Decifra-me ou devoro-te! Apocalipse: quatro cavaleiros, três profecias e quatro segredos” foi o enredo que deu para a Mancha mais um título da divisão das desportivas. Caso tivesse disputado o Especial em 2006 e 2007, a escola teria ficado em 7º e 11º lugar, respectivamente.

Após a folia de 2007, o Grupo Especial das Escolas de Samba Desportivas foi dissolvido e, pela primeira vez, teríamos duas escolas “de torcida” desfilando pelo Grupo Especial, já que os Gaviões foram campeões do Acesso. Em 2008, a Mancha fez uma homenagem ao escritor Ariano Suassuna. A escola também enfrentou problemas para colocar o desfile na pista, mas as situações foram controladas e o resultado foi um 7º lugar no carnaval que é considerado por alguns a estreia oficial da agremiação no Grupo Especial. No carnaval de 2009, a Mancha cantou o estado de Pernambuco e ficou em 10º lugar. Consolidando-se na elite, em 2010 veio o primeiro resultado expressivo: com uma homenagem aos mestres e professores obteve um 4º lugar, que garantiu o primeiro desfile das campeãs como integrante do Especial. Em 2011, manteve o bom resultado tendo ficado em 4º lugar mais uma vez. O enredo “Uma ideia de gênio” levou para o Anhembi os pensamentos e ideias de grandes gênios da humanidade.
Entrada da Mancha Verde no carnaval 2011.Crédito:Daigo Oliva|G1

Agora, sem mais delongas, voltemos para o ano de 2012. O enredo da Mancha era “Pelas mãos do mensageiro do Axé a lição de Odu Obará: a humildade”, desenvolvido por uma comissão de carnaval formada a época por Pedro Alexandre “Magoo”, Troy Oliveri, Thiago de Xangô e Paolo Bianchi. Os Odus, traduzidos do Iorubá como “destinos”, são as figuras principais do enredo. São peças utilizadas no oráculo de Ifá, instrumento divinatório de religiões de matriz africana. São 16 os Odus principais e cada um deles possui mensagens (itans) associadas a si de acordo com as possibilidades de leitura.

O Odu destacado no enredo era Obará, o sexto na ordem de resposta do jogo, e, portanto, frequentemente associado ao número seis e seus múltiplos. E curiosamente, a escola estava oficialmente indo para o seu sexto desfile no Grupo Especial, além do ano em questão terminar em 12, um múltiplo de seis. Por mais que haja associação de Obará com o número 6, quando se olha para a chamada ordem de chegada na Terra, este Odu é o sétimo. E aí reside outra curiosidade, já que a agremiação foi a 7ª a desfilar.

No itan, Obará era o mais pobre dos 16 irmãos príncipes. Em uma visita anual ao Babalaô (sacerdote do culto de Ifá) os outros 15 irmãos foram presenteados com Morangas (abóboras), das quais desdenharam. Após este encontro, os 15 Odus seguiram para a casa de Obará, que era muito simples. Mesmo com todas as dificuldades, Obará usou todos os seus recursos para alimentar os irmãos, que após passarem a noite em sua casa se foram. Obará acabou ficando sem nenhum alimento, exceto as abóboras deixadas por seus irmãos. Sem ter o que comer, ele pede a esposa que abra as abóboras, e os dois se deparam com muito ouro e pedras preciosas. Obará prosperou. A grande lição é que a generosidade e a humildade devem prevalecer sobre o orgulho, a ganância e a vaidade. A narrativa proposta utiliza o conto para pedir uma mudança da atitude dos seres humanos em relação ao seu entorno, prezando por um convívio mais harmônico e menos destrutivo. Última escola da primeira noite, foi por volta das 7h da manhã já do sábado, 18 de fevereiro de 2012, que a Mancha Verde adentrou a avenida. Porém, antes, um susto: o braço da escultura principal do carro abre-alas se soltou. Entretanto, o problema foi solucionado e não causou maiores contratempos. 
Detalhe da comissão de frente da Mancha Verde em 2012.Crédito: Levi Bianco

Embalado pelo samba-enredo de Freddy Vianna (também o intérprete); Armênio Poesia e Channel, o cortejo se iniciava com a comissão de frente que trazia 14 Orixás (Exu; Ogum; Oxóssi; Obaluaiê; Nanã; Ossain; Xangô; Oxumarê; Oxum; Iansã; Ewa; Obá; Iemanjá e Oxalá), designados pelo Deus supremo e associados às forças da natureza. A performance encabeçada por Exu abria os caminhos para o carro abre-alas “O mundo em destruição” que trazia um cenário de devastação com peixes em decomposição, mar poluído e um grande esqueleto. Na parte traseira, uma figura feminina representava a natureza agonizando em razão do dano causado pela ganância e soberba do homem. A alegoria retratava a passagem inicial do enredo, onde sob uma perspectiva negativa, um babalaô recorre ao tabuleiro de Ifá em busca de respostas. O sacerdote é respondido pelo mensageiro, Exu, que começa a lhe revelar a lição.

