#SÉRIEDÉCADA: as 10 melhores comissões de frente do carnaval carioca da década

by - maio 04, 2020


A #SérieDécada traça um panorama de tudo que aconteceu nestes últimos anos, com texto novo todas as segundasquartas e sextas-feiras. A segunda década desse século, iniciada em 2011 e finalizada no carnaval que acabou de terminar em 2020, trouxe muitas reviravoltas e transformações para a folia!

Além disso, nos dias seguintes às divulgações dos textos - ou seja, terçasquintas sábados - um podcast especial será lançado com nossos comentários em áudio sobre os desfiles, os bastidores das escolhas, e as nossas divergências de opiniões!

Como é impossível fazer uma seleção que agrade não só às leitoras e aos leitores, como também aos integrantes do Carnavalize de forma unânime, cada categoria também contará com menções honrosas que por pouquíssimo não entraram na listagem principal.

 Texto: Felipe Tinoco.
Arte e visual: Vítor Melo.

A década começa em 2011, mas foi no carnaval anterior que o “É Segredo” (Unidos da Tijuca, em 2010) balançou como nunca as estruturas da festa. Isso já foi papo aqui no site, em um ensaio dedicado exclusivamente dedicado às comissões de frente! O quesito se transformou, cresceu, inovou, perdeu-se, deu ares de reencontro... A década foi marcada por comissões que ficaram na memória afetiva e coletiva, passearam desde truques de ilusionismo até propostas mais emocionantes, sem falar dos tripés gigantescos que causam discussões. Foi tanto protagonismo dos grupos de abertura que alguns deles foram, inclusive, responsáveis por impulsionar grandes apresentações. Muita coisa aconteceu nos últimos anos e uma série de discussões novas podem (e devem) ser feitas.

No entanto, se estamos aqui para falar de #TOP10, simbora começar que a lista é boa e traz recordações pra lá de especiais sobre as melhores comissões de frente desse período!

Ao clicar no nome das comissões, você será diretamente lançado para um vídeo do YouTube, gravado da arquibancada, de cada apresentação!

(A lista está ordenada em ordem cronológica, NÃO há ranking!)

Unidos da Tijuca, 2011

Se já começamos o texto falando de “É Segredo” de 2010, no ano seguinte, Priscilla Mota e Rodrigo Negri, ou casal segredo, novamente impactaram a Marquês de Sapucaí e encantaram o público, o júri e a crítica. No segundo ano de parceria com Paulo Barros, e já no quarto carnaval seguido em defesa do amarelo ouro e azul pavão, o casal novamente apostou em técnicas de ilusionismo para conquistar a plateia e marcou sua contribuição para os rumos que o quesito tomaria a partir dali. Dessa vez, o recurso mágico foi usado de forma mais brincalhona e descompromissada do que em 2010, ano em que a tensão pelo perfeccionismo da movimentação da troca de roupa, tão necessário para o sucesso da apresentação, aflorava. Com leveza, houve despreocupações em preservar os truques. Por escolha artística, algumas partes da estrutura que permitia os corpos das figuras assustadoras se mexerem para fora do lugar, por exemplo, podiam ser vistas.

Os integrantes da comissão de frente em cima do tripé, momentos antes da queda das cabeças. Foto:Foto: Alexandre Macieira/Riotur.
Divertida, a comissão tinha a figura central de uma lanterninha que personificava o medo no cinema, tema da Tijuca naquele carnaval. A marca da coreografia, porém, eram as quedas das cabeças. O impacto não foi restrito a um momento chave da apresentação; dava-se ao longo de toda passagem. Alternando diferentes movimentações e alinhamentos com quedas e subidas variadas, a coreografia permitia um engajamento gradativo com o efeito das cabeças. O tripé tinha uma estrutura que permitia elevar os bailarinos à altura do júri e para mais perto das arquibancadas, aguçando a percepção sobre a exibição. Nos ensaios prévios ao desfile, a estrutura do tripé travou e teve que ser rapidamente consertada, deixando os componentes lá em cima sob chuva. Medo no cinema e medo no tripé! Felizmente, o resultado na avenida foi irretocável e Priscilla e Rodrigo reforçaram mais uma vez que são mágicos da pista sagrada, capazes de mexer com o público como poucos. Eles estão, inclusive, na nossa lista das personalidades da década!