“A fé eu fui buscar
Com meu clamor ao mensageiro
Sou babalorixá
A dor de um mundo inteiro”
Traseira do abre-alas da Mancha Verde. Crédito: Reprodução Internet

Exu se encontrava também representado em um tripé e na segunda ala do desfile, após o abre-alas. Na sequência, vinha a bateria comandada por Mestre Moleza e Mestre Caju. Os Ogãs da escola representavam os Ogãs do Candomblé, responsáveis pela condução rítmica e musical nos rituais da religião. Seguindo a bateria, estava a ala de passistas e, logo depois, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Fabiano Dourado e Jéssika Gioz. Ele vinha como um babalorixá, enquanto ela representava um tabuleiro do jogo de ifá com uma saia vazada com plumas e adereços em branco e tons de marrom/palha.
1º casal da Mancha Verde em 2012.Crédito:José Cordeiro|SPTuris

“A resposta que vem dos búzios” era o nome da segunda alegoria, que ilustrava justamente o jogo do Ifá e a leitura das respostas. Chama-se atenção para as representações trazidas nas esculturas principais do carro: sentado, aparece um babalaô fazendo a leitura dos búzios. A frente, aguardando as respostas, uma figura feminina, clara referência à Dona Norma de Luca. Já foi comentado anteriormente sobre a relação maternal de Norma com a escola e sua comunidade: Mas talvez poucos saibam sobre a vida religiosa da grande dama da Mancha, que era praticante do Candomblé, iniciada em Oxumarê. Atrás da segunda alegoria vinham as baianas, xodós de dona Norma, que estavam vestidas como “Ayê, a mais bela criação de Olorum”, que representava a criação da Terra pelo Deus supremo. A indumentária em verde com a barra da saia em azul era adereçada com muitas flores.
Segunda alegoria da Mancha Verde. Crédito: Reprodução| Palmeiras Online

“Tenho a sede do saber
E ainda muito o que aprender
Se Olorum é o pai da criação
eu sou mais um dos filhos desse chão”

As alas, na sequência, falavam da criação do mundo e dos elementos da natureza, também representados pelo segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Leandro e Luana. A mensagem começava a ser revelada para o babalaô. Olorum ao criar o universo, designou a vida e também os Orixás. Ao perceber que o ser humano seria falho e entraria num ciclo de degradação e perdição, o Deus supremo designa Orunmilá, senhor dos destinos. Com o dom da eternidade, Orunmilá acumula experiência e sabedoria a ser passada aos seres humanos. E, para que essas mensagens fossem transmitidas, o Orixá dos destinos designa os Odus, aqui representados por príncipes, que tinham a missão de revelar as verdades e ensinar suas lições aos homens.

“Orunmilá
Criou senhores do destino
A cada irmão deu seu ensino
E o dom em conhecer as direções”

Na história contada pela Mancha, a revelação era a lição de Odu Obará, representada na terceira alegoria, “A recompensa de Odu Obará”. O carro trazia no centro a morada de Obará, uma casa simples de palha e madeira. A casa era rodeada por grandes abóboras, aquelas deixadas por seus irmãos, onde composições vinham vestidas como as joias contidas nos frutos. Na parte traseira, aparecem referências à Xangô, Orixá justiceiro que junto de Oxóssi é associado ao Odu Obará.

“Obá! Obá!
O olhar de cobiça vai perceber
Babalaô! Faz a justiça vencer, meu pai Xangô
A simplicidade vai determinar a riqueza na lição de Obará”

Exu ainda mostra ao babalaô o presente de Olorum ao Universo na forma dos Orixás, regentes das forças da natureza, para que assim se tomasse consciência de toda a riqueza e exuberância dada ao homem, da qual o mesmo não soube usufruir. O setor era aberto com uma ala em referência a Ogum, sucedida pela ala de Oxóssi, senhor das matas. O terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira representava o senhor das folhas, Ossain. O poder de cura e regeneração vinha na potência de Obaluaiê, representada na ala seguinte. Oxumarê vinha como o símbolo do renascimento e renovação. Em seguida temos Nanã, da lama, dos pântanos e da sabedoria. Oxum, senhora das águas doces e símbolo de beleza e riqueza era representada na ala que sucedia a de Nanã e dava lugar ao quarto carro alegórico, “Orixás: os presentes do criador”. O cenário era encabeçado por Iemanjá, divindade das águas salgadas associada à maternidade e à vida, e trazia também representações de outros Orixás do panteão Iorubá. 

“Que os ventos de Iansã
Levem Oxum, Obá, Nanã
No encontro com o mar, a vida é linda, salve Oxalá
Sementes vão trazer às folhas o poder
É o fim de uma era que se regenera em Obaluaiê”

Depois de absorver e compreender as mensagens reveladas, o babalaô cai aos prantos e clama por perdão pelos erros do homem. Ele pede que lhe seja mostrado o caminho para mudança, que lhe seja dada a devida punição, o devido castigo por suas falhas e pelas falhas da humanidade.

“Ó, senhor
Perdoai a humanidade
Iluminai a consciência
Pra guiar essa mudança”

Exu transmite a mensagem de Olorum, que concede o perdão e enxerga no babalaô o desejo de mudança e a humildade ensinada na lição de Odu Obará ao vê-lo assumir os erros de toda a humanidade. Assim, o sacerdote é designado o mensageiro do axé, incumbido com a missão de transmitir para toda humanidade a lição aprendida, para que assim o Universo passe a trilhar o caminho para o “Mundo que Olorum sonhou”. Esse é o nome do quinto e último carro do cortejo, que se contrapõe à imagem do abre-alas, trazendo a Terra regenerada com águas limpas, animais vivos e as matas exuberantes. Na parte traseira, a escultura feminina, agora diferente do início, era verde e viva.

“Vou guardar no coração, levar em minhas mãos
A mensagem de esperança”
Traseira do último carro da Mancha Verde.Crédito: Rivaldo Gomes|FolhaPress

Com uma evolução tranquila, a Mancha Verde, banhada pelos raios de sol, encerrou uma apresentação tocante e emocionante. E, ao fechar os portões, ecoavam os gritos de “é campeã” dos componentes. Apesar do visual mais simples, o que denotava recursos mais limitados em relação às escolas grandes da época, a Mancha cumpriu o seu papel em nos ensinar a lição de Odu Obará. Seus grandes trunfos foram o belíssimo samba-enredo, cujos versos foram citados ao longo deste texto, e a bateria dos já citados Caju e Moleza. O envolvimento da comunidade também fez a diferença na apresentação. Na conturbada apuração, a agremiação terminou no quarto lugar com o total de 159,5, meio ponto atrás da campeã. Os descontos foram nos quesitos fantasias (0,3), mestre-sala e porta-bandeira (0,1) e harmonia (0,1).