Imperatriz Leopoldinense, 2011
Quando se pensa na concepção da abertura dos desfiles, há duas grandes possibilidades de estilos de comissões de frente: ou ela sintetizará o enredo, abordando-o de forma ampla, ou ela apresentará um recorte do tema desenvolvido pela escola. Alex Neoral surfou contra a maioria de seus colegas por alguns carnavais da década e se acostumou a preterir as comissões-síntese, apostando naquelas que exaltam uma passagem do enredo, como é o caso da atual apresentação, extremamente charmosa! 

Os médicos brincantes que garatiram um visual colorido e alegre na abertura do desfile de 2011 da Rainha de Ramos. Foto: Raphael David/Riotur.
O artista foi convidado por Rosa Magalhães para preparar a comissão de frente da Imperatriz em 2009, quando debutou à frente do segmento. Após um ano afastado, Neoral fez sua reestreia homenageando os Doutores da Alegria, grupo responsável por alegrar e divertir pacientes em hospitais. Se a coreografia começou de forma séria e linear, a galhofa pegou para ela a responsabilidade de abrir aquele denso carnaval. Assim, as máscaras dos médicos caíam para os narizes de palhaço aparecerem, os leitos de hospitais viravam camas elásticas e estruturas de acrobacias, os figurinos brancos e assépticos se transformavam em outras peças de roupa coloridas e os enfermos se mostravam verdadeiros foliões. Afinal, como propôs a Imperatriz, sambar faz muito bem para a saúde! A criativa e divertida apresentação está mais contemporânea do que nunca.

Unidos de Vila Isabel, 2012

Depois de aparecer na lista de desfiles mais marcantes e melhores sambas na #SérieDécada, a Vila de 2012 dá mais um expediente e surge em outro #TOP10: o das melhores comissões. Marcelo Misailidis é natural de Montevidéu, tem descendência grega e é um dos principais nomes do quesito da festa mais brasileira. Para completar o passeio geográfico, o coreógrafo pousou na Angola para fazer uma excelente apresentação sobre a savana local, com direito à fauna, à flora e uma vibrante e vigorosa dança de homens nativos, que encerravam a exibição ao ritmo do kuduro oioioi.

Os componentes da comissão dançando sobre a pista em uma visão área. Foto: Rafael Moraes/Riotur.
Um engenhoso elemento cenográfico tinha hastes laterais azuis que ora faziam vezes de decoração, ora de árvore, quando erguidas, e ora de rinoceronte. O misterioso animal é símbolo de força e admiração dos visitantes da região. Além disso, os componentes ficavam escondidos sob a vegetação (concebida com macarrões de piscina) e, em determinado momento da coreografia, apareciam divertidos, vestidos de animais. No centro, um tronco com direito a uma componente de onça em situação de caça. O retrato da savana, com suas variadas situações, gerou uma das imagens mais bonitas daquele ano.

Império da Tijuca, 2013
Única representante do Acesso da lista principal, a comissão de frente do Império da Tijuca para o enredo “Negra pérola mulher” tem na dança o seu trunfo e a sua maestria. Após as polêmicas envolvendo a LESGA e o resultado do carnaval de 2012 do grupo precedente ao Especial, a LIERJ foi fundada e outras regras começaram a valer para os desfiles. Uma delas dizia respeito exclusivamente para as comissões de frente da nova Série A: elas não poderiam contar com elementos cenográficos com rodas. Dessa forma, os coreógrafos se viraram em sua criatividade para conceber apresentações marcantes que não dependessem do apoio de nenhum tripé.