Independentemente da classificação, a Mancha Verde cumpriu a missão de ser a mensageira do axé e nos ensinar uma valiosa lição. E, mais do que isso, o enredo de 2012 evoca valores e sentimentos que sempre estiveram presentes na história da escola. A humildade e, principalmente, a perseverança marcam a trajetória da agremiação que, por muitas vezes, viu o seu sonho ameaçado. Hoje o ideal de Cléo Sostenes é uma realidade. 

A Mancha é uma das principais e mais estruturadas escolas de São Paulo, com dois títulos e dois vice-campeonatos na elite. E se hoje tudo isso é real, em boa parte se deve a uma estrela mãe, que mostrou qual o caminho a seguir. É para ela que este desfile é dedicado, como deixado explícito pelo presidente Paulo Serdan durante seu discurso naquele ano. A “Norma da sabedoria”, como diz o samba de 2010, hoje em dia dá nome a rua onde se localiza a quadra da alviverde e continua regendo e iluminando os caminhos da Mancha para uma história de glórias e conquistas.

Agradecimentos:
Carlos Costa – Diretor do coletivo LGBTQIAP+ palmeirense PorcoÍris
Lucas Malagone – Equipe de comunicação do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mancha Verde


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Arte de Lucas Monteiro

Por Giovanna Brammer

Seja em versos como “Apresenta o Rio no cinema / Já não há mais lugar pra nos ver da passarela”, do Salgueiro, ou, para os mais chegados na terra da garoa, o “Vem ver o meu Império a brilhar / Um filme pra te emocionar”, do Império de Casa Verde, e ainda as inúmeras referências de filmes em desfiles de Paulo Barros, uma coisa é certa: as produções audiovisuais fazem parte da folia. 

Mas e quando a arte imita ou faz referência a um outro estilo de arte, não se torna algo mais bonito ainda? 

Vamos evidenciar filmes, séries e novelas que falam e conversam com os desfiles das escolas de samba de alguma forma. Portanto, os documentários – que são criados para exatamente exaltar o que foi realizado – ficarão de fora. Porém sim, há muitos bons documentários dos quais poderíamos falar (talvez em uma outra oportunidade?).

E também não apresento aqui uma lista, mas alguns exemplos para evidenciar o casamento perfeito entre audiovisual e carnaval e como ele pode ser bem aproveitado.

O carnaval é parte fundamental para a construção de um cotidiano brasileiro. Mesmo que a pessoa não goste dos desfiles em si, em algum momento ela esbarra em uma apresentação que foi comentada fora do momento de folia ou, como dizemos, em um desfile que furou a bolha. Seja em um samba-enredo entoado numa roda de samba, regravado por um intérprete de MPB ou em uma abertura de novela das seis, todos os dias em seus ouvidos, como foi em Lado a Lado, em 2012, usando o eterno “Liberdade, Liberdade” da Imperatriz Leopoldinense em 1989. 

Usar os desfiles como pano de fundo para alguma história evidencia como esse movimento está inserido. Em 2004, na famosa e icônica telenovela Senhora do Destino, vimos o brilhante José Wilker no comando de uma escola de samba, homenageando em seu desfile a personagem Maria do Carmo, protagonista interpretada por Susana Vieira. O personagem de Wilker, o ex-bicheiro Giovanni Improtta, representou uma imagem de presidentes de instituições, que sempre estão ali para sua comunidade, auxiliando na construção de um desfile e sendo completamente apaixonado, encantado e viciado por sua escola.


Maria do Carmo (Susana Vieira) e Giovanni Improtta (José Wilker). Foto: Divulgação/O Globo.


Já em Império, 10 anos depois, o imensurável Comendador José Alfredo, vivido por Alexandre Nero, foi enredo de uma escola de samba fictícia, culminando, inclusive, em momentos de tensão na novela causados por tal desfile. Sabemos o tamanho das novelas no Brasil e usar a montagem, construção e ideia de um desfile de escola de samba em horário nobre da televisão brasileira traz mais para perto e dá o ar de representatividade para quem vive isso o ano todo.

Elenco de Império desfilou na Sapucaí. Foto: Divulgação/O Globo.

No campo das séries, algo relativamente recente no Brasil, não tão forte como no exterior, mas que vem crescendo aos poucos, ainda são poucas as novidades. Em novembro do ano passado, o Carnaval se via referenciado e representado por uma série bem específica, que dialogava conosco. Encantados, do Globoplay, tem o Carnaval como uma referência, que ajuda os protagonistas e personagens a conviver em seu dia a dia.

Porém, nos filmes, já encontramos maior representação, de alguma forma. Temos Orfeu, que foi gravado em um desfile da Viradouro, e foi lançado em 1999. Trinta, em 2014, que é uma cinebiografia protagonizada pela atuação incrível de Matheus Nachtergaele, contando a história de Joãosinho Trinta.

Um dos meus filmes favoritos é Apaixonados, lançado em 2016, que tem como pano de fundo o desfile da Acadêmicos do Grande Rio desse mesmo ano - com samba e tudo! 

E hoje, mais recentemente, a Amazon lançou, em seu serviço de streaming, o primeiro filme da coletânea de “Um Ano Inesquecível", com foco no Verão e no desfile (mútuo, já que juntou 2020 com 2022, possivelmente pela pandemia) da Portela, mostrando os casos de montagem real do desfile, vez que foi muito mais gravado dentro do barracão da Portela na Cidade do Samba do que em quadra ou até mesmo no dia do desfile.