Detalhe de um momento da belíssima apresentação campeã da Série A. Foto: Tata Barreto/Riotur.

Literalmente no chão, apelar para outros recursos visuais foi a solução. Se alegorias não poderiam ajudar, a balança se equilibrava ao dar destaque aos figurinos, que passaram a ser as principais ferramentas das comissões da Série A. Logo em 2013, Junior Scapin apostou em belas saias laranjas para produzir impactos visuais na abertura do Império tijucano. Com desenhos variados, o grupo de mulheres não economizou nas movimentações da fantasia. Scapin ainda fez de seu grupo de bailarinas verdadeiras guerreiras ao cruzar a avenida com uma dança energética, recheada de rapidez, marcas do coreógrafo. Como pivô, uma entidade de asas e roupa em tons escuros contrastava com as saias das bailarinas, além de apresentar uma interessante movimentação, parecendo flutuar na avenida. Não só o Morro da Formiga como também todos os espectadores foram aos seus pés.

Acadêmicos do Grande Rio, 2015
É do #aralho! Mais um trabalho de Priscilla Mota e Rodrigo Negri, mais um sinônimo de excelência e preciosismo na lista. Após um casamento muito frutífero na Tijuca, com direito a 3 títulos nos 7 carnavais que estiveram à frente do pavilhão azul e amarelo, os coreógrafos chegaram na tricolor caxiense, colocando um fim na parceria com o carnavalesco Paulo Barros e um início em mais uma jornada de sucesso. Se havia um desgaste artístico na escola do Borel, a mudança de ares pareceu fazer muito bem ao casal segredo diante da criativa comissão de 2015. Ou ainda, se restavam dúvidas de seu trabalho estava na sombra da figura midiática do carnavalesco do DNA, esses questionamentos caíram por terra.

Ao final da apresentação, os pequenos componentes se revelam grandes coringas e formam o nome da Grande Rio. Foto: Marcelo de Jesus/UOL.
Ao retratar o universo imaginativo de Alice, os coreógrafos apostaram novamente no ilusionismo de diferentes formas. Dividida em 3 atos, a apresentação começava com uma interação entre a Rainha de Copas e as responsáveis por seu banquete. Após desaprovação da vilã à comida preparada pelas moças, elas são mandadas à guilhotina, e seus corpos reaparecem pela metade, interligados com as mesinhas da refeição. Uma outra breve disputa dá às caras e 16 pequenos seres lúdicos do baralho se enfrentam de forma cômica, em duplas. Se antes o que era inteiro virou meio, depois, cada par desses baixinhos se revelou um único coringa. Juntos, os 8 formavam o nome da tricolor caxiense, apresentando a Grande Rio. A produção contou com pelo menos 30 componentes para garantir o divertido espetáculo.

Acadêmicos do Salgueiro, 2015

Para falar dos saberes e sabores de Minas Gerais, os carnavalescos Renato e Márcia Lage abriram o desfile do Salgueiro de 2015 de forma monocromática, apostando em tons avermelhados, e retratando os índios Botocudos sob uma perspectiva delirante. O bicho taquara, presente na flora retratada, possui um pó com fortes poderes alucinógenos, gerando distorções das imagens e proporcionando visões com cores fantásticas! Foi nesse tom que a comissão de frente do Hélio Bejani, outro grande nome do quesito, entrou na onda do pó proposta pelos carnavalescos na abertura do desfile e também trouxe para a Sapucaí os primeiros contribuintes da culinária mineira: a população indígena.