A ideia de expor os desfiles em obras audiovisuais é importante para aproximar a realidade que tanto nos cerca da vida comum de todos. Dizer que a montagem e pesquisa de um carnaval não é apenas em fevereiro e que a vida ali não é só a festa. Temos problemas, construções de narrativas - pessoais e sociais - e que podem gerar empregos e conhecimento. São vidas contadas, seja do âmbito profissional ou pessoal, com decisões de vida, rotinas e tudo o que envolve o que a gente já sabe viver diariamente.

É sobre se sentir representado, parte de algo especial que vivemos, ser exposto a muitas pessoas. Largar a 'síndrome de vira-lata’ que nos assola e dizer que sim, nós temos algo a ser exportado. Inclusive, exportado em 2011, quando lançado Rio, sucesso de bilheteria, que expunha a felicidade e ansiedade do Rio de Janeiro - no âmbito dos humanos e animais - ao chegar o Carnaval. O filme, mesmo cheio de alguns estereótipos errados sobre o Brasil, trouxe o desfile das escolas de samba como um ponto importante, sendo o momento de tensão final. 

Cabe a nós também consumir tais obras, para que elas tenham mais sucesso e se multipliquem. Comemoremos o sucesso de séries como Encantados, de filmes como Um Ano Inesquecível - Verão, pois demonstra a essas novas produtoras - que ainda bem que estão interessadas em fazer produções brasileiras -  que os desfiles podem ser pano de fundo para inúmeras histórias, sejam elas de produção de um carnaval, ou apenas como ideia para um mocinho e uma mocinha se encontrarem, sobre amigos que são do samba, enfim, inúmeras vivências para se produzir.

Em Encantados, um supermercado é também quadra de escola de samba. Foto: Sérgio Zalis/Splash UOL


Podemos sonhar sim com filmes e séries contando, cada vez mais, com essas referências, com representações nossas, pois têm aproximado as pessoas do carnaval e de seus movimentos. E que os dirigentes, tanto das ligas, quanto das escolas, se mostrem receptivos a esses projetos, abrindo as quadras, suas vivências e experiências, não apenas para documentários. Porque já não são mais sonhos, são realidades que, mesmo lentas e com dificuldade de crescimento, estão aí em nossa vida.

Caso algum produtor audiovisual esteja lendo este texto, saiba que meu sonho de garotinha é um Romeu e Julieta baseado na Mangueira e na Portela, numa rivalidade tal como de times de futebol, porém entre duas escolas gigantes. E ah, também se faz desfiles de escolas de samba em São Paulo, hein? Dá pra se fazer muitas obras por aqui! 

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 Sinopse: 

Nos últimos anos, as escolas de samba têm sido cada vez mais objeto de estudo e campo de pensamento no ambiente acadêmico. Uma das principais áreas de atuação a pensar a festa tem sido historicamente a Antropologia, exatamente por onde Victor e Clark navegam. Mais do que isso, a atuação dos dois mescla, como poucos fazem, os campos teórico e prático, já que além de uma vasta produção bibliográfica também se destacam como enredistas — profissionais responsáveis por escrever e pensar os enredos a serem apresentados pelas agremiações. 

Em nove artigos escritos pela dupla, vamos investigar exatamente a amplitude das noções teóricas e práticas do Carnaval brasileiro e suas escolas de samba sob o ponto de vista antropológico. São textos diversos em temáticas e perspectivas, que investigam o “assombro” que os desfiles provocam nos espectadores, além de diretrizes e reflexões sobre o campo prático na formulação e análises dos enredos que encantam a Sapucaí.


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Arte de Lucas Monteiro.

por Débora Moraes

Na história das agremiações cariocas, temos a década de 1960 como um momento de virada na festa, a partir da chegada de artistas externos para produzir e pensar os desfiles. Foi a partir de então que se denominou os “carnavalescos” como os responsáveis visuais. Essa aproximação dá início à "era de ouro" dos desfiles e a um longo debate sobre as categorias de artista e carnavalesco, assim como de carnaval e arte. Para aprofundar esse debate, listamos algumas exposições realizadas por carnavalescos em instituições renomadas de arte. Exploramos como as complexidades em torno desses indivíduos e da cena artística são alguns dos fatores que influenciaram a recepção e o reconhecimento desse grupo enquanto artistas.

1) ARLINDO RODRIGUES, 7ª e 8ª BIENAL DE SÃO PAULO, 1963 E 1965


Arlindo Rodrigues já gozava de reputação como cenógrafo e figurinista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro quando se juntou a Fernando Pamplona no Salgueiro, em 1960. No ano de 1963, após o sucesso do desfile “Xica da Silva” na vermelho e branco, ele foi convidado para exibir sua obra na “Exposição em Artes Plásticas do Teatro” na 7ª Bienal de São Paulo. Na época, a mostra se desdobrava em várias categorias, como a seção de Teatro, que se dividia em Arquitetura, Indumentária e Técnica Teatral. 

Foi na área de Cenografia e Indumentária que as obras de Arlindo foram exibidas, contando com ‘croquis’ originais, gravuras, quadros e trajes. Na lista completa das obras de Arlindo estão incluídos desenhos e algumas maquetes, sendo a maioria para trabalhos para o Municipal, mas conta também com peças de Xica da Silva. 

A lista de obras atribuídas a Arlindo Rodrigues no catálogo da Bienal de Arte de 1963.