Os Botocudos evoluindo na Marquês de Sapucaí. À direita, detalhe para a então presidente do Salgueiro, Regina Celi, quem vibrou muito com a comissão. Foto: Raphael David/Riotur.
Tal qual outros trabalhos de Renato Lage, o casal de carnavalescos tratou de garantir unidade estética entre a comissão de frente e todo o restante da abertura da escola, composta por mestre-sala e porta-bandeira e seus guardiões, por duas alas e pelo lindo primeiro carro. Se o visual demonstrava essa efetiva e impactante harmonização, tematicamente o mesmo acontecia, garantindo mais um sucesso da parceria dos artistas com Bejani. O coreógrafo fez um de seus melhores trabalhos com 15 componentes representando índios Botocudos em trajes de cores vibrantes, assim como eram os movimentos corporais dos bailarinos. O delírio provocado pelo pó, no entanto, não se limitou às tonalidades da apresentação, também proporcionando visões. No tripé que acompanhou o grupo, uma figura indígena virava 180 graus e revelava a borboleta que precede a larva do bicho taquara. O elemento cenográfico também serviu para guardar uma surpresa desdobrada ao longo da exibição: em determinado momento, puxou-se dele um telão de LED flexível, de fácil mobilidade. Junto ao corpo dos integrantes da comissão, o elemento virou rocha, coração vibrante e um manto de uma santa de cocar, no ápice do espetáculo. O truque e a tecnologia foram usados de forma muito pertinente, justificados e servindo ao enredo e à apresentação. O público vibrou junto, e o júri não ficou para trás.

Beija-Flor de Nilópolis, 2016

O diretor do Corpo de Baile do Theatro Municipal também tem dobradinha na lista! Marcelo Misailidis foi sucesso na Vila Isabel e, após, o campeonato de 2013, o coreógrafo migrou para a Beija-Flor de Nilópolis com objetivo de solucionar os maus resultados da agremiação no quesito. Se no primeiro ano do novo comando, em um polêmico desfile em homenagem ao astro Boni, a comissão de frente da Deusa da Passarela não colheu os frutos que esperava, pouco tempo demorou para alçar sucesso. Na homenagem ao Marquês de Sapucaí, figura que dá nome à Passarela do Samba, Misailidis fez sua melhor comissão na escola em que chegou a atuar, carnavais depois, como uma espécie de diretor criativo, ao também comandar o desenvolvimento dos enredos e de encenações ao longo dos desfiles de 2018 e 2019.

Marquês de Sapucaí ao fundo e o componentes vestido como Beija-Flor em destaque. Foto: Tata Barreto/Riotur.
Se já comentamos que o elemento cenográfico que o artista usou para apoio de sua comissão de frente em 2012, na coirmã azul e branca, tinha uma engenhosa estrutura, mais uma vez vemos um tripé seu se reinventar na avenida. Misailidis costuma alinhar o preciso trabalho de marcação e desenho coreográfico com recursos cênicos que se transformam ao longo das apresentações, por intermédio de estruturas tecnológicas que necessitam de estudos aprofundados de engenharia. Aqui, o carro de boi carregado pelos componentes era erguido e se transformava em uma igreja. Quando as portas se abriam, tal qual “a cortina do tempo”, o Marquês aparecia e interagia com um belo tecido cartográfico, gerando interessantes imagens sugerindo a sua característica de desbravador. Ao final da apresentação, os bailarinos colocavam o bico de uma ave ao rosto, e as suas asas de beija-flores eram ativadas com mais um recurso tecnológico. De fato, uma beleza!

Mocidade Independente de Padre Miguel, 2017

É um pássaro? É um homem? É um avião? Não! E nem drone. O que voou no Marrocos da Mocidade foi um aeromodelo produzido especialmente para a apresentação da escola pelo mesmo responsável que anos antes fez drones vestidos de águia para a Portela – com quem a Mocidade dividiu o título em 2017. Alexandre Louzada, carnavalesco da Águia na ocasião e da Estrela Guia de 2016 a 2019, fez a ponte entre o profissional e Jorge Texeira e Saulo Finelon, artistas que assinam a comissão de frente. O trabalho rendeu pesquisas e testes para conseguir gerar um resultado que atrelasse grande impacto visual e leveza, tornando o objeto possível de voar sobre a Sapucaí. O Aladdin voador, aliás, não era a primeira aposta do casal. Como o projeto inicial demandaria grandes cifras, os artistas abriram mão da ideia anterior em dezembro de 2016 e procuraram uma forma alternativa de iniciar o desfile campeão da Mocidade.

O Aladdin da famosa comissão de frente da Mocidade. Foto: Tata Barreto/Riotur.
Aliás, muito se diz que, se a Mocidade foi campeã, muito se deve à comissão de frente, que não apenas conseguiu ótimas notas, como também gerou uma forte empatia na entrada da escola. A visão lúdica do enredo CEP sobre o Marrocos deu o tom da sua apresentação. Beduínos carregavam cestos com tesouros, em fantasias comandadas por bailarinas, que saiam de dentro dos cestos e dançavam na pista. Para protegê-las, os guerreiros perseguiam Aladdin com faca em punho, fazendo-se necessária uma fuga do homem travesso. Méritos de Jorge e Saulo que entenderam que apenas o tapete voador não seria suficiente para contar aquela história: a comissão possuía um bonito e bem executado ballet, além de nitidez em sua narrativa. Os profissionais souberem preparar o ápice do espetáculo ao trazer um outro tapete mágico. Como um skate elétrico, ele deslizou na pista, entrou na coxia e possibilitou a saída impactante da personagem pelo outro lado, voando e revelando o céu de Sherazade. Lá, mais uma estrela brilhou.

Paráiso do Tuiuti, 2018
Patrick Carvalho. Após bem-sucedidas apresentações na Série A e bons trabalhos no Grupo Especial, o artista ainda não havia conseguido conquistar o júri até debutar no Tuiuti. A Sapucaí já tinha olhado com atenção aos seus trabalhos no Grupo Especial, como a selfie de príncipe ou os cadeirantes acrobatas, mas foi trazendo o grito de liberdade que Patrick arrematou geral, sem deixar ninguém para trás. O enredo abordava a história da escravidão, desde as origens da civilização humana e suas manifestações de trabalho compulsório iniciais, até as formas contemporâneas de exploração escancaradas na reforma trabalhista, flertando diretamente com o cenário contemporâneo. A comissão de frente da escola, embora não tenha optado por trazer imagens diretamente associadas ao último recorte do enredo, foi tão forte quanto o final do desfile. Ao abordar a dor, a intolerância, a corrupção e a redenção, acabou como um dos pilares que fizeram daquele cortejo uma manifestação histórica, decisivo para que o Tuiuti fizesse a maior passagem de sua história.

O momento de entrada da histórica comissão ao júri. Foto: Gabriel Monteiro/Riotur.

Ao longo da avenida, nas coreografias de deslocamento, em um trabalho cênico impressionante, os bailarinos interagiam com o público, demonstrando o desespero da condição escravocrata. Esse também era o tom durante a “entrada” da comissão ao júri – movimentação que marca o início da apresentação à cabine de julgadores, na qual se espera início, meio e fim. A partir daí, a dança tomava conta da exibição, até a chegada do algoz com chicote nas mãos. Símbolos da ancestralidade das demais personagens da comissão, enquanto parte do grupo entrava no elemento cenográfico, os Preto Velhos saíam, a fim de respeitar o máximo de 15 componentes aparentes ao público. Em meia-lua, curam as feridas de um dos componentes escravizados e proporciona uma imagem de arrependimento do algoz. Se já estava tudo muito emocionante, o momento de maior beleza acontece quando o elemento cenográfico avança, escondendo os Pretos Velhos que, já em linha reta, são “sugados” pela porta da frente da casa. Enquanto isso ocorre, os demais componentes são novamente revelados de mãos dadas, quando tiram amarras e máscaras de flandres. O movimento desse elemento cenográfico proporciona fluidez e um tom imaginativo para a ação, demonstrando um dos usos mais criativos e eficientes de tripé na história do segmento.