Na edição seguinte da Bienal, o carnavalesco levou outros cinco trabalhos, incluindo os croquis de Chico Rei (Salgueiro, 1964). Na oportunidade, o júri de Teatro da Bienal concede a ele o “Prêmio ao melhor figurinista brasileiro”. A Bienal de São Paulo é uma das maiores instituições artísticas do Brasil e é significativo que Arlindo reconheça seu trabalho para a escola de samba como parte importante de sua obra já em seus primeiros anos de atuação. Ter um nome reconhecido, afirmando que seu trabalho no Salgueiro era tão importante quanto no Teatro Oficina ou no Municipal, concede certa legitimidade às escolas de samba na cena artística, nesse primeiro momento. E nas décadas seguintes podemos acompanhar como essa recepção oscila e se mostra ligada a pessoas e circunstâncias específicas, como no caso de Arlindo Rodrigues. 


2) FERNANDO PINTO “COMO ERA VERDE O MEU XINGU”, GALERIA CÉSAR ACHÉ, 1983 e GALERIA PÃO DE AÇÚCAR, 1984


Se passaram mais de duas décadas até que um carnavalesco fosse novamente reconhecido por uma instituição artística. Quem conseguiu tal façanha foi Fernando Pinto, após a repercussão de seu trabalho na Mocidade Independente de Padre Miguel em 1983. O colunista social do Jornal do Brasil, Zozimo Barroso do Amaral, publicou uma nota expressando a indignação de um “grupo grande de artistas plásticos” com o resultado do desfile de 1983, com “Como era verde meu Xingu” ficando em sexto lugar. 

Segundo o texto, “o trabalho de Fernando Pinto chega a ser comparado por alguns à obra de um verdadeiro artista. Algumas de suas criações, segundo outros, poderiam figurar no acervo de qualquer colecionador de obras de arte em pé de igualdade com esculturas assinadas por artistas consagrados” (JORNAL DO BRASIL, 20/2/1983).



Ao contrário de Arlindo, que “empresta” sua legitimidade já existente aos seus desfiles, Fernando Pinto é reconhecido aqui primeiramente como carnavalesco, e depois “chega a ser comparado [...] a um verdadeiro artista”.  Como é comum no mundo da arte, a validação (se é arte, se é um artista) vem daqueles inseridos no meio. À época, Frederico Morais já era um dos nomes mais importantes na arte contemporânea brasileira, e além de atuar como crítico e professor, Morais passou por instituições como o MAM e o Parque Lage, influenciando o questionamento de normas e instituições artísticas, buscando tornar a arte brasileira mais experimental e democrática. O apoio dos vanguardistas leva o carnavalesco à Galeria César Aché, em Ipanema, comandada pelo homônimo, apreciador de arte popular brasileira e de arte contemporânea, cuja coleção é referência no campo da arte brasileira. É interessante apontar que Aché fazia questão de diferenciar “arte popular” de “artesanato”. 



Continuando uma relação próxima com os artistas do período, no ano seguinte Fernando Pinto se junta a artistas consagrados em uma galeria criada no Pão de Açúcar, local no qual o carnavalesco havia assinado as decorações dos bailes de carnaval entre 1979 e 1983. O local é descrito da seguinte maneira: “no contexto carioca da passagem dos anos 70 para os 80, o evento se configuraria como o point da elite intelectual ‘desbundada’ do período, espécie de metiê artístico organizado por Guilherme Araújo. Alguns dos grandes nomes da “Geração 80” estavam presentes, entre eles Hélio Oiticica e Carlos Vergara, que foram fortemente influenciados pelo carnaval e por escolas de samba em suas carreiras”. De acordo com o Jornal do Brasil, que descreve a exposição em uma matéria intitulada “Caretas não entrem; arte de vanguarda no Pão de Açúcar”, as obras presentes eram site-specific, pensadas especialmente para o espaço da exposição e propunham obrigatoriamente a participação do público.

Fernando Pinto recebeu uma recepção calorosa do meio artístico carioca, numa situação semelhante àquela que Leandro Vieira viveu mais de três décadas depois. É interessante notar que, assim como Vieira, Fernando atraiu a atenção pelo talento e por trabalhar com um tema que era caro ao meio da arte naquele momento – um falando sobre a ausência de políticas de demarcação das terras indígenas e o outro com a valorização de identidades populares, pautas sociais e políticas. 

A morte precoce de Fernando, em 1987, interrompeu uma carreira brilhante de um carnavalesco que foi muito importante para o elo entre arte institucional e carnaval. Até hoje ele é o único carnavalesco a ter sido representado por uma galeria de arte.


3) JOÃOSINHO TRINTA - “ALICE NO BRASIL DAS MARAVILHAS”, SESC POMPEIA, 1989


Ainda na década de 1980, Joãosinho Trinta, que já havia sido campeão em oito carnavais no Grupo Especial, fez a exposição “Alice no Brasil dos Maravilhas” para o SESC Pompeia (São Paulo). O recém-criado espaço foi feito pela arquiteta Lina Bo Bardi, com base em preceitos da arte contemporânea, planejado para ser um local ligado à arte e à cultura de vanguarda. 

Croqui para a exposição de Joãosinho Trinta, feito por Cláudio Urbano, em 1989. (Acervo Alayde Alves)


Com criações inéditas dirigida principalmente às crianças, a mostra reúne 42 quilômetros de samambaias de plástico, quatro mil metros de plumantes imitando nuvens, um gigantesco Chacrinha, brilho em profusão de purpurina e brocal, animais gigantescos de pelúcia, centenas de espelhos e 14 aparelhos de televisão, numa instalação fantástica que congrega videoarte, desenho, pintura, computador, literatura, happening, escultura, performance, luz, sombra, cor. Tudo inspirado no universo prodigioso, lúdico e mágico do romance de Lewis Carroll, obra-prima da literatura infantil, cujo título foi muito oportunamente adaptado para Alice no Brasil das Maravilhas (GOMES e VILLARES, 2008, p. 165)

Joãosinho é saudado no evento como “o mais completo e versátil artista brasileiro”, e em entrevista ele explica que sua exposição “é uma autêntica antiexposição, obra aberta e intencionalmente inacabada”. Apesar da carreira no Municipal, Joãosinho, diferentemente de Arlindo Rodrigues, chega a essa instituição sendo saudado primeiramente pelo seu trabalho como carnavalesco (Ratos e Urubus é desse mesmo ano). Assim como Fernando Pinto, ele é recebido com louros de artista vanguardista e adapta a estética carnavalesca ao espaço em que está inserido. Em 1991, Joãosinho desenvolve um enredo homônimo para a Beija-Flor.


4) ROSA MAGALHÃES “SALGUEIRO 90”, PARQUE LAGE, 1990

Rosa Magalhães posa ao lado da escultura de onça na piscina ao centro do prédio da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Fonte: Jornal do Brasil. Foto de Renan Cepede.

Na exposição “Salgueiro 90”, o enredo “Amigo do Rei”, apresentado naquele ano pela escola, se tornou mostra no Parque Lage, reunindo quinze fantasias, quatorze esculturas, além de faixas e estandartes. A carnavalesca Rosa Magalhães explica que “quisemos mostrar que o carnaval carioca começa muito antes do desfile na Marquês de Sapucaí”. Para isso, a mostra incorporou ainda desenhos de figurinos (com amostras de pano), de carros alegóricos e de esculturas, além de centenas de fotos do processo de criação. O público podia ainda ver, em quatro sessões ao longo do dia, um vídeo que mostrava a criação das esculturas, incluindo o corte do isopor e a produção da fibra de vidro. A mostra ocupava salas e o pátio da Escola de Artes Visuais, em cuja famosa piscina boiava uma onça de três metros de altura feita em isopor.

O crítico de arte Frederico Morais é quem escreve o texto de apresentação da mostra, que ainda recebeu ampla cobertura dos jornais, interessados no fato de uma escola de samba ocupar o espaço de vanguarda artística. O texto de Morais exalta a importância de o carnaval ocupar esses espaços dizendo que “A realização desta mostra de Rosa Magalhães [...] na Escola de Artes Visuais, tem entre outros méritos, o de chamar a atenção para este fascinante laboratório de pesquisa que é o carnaval. Seria muito interessante que, vez por outra, os alunos e professores da EAV trocassem as salas de aula pelos barracões das escolas de samba”. 

Fonte: Jornal O Globo, publicado em 30 de abril de 1990. Foto de Paulo Moreira.


Seu texto fala ainda das estéticas de outras escolas e carnavalescos, como Arlindo Rodrigues, Fernando Pamplona, Fernando Pinto, mostrando um entusiasmo do crítico em relação ao que acontecia nas escolas de samba. As palavras usadas por ele no texto, enquanto categorias estéticas eruditas, ressaltam termos relacionados à arte popular – naif, kitsch, barroco. Talvez o subtexto que mais valha a pena notar seja que, diferente de Fernando Pinto e Joãosinho Trinta, que foram aclamados como artistas quando adentraram os espaços de arte institucional, em nenhum momento o texto de Morais atribui a mesma nomenclatura a Rosa.

5) ROSA MAGALHÃES, 21ª BIENAL DE SÃO PAULO, 1991 e QUADRIENAL DE PRAGA, 1991

O Catálogo da 21ª Bienal de São Paulo traz esta imagem com a legenda “Rosa Magalhães – ‘Figurinos e alegorias para Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro’, 1991 (Detalhe)”. Fonte: Foto de Gustavo Bloch.


No ano seguinte, Rosa Magalhães tem nova oportunidade de apresentar o material criado para o Salgueiro em outro espaço de arte contemporânea. A 21ª Bienal de São Paulo clama acabar com as separações e “colocar as artes cênicas em pé de igualdade”, citando a integração de “cenário, figurinos, texto, música e dança” nas artes cênicas europeias. Portanto, o trabalho de Rosa é apresentado em conjunto com os de artes visuais. Os trabalhos foram selecionados a partir de inscrição que ressalta o caráter disruptivo dos artistas “malcomportados, que não tem receio de ultrapassar os limites, ampliar fronteiras, desafiar os cânones reinantes, à procura de resultados que possam satisfazer suas necessidades criativas”.

Rosa levou à exposição o “Me masso se não passo pela Rua do Ouvidor”, que havia ganhado o segundo lugar e um Estandarte de Ouro pelo enredo. Ao lado dos grandes nomes da arte brasileira, foi apresentado o carro alegórico que retratava uma relojoaria da Belle Époque do Rio de Janeiro.

No catálogo, em espaço reservado para a biografia do artista, aparecem suas exposições individuais e coletivas (incluindo a Salgueiro 90), sendo que três desfiles de carnaval (Bumbum paticumbum prugurundum, Sou Amigo do Rei e Me Masso se Não Passo pela Rua do Ouvidor) figuram na seção “Outros trabalhos”. A seção de prêmios traz ainda três menções aos Estandartes de Ouro. O espaço reservado para um texto externo relacionado à obra do artista junto a sua biografia traz considerações de Fernando Pamplona explicando de forma breve a história das escolas de samba e o trabalho de um carnavalesco, sem menções específicas ao papel de Rosa Magalhães dentro da cena. A própria biografia de Rosa não traz as palavras “artista”, “carnavalesca”, “cenógrafa” ou “figurinista”, limitando-se a descrever suas formações e seu trabalho como professora na Escola de Belas Artes da UFRJ e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

Páginas do catálogo da Quadrienal de Praga mostrando algumas fotos dos desfiles de 1990 e 1991 do Salgueiro.