Estação Primeira de Mangueira, 2019
Encerrando a lista das melhores comissões de frente da década, mais uma vez Priscilla e Rodrigo realizam um trabalho redondíssimo e de muito apelo. Depois das passagens por Tijuca e Grande Rio, após realizarem comissões em enredos de homenagem (como Ivete e Chacrinha), enredos temáticos (como medo no cinema e baralho) ou enredos CEPs (como Santos), o casal segredo enfrenta um desafio completamente diferente. Na Mangueira, além do peso de abrirem o desfile de uma enorme instituição cultural e de serem responsáveis por um quesito que não consegue a nota máxima desde 2007 na verde e rosa, ficam diante de um dos enredos mais densos aos quais já trabalharam.

O livro verde e amarelo é substituído pelo verde e rosa e os heróis clássicos do retrato, por índios e negros, na comissão campeã do carnaval. Foto: Raphael Dias.
Para isso, resolvem sintetizar o que o belíssimo samba e o forte enredo defendem, colocando, literalmente, um outro país no retrato senão o hegemônico, disseminado no ensino padrão e apaziguador das lutas das minorias. De dentro do tripé, saem Princesa Isabel, o bandeirante Domingos Jorge Velho, o Marechal Deodoro da Fonseca, o imperador D. Pedro I, o missionário José de Anchieta e o “descobridor” Pedro Álvares Cabral. Em um truque visual, os heróis brancos –  de joelhos – são revelados minúsculos diante da enormidade de índios e negros, que passam a ocupar o lugar das molduras e proporcionam uma das cenas mais lindas daquele carnaval. O livro verde e amarelo é rasgado e substituído por um verde e rosa, carregado por Cacá Nascimento, cantora mirim que surge do elemento cenográfico de forma surpreendente. Erguida, ela finaliza a sucessão de imagens vibrantes dos poucos mais de 2 minutos de apresentação: Presente. Hoje e sempre.


 Menções honrosas

Nesse panorama, podemos observar algumas tendências e mudanças do quesito ao longo dessa década. Não faltaram inovações e momentos emocionantes, mas como nunca é fácil essa seleção, deixamos abaixo alguns outros nomes que por pouco não entraram na seleção principal e também devem ser recordados! A gente lembra que as menções honrosas, tal qual a lista anterior, também não está disposta em forma de ranking, hierarquicamente. Ela leva em consideração apenas critérios cronológicos.

Mangueira 2011 (Morro de alegria e emoção), de Jaime Arôxa;

Imperatriz 2013 (Ancestrais indígenas: a natureza viva), de Alex Neoral;

Caprichosos de Pilares 2014 (Lamento, arte e fé), de Hélio Bejani;

Imperatriz 2014 (O impossível não existe), de Deborah Colker;

Caprichosos de Pilares 2015 (Olha o rapa!), de Hélio e Beth Bejani;

Império Serrano 2016 (África ancestral – culto às divindades bantus), de Claudia Mota;

Imperatriz 2017 (O pássaro sagrado e o tesouro de Ramos), de Claudia Mota;

Grande Rio 2018 (A Grande Rio está no ar! O cassino do Chacrinha vai começar), de Priscilla Motta e Rodrigo Negri;

Estácio de Sá 2019 (A fé que emerge das águas), de Ariadne Lax.

E aí, o que você mudaria? Qual apresentação você sentiu falta? Conte para nós, por nossas redes sociais, qual seu #TOP10 de comissão de frente do Rio de Janeiro no período de 2011-2020! Contribua e colabore, sempre, com a #SérieDécada!

Além dos textos com as listas, o #PodcastDoCarnavalize também retorna trazendo os bastidores de cada escolha, das decisões, do que discordamos e concordamos, um dia após a liberação de cada #TOP10! Os membros do Carnavalize, de quarentena, reviram vários desfiles e votaram pelos 10 destaques de sambas, desfiles, comissões de frente, personalidades… É óbvio que não faltou debate! É conteúdo pra ler e ouvir! Se liiiga e carnavalize conosco!

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