A Quadrienal de Praga é um evento que acontece na República Tcheca, dedicado ao design de performance, cenografia e arquitetura teatral. Apenas dois artistas representaram o Brasil na Quadrienal de 1991 (o outro é JC Serroni, um dos maiores nomes da cenografia brasileira, que representou o Brasil em Praga várias vezes). Rosa é descrita como uma figurinista que trabalha para o teatro, a televisão e o carnaval e sua exposição foi nomeada “Festa de Carnaval”. Sua seção do catálogo conta com um texto escrito por ela, “O que é um ‘carnavalesco’”, no qual a artista fala um pouco sobre como fez as etapas de montagem do “Me masso se não passo pela Rua do Ouvidor”, e um intitulado “Escola de Samba sua evolução”, de Fernando Pamplona, em que ele fala sobre o começo das escolas de samba, no ínicio do século, e atualmente, ressaltando os números de componentes e trabalhadores necessários para o desfile acontecer.


6) LEANDRO VIEIRA, “BASTIDORES DA CRIAÇÃO – ARTE APLICADA AO CARNAVAL”, PAÇO IMPERIAL, 2017

Fantasias apresentadas na exposição, incluindo a de São Francisco de Assis usada pela bateria e a de Curucucu. Ao fundo, é possível ver fotos dos protótipos das fantasias na parede. Fonte: Agência O GLOBO, foto de Leo Martins.

Somente no fim dos anos 2010, o mundo da arte institucional brasileira volta a direcionar sua atenção para o carnaval, com Leandro Vieira se destacando em quantidade de participações. Este é o momento em que novos talentos aparecem nas escolas de samba, chamando a atenção com desfiles classificados como “políticos”. O uso desses temas vai ao encontro da guinada política pós-2013 que toma conta da cena artística brasileira, e, talvez por compartilhar fortemente dessa temática, Leandro Vieira se torne “o rosto” dessa ligação entre carnaval e arte institucional nesse período.

Em 2017, ele realiza a exposição no Paço Imperial, que em muito lembra a “Salgueiro 90” de Rosa Magalhães. Chamada “Bastidores da criação – arte aplicada ao carnaval”, a mostra do carnavalesco leva fotografias, maquetes, croquis, vídeos e fantasias para mostrar o processo de criação de um desfile. O cortejo em questão é o apresentado pela Estação Primeira em 2017, “Só com a ajuda do Santo”, que aborda diferentes práticas religiosas tradicionais de várias partes do Brasil. O enredo contou com o apoio do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na parte da pesquisa, e na ponte entre Leandro Vieira e o Paço Imperial para a realização da exposição, que fez parte das comemorações de 80 anos do Iphan.

Disposição das miniaturas das fantasias exibidas na exposição. Fonte: Rádio Arquibancada, foto de Any Cometti.

A exposição aconteceu no período em que o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella, anunciou o corte de metade da verba das escolas de samba. Nesse contexto, Leandro usou sua exposição como espaço de militância pelo reconhecimento do carnaval enquanto arte e cultura, até convidando o prefeito a “vir aqui na exposição para aprender um pouco do que é carnaval”. Nas muitas entrevistas que concede, ele fala sobre a importância do carnaval ocupar aquele espaço para que os próprios profissionais possam reconhecer o “espírito de arte” no que fazem, critica a visão do carnaval como entretenimento e lamenta que esse espaço não seja ampliado a outros, ao mesmo tempo em que reconhece a importância de sua exposição para “mostrar que o carnaval também pode ocupar esse espaço de arte contemporânea”.


7) LEONARDO BORA E GABRIEL HADDAD, “O REI QUE BORDOU O MUNDO: POÉTICAS CARNAVALESCAS NA ACADÊMICOS DO CUBANGO”, CENTRO MUNICIPAL HÉLIO OITICICA, 2019

Foto de George Maragaia. 

Em 2019, o Centro Municipal Hélio Oiticica recebeu duas exposições, produzidas pelo Carnavalize, sob a curadoria de Leonardo Antan. com obras de carnavalescos. “O rei que bordou o mundo: poéticas carnavalescas na Acadêmicos do Cubango” trazia o desfile homônimo criado por Leonardo Bora e Gabriel Haddad para a Cubango em 2018. Baseado na vida e obra do artista Arthur Bispo do Rosário, o enredo levou as obras de arte do Bispo para o carnaval e a exposição levou para a galeria a carnavalização da obra de arte, por si só uma obra nova. Foram exibidos materiais e vestígios da produção como objetos, figurinos, desenhos e fotografias, entre eles a releitura que Bora e Haddad fizeram do Manto de Apresentação. 

8) “UMA DELIRANTE CELEBRAÇÃO CARNAVALESCA: O LEGADO DE ROSA MAGALHÃES”, CENTRO MUNICIPAL HÉLIO OITICICA, 2019


Foto de George Maragaia. 


“Uma delirante celebração carnavalesca: o legado de Rosa Magalhães” foi uma das exposições que o Carnavalize realizou em 2019. Além dos trabalhos da homenageada, foram convidados artistas cujos trabalhos promoviam releituras ou conexões com a produção de Rosa. O curador Leonardo Antan organizou cinco núcleos temáticos em torno da poética da carnavalesca: “Imaginário viajante”, “Diáspora”, “Afetos”, “Brasilidade” e “O índio é um forte”. Entre os 36 artistas que compuseram a exposição estavam carnavalescos como Leonardo Bora e Gabriel Haddad, Fernando Pamplona, Jack Vasconcelos, João Vitor Araújo e Jorge Silveira, entre outros artistas do carnaval e artistas contemporâneos.

9) “CARNAVAL DE RIO”, CENTRE NATIONAL DU COSTUME DE SCÈNE (FRANÇA), 2021

Adereços e cabeças expostos na França.

O Centro Nacional de Indumentária e Design do Teatro da França possui uma coleção de mais de 10 mil fantasias e 23 mil objetos, sendo um dos maiores museus do mundo a se dedicar à conservação de indumentária do teatro. Durante a pandemia, o professor e pesquisador Felipe Ferreira se juntou à diretora do Centre, Delphine Pinasa, para organizar uma exposição que levou mais de cem figurinos das escolas de samba para a França para apresentar “o maior espetáculo do mundo”.

Com criações de Renato e Márcia Lage, Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, Leandro Vieira, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, Alexandre Louzada, a exposição dividiu-se em 13 salas – uma dedicada ao carnaval de rua (com fantasias de bate-bolas, de bandas e blocos, e dos bailes de máscaras), uma para as roupas de Carmem Miranda, uma para estrutura das escolas de samba (e carnavalescos e enredos), uma dedicada a herança africana, uma intitulada “homenagem aos povos indígenas”, uma para as influências francesas, uma para fabricação das fantasias, uma para cidade do samba, uma para as roupas de porta-bandeira e mestre-sala, uma para alas, uma para bateria e rainha de bateria, uma para baianas e a última para o Sambódromo.



As fantasias eram, em grande parte, recentes, mas algumas de coleções privadas eram antigas o suficiente para não ser possível identificar a que desfile pertenceram. Na lista de escolas representadas figuram grandes agremiações como Acadêmicos do Grande Rio, Acadêmicos do Salgueiro, Estácio de Sá, Imperatriz Leopoldinense, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Unidos de Padre Miguel, Unidos do Viradouro, Beija-flor de Nilópolis, Estação Primeira de Mangueira, Paraíso do Tuiuti, São Clemente e Unidos de Vila Isabel.

 10) As bandeiras da Mangueira e da Beija-Flor no MAM 


Exposição Hélio Oiticica – A dança na minha experiência, 2021, Museu Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foto de Fabio Souza.

Nos últimos anos, alguns museus também têm incorporado obras das escolas de samba em suas exposições coletivas. A “Bandeira Brasileira” de Leandro Vieira (Mangueira, 2019) já esteve no MAM (Hélio Oiticica – A dança na minha experiência, 2021), no MASP (Histórias Brasileiras, 2022), e no Instituto Moreira Salles (Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, 2021). A exposição referente a Carolina Maria de Jesus também esteve no MAR (2022), SESC Rio Preto (2023) e SESC Sorocaba (2022). A bandeira trazendo a inscrição “índios, negros e pobres” foi amplamente divulgada fora do carnaval, como símbolo do desejo de um país diferente em meio à ascensão da extrema-direita. Atualmente, trata-se da obra vinda do carnaval que mais foi exibida. Suas fotos dividindo salas e paredes com cânones da arte brasileira como Oiticica e Abdias Nascimento são um símbolo da proximidade que o carnaval vem conquistando com as instituições de arte.

A Beija-Flor também tem conquistado espaço, e esteve no MAR com a fantasia de baianas “Saluba Rosana” de 2022 (Um defeito de cor, 2022) e no MAM com a bandeira “Por um novo nascimento” do desfile de 2023 (Atos de revolta: outros imaginários sobre independência, 2023). Assim como a recepção da bandeira de Leandro Vieira, as obras de Alexandre Louzada e André Rodrigues correspondem a um apelo da cena artística por temas que lhe são caros (os enredos para os quais as obras foram criadas foram “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor” e “Brava gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”). Mas isso também representa que os desfiles das escolas de samba estão sendo vistos como um local legítimo de produção artística contemporânea nacional. 

Bandeira que fez parte do carro alegórico “Por um Novo Nascimento” (Beija-Flor, 2023) na exposição Atos de revolta: outros imaginários sobre independência, 2023, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Outras muitas questões podem (e devem) ser abordadas a partir disso, como o fato de que essa lista se trata de um punhado de nomes e obras quando comparada à grandeza numérica e criativa do carnaval das escolas de samba, e serem pessoas cujas biografias seguem um certo padrão. E ainda a questão da autoria nas escolas de samba e os carnavalescos brilharem por um trabalho construído coletivamente, a problematização das categorias de arte popular, de artista e de carnavalesco, e até de “Arte de verdade” e quais as relações de poder em torno delas. E até mesmo sobre a validade de “ser aceito” por essas instituições, a partir do retorno que isso efetivamente gera para os trabalhadores da festa e agremiações.

A construção das escolas de samba é complexa e plural, repleta de negociações que garantem a continuidade de uma manifestação que nasce marginalizada e onde cada indivíduo tem também seus próprios objetivos (que podem ou não estar alinhados com objetivos maiores do meio) e é importante que isso seja observado quando tentamos analisar a relação da arte do carnaval com as instituições de arte.


BIBLIOGRAFIA

LEITÃO, Luiz Ricardo. Rosa Magalhães: a moça prosa da avenida. Rio de Janeiro: DECULT, 2019.
GOMES, Fábio; VILLARES, Stella. O Brasil é um luxo: trinta carnavais de Joãosinho Trinta. CBPC, 2008.
ANTAN, Leonardo. Fernando Pinto Maravilha: um ziriguidum tropicalista. Revista Desvio -UFRJ, Rio de Janeiro: 2017, ano 2, n. 3.
MORAES, Debora. LEANDRO VIEIRA, ARTE E CARNAVAL. 2022. Dissertação (Mestrado em Artes) - Instituto de Artes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.











